As vezes a hipocrisia da burguesia vem escancarada. Após o debate sobre taxação de grandes fortunas ganhar corpo, o Globo veio se posicionar publicamente em um editorial publicado no dia de ontem, intitulado Sérias decisões a serem tomadas nesta crise.
Sem mostrar dado algum, o jornal afirma que tal medida na Europa "apenas incentivou a fuga de patrimônios" e que até mesmo o neoliberal FHC "mudou de ideia" - o mesmo que após 8 anos na presidência nos deixou com bilhões de dólares em dívidas com FMI e alto desemprego. E ainda cita o economista Milton Friedman, pai dos Chicago Boys, formuladores do neoliberalismo do qual Paulo Guedes faz parte: "Um dos maiores erros é julgar as políticas e programas por suas intenções, em vez de julgá-los por seus resultados."
No entanto, nós sabemos muito bem o que foi o resultado de anos de neoliberalismo: empobrecimento da população, desemprego e destruição do sistema de saúde e a catástrofe econômica e sanitária que estamos presenciando.
Logo depois, o jornal propõe a "fórmula" para resolver o problema dos gastos estatais: atacar os servidores públicos. No entanto, ao invés de apresentar quais resultados tal medida teria, usa justamente um argumento sentimental: "Devem trabalhar contra o fato muito injusto de trabalhadores do setor privado serem forçados pelas circunstâncias a abrir mão de parte do salário, com redução da jornada, para manter empregos e empregadores — uma coisa não existe sem a outra —, enquanto o funcionalismo se mantém como uma das maiores rubricas de gastos da Federação, sem que contribuam para o ajuste de que todos são levados a participar."
Que noção de justiça esse jornal apresenta! É totalmente "justo" que os empresários continuem lucrando e mantendo suas fortunas intactas enquanto demitem e abaixam os salários dos trabalhadores brasileiros, no entanto é injusto que os trabalhadores estatais possam manter seu salário.
Engraçado que um artigo que defenda que as fortunas não devam ser taxadas fale justamente a frase ajuste de que todos são levados a participar. Todos ele deve estar se referindo que todos os trabalhadores, afinal um dos propósitos do artigo é justamente ser contra o ajuste às grandes fortunas. Na maior crise econômica, o império dos Marinho não faz questão de esconder de que lado está.
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