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PROFESSORES
Cadê a Apeoesp? Sumiu quando os professores mais precisam!
Marcella Campos

Nós, professores, estamos sofrendo inúmeras pressões e quem deveria nos defender parece ter sumido: a Apeoesp. Mas o que explica isso, nesse cenário dramático e sensível que vivemos?

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Já são mais de 8 mil mortos em todos país e em São Paulo passa de 3 mil o número de vidas tiradas pela crise sanitária da COVID-19, agravada pela crise econômica. Entre essas mortes, muitos professores, alunos e membros das comunidades escolares.

O governo de Bolsonaro – e dos militares - segue na prática na linha da “gripezinha”, já que em menos de 1 mês o presidente foi em aglomerações apoiar os saudosos da ditadura militar e os que querem “um soldado e um cabo” para fechar o STF e as demais instituições do regime.

Não que o STF, o judiciário, a Câmara e o Senado estejam melhor. Esses estão bem alinhados com o governo no objetivo de fazer os trabalhadores pagarem a crise com seus empregos, seus salários, direitos ou até com a vida. O desprezo pelas nossas vidas é estarrecedor. Não há testes, não há leitos, não há EPIs para os trabalhadores da saúde. Enquanto isso seguem aprovando uma atrás da outra, medidas de ajuste e deterioração das nossas condições de existência.

Aqui em São Paulo, Doria segue sua tentativa de aparecer como o paladino da vida e da razão, o que não poderia ser mais falso. Doria, apesar das alfinetadas que dá na presidência, não perde tempo em apoiar e aplaudir as medidas provisórias da morte, que aprovam em Brasília. São medidas que fazem de tudo, facilitam demissão, premiam patrões com a possibilidade de cortes de salário, tiram nossas férias, 13º e outros direitos trabalhistas. Também não fornece testes massivos e os equipamentos básicos de proteção para aqueles que precisam continuar trabalhando. Está mais preocupado com 2022.

Essa é a situação dos brasileiros neste momento, ter que lutar em duas frentes de batalha ao mesmo tempo. Uma para sobreviver à pandemia e a outra para sobreviver à política de miséria e fome de Bolsonaro, militares, judiciário, Maia, Senado e governadores.

Quando mais precisa de seus sindicatos e entidades a pergunta que os trabalhadores se fazem é “cadê os sindicatos?”. O que podemos afirmar categoricamente é que sumiram só para nós. Para os patrões estão lá, auxiliando nas demissões e cortes de salário. A Força Sindical até criou um aplicativo para o trabalhador calcular suas perdas. Já a CUT, dirigida pelo PT, defende que os acordos coletivos com os patrões que demitem e tiram o sustento é o que dá para fazer nesse momento. As grandes centrais sindicais chegaram a um nível tão alto de cinismo escancarado que em pleno 1º de Maio, Dia do Trabalhador, chamam justamente aqueles que querem tirar nosso couro.

Para a CUT e o PT a aliança com esses setores, ou seja, a aliança ampla que defende Lula, Zé Dirceu e outras figuras desse partido, é prioridade agora para assim desgastar Bolsonaro pensando nas eleições de 2022. Aliança essa que me materializa inclusive nos ataques contra os trabalhadores, com seus governadores também impondo reformas previdenciários em seus estados e essa semana com o PT votando a favor no Senado do projeto que congela os salários dos servidores públicos.

E a Apeoesp nisso tudo? Faz a mesma coisa, fica do lado dos governantes e não dos professores de São Paulo. Até mesmo o 1 de maio, impulsionou junto aos grandes sindicatos, mesmo depois de diversos setores de oposição na diretoria do sindicato terem batalhado para que os professores não integrassem esse ato de conciliação.

Os professores estão vivendo um verdadeiro inferno desde que a quarentena foi decretada por Doria. Todos os dias chegam notícias de professores, seus familiares, funcionários das escolas efetivos ou terceirizados, pais de alunos ou até mesmo alunos, que tiveram suas vidas arrancadas pela falta de testes, leitos e equipamentos de proteção. É insuportável!

E entre um luto e outro são obrigados a se virar para tentar dar algum ensino, atividade e aula no absurdo “ensino remoto” do Doria e Rossieli Soares, secretário de educação. Já se perdeu a conta de quantos aplicativos ineficientes os professores tiveram que baixar em seus celulares para atender a demanda de menos de 10% dos alunos, já que a esmagadora maioria deles não tem computador e em suas casas há apenas um único celular. Mais do que isso, são mais de 700 mil alunos inscritos para receber os míseros R$55,00, para os alunos em situação de pobreza. Nós sabemos que não são “só” 700 mil, como se fosse pouco, que hoje não podem sequer pensar nas suas aulas, já que estão enfrentando as mortes crescentes nas periferias pela COVID, enfrentando a fome, com os pais desempregados ou sem salários. Impossível pensar em um momento mais cruel para Doria ensaiar a privatização da rede pública de ensino e ampliar o ensino à distância.

O assédio moral contra os professores virou praxe. Os professores trabalham horas e horas em frente aos seus celulares e computadores sem ao menos terem uma orientação comum entre Secretaria de Educação, diretorias de ensino e escolas. Trabalham todos os dias desesperados para tentar entender o que devem fazer e com o medo de levar falta e ter desconto em seus salários absurdamente baixos. As professoras mães são as que mais sofrem, já que precisam trabalhar, cuidar da casa, dos filhos e de sua saúde, tudo ao mesmo tempo. Diretores e funcionários seguem tendo que trabalhar nas escolas presencialmente sem qualquer preocupação do governo se eles levarão ou não o vírus para dentro das suas casas, como vimos no relato dramático de um diretor de escola da rede municipal de São Paulo. Centenas de trabalhadores terceirizados das escolas foram demitidos. Milhares de professores contratados sofrem sem salários por serem eventuais ou por terem poucas turmas atribuídas. E tudo que a Apeoesp fez foi pedir ao Doria que incluísse esses professores no cadastro para a renda emergencial de R$600, valor insuficiente para qualquer trabalhador sustentar suas famílias.

Sobre o ensino a distância o que a Apeoesp fez? Lá atrás, há quase um mês, propôs um boicote, mas sem dizer como, a partir de quando e organizar os professores. Depois logo deixou de defender isso, realmente ficou ridículo. Deixou nas mãos de cada professor individualmente a escolha de como encarar o momento. Deixou os professores à própria sorte. No máximo, solta aqueles comunicados de tempos em tempos falando de alguma vitória parcial na justiça, que logo o governo recorre e ganha. Afinal, a justiça não está ao nosso lado. Tem sido rotina há algum tempo que a Apeoesp aposte somente nos mecanismos jurídicos para reivindicar qualquer coisa para a categoria. Tentar impor derrotas judiciais contra o governo é um elemento importante, mas se não está ligado a pressionar política com a categoria organizada já se mostrou inúmeras vezes um fracasso. A reforma da previdência passou, depois de tanto tentarem barrar judicialmente. A Apeoesp deixou para levar a força dos professores para a frente da Alesp muito tarde, mesmo assim, sob forte repressão, os professores mostraram que vencer teria sido possível se a direção do sindicato não tivesse colocado seu centro de gravidade no mandato da Bebel como deputada e nas ações jurídicas.

Nada! A Apeoesp não está propondo absolutamente nada para os professores quando eles mais precisam. Sumiu! Precisamos entender o porquê.

Porque, assim como a CUT e o PT, a Apeoesp que é dirigida por eles aposta em uma absurda trégua com Doria, para colocar todas suas fichas no plano eleitoral em 2022. Bebel Noronha, presidente do sindicato que é também deputada estadual, se dá ao trabalho de gravar uma mensagem de voz para mandar aos associados em seus celulares ou telefones residenciais, dizendo que Doria não enviou nenhum projeto para a Assembleia Legislativa propondo o corte de salários dos servidores. O que Bebel quer transmitir com isso é mais do que “calma” aos professores, mas também dizer que não é preciso levantar a guarda agora. Continuem nos seus celulares tentando descobrir como dar aulas nesse cenário caótico, triste e insuportável que os governos nos deixaram. A Apeoesp decretou trégua à Doria, se retirou de canto e agora observa os professores tendo que se desdobrar para dar conta de tudo.

Já os professores precisam entender sua força e ver que suas vozes podem ecoar as vozes dos milhares de alunos e suas famílias, dos trabalhadores e dos profissionais da educação. Em muitas escolas os professores instintivamente estão se organizando para entregar cestas básicas de alimentos para as famílias mais necessitadas da comunidade escolas, ação que as subsedes da Apeoesp dirigidas pela oposição também tentam dar corpo. Professores organizam reuniões próprias para pensar o que fazer e debater a situação do país.

Nós, do Esquerda Diário também estamos impulsionando comitês virtuais com dezenas de professores de diversas regiões para nos organizar, exigir que o sindicato chame reuniões para pensar um plano de luta para o momento junto aos professores. Exigir que a Apeoesp rompa seu acordo de cavalheiros com Doria, que está se lixando para os professores, e lute por salários a todos os professores contratados. Lute pelo fim do ensino à distância, que é privatização disfarçada e assédio e sobrecarga para os professores. Lute para que nem sequer um aluno matriculado na rede fique sem o auxílio merenda, que inclusive deve ter um valor maior. Basta de trégua com o governo do estado de São Paulo!

Foto: MATHEUS GARZON/METRÓPOLES

 
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