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BELO HORIZONTE
Sem testes e com demissões, Kalil entrega população numa guerra sem armas contra coronavírus
Flavia Valle
Professora, Minas Gerais
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O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, em sua coletiva de imprensa na terça feira (14), indicou o endurecimento das formas do isolamento social em Belo Horizonte e um novo decreto que sairá na próxima sexta-feira (17). Ele reiteradamente faz referência a uma situação de guerra em seus pronunciamentos. Porém, nessa guerra Kalil está ao lado dos capitalistas.

Alexandre Kalil e o governador do Estado Romeu Zema vem implementando linhas opostas frente ao coronavírus. Enquanto o governador mineiro obriga o retorno das trabalhadoras da educação nas escolas http://www.esquerdadiario.com.br/Governador-Zema-quer-destruir-a-educacao-e-alastrar-o-coronavirus, o que promete gerar um número ainda maior de pessoas infectadas antes mesmo do pico da doença no Estado; Kalil acena com medidas mais duras de contenção da população em suas casas e de circulação.

As cidades nas quais as prefeituras flexibilizarem a quarentena, o acesso para Belo Horizonte estará negado com a intervenção da Polícia Militar, segundo Kalil. Além de que passará a ser obrigatório o uso de máscaras. Sobre isso, o prefeito da capital mineira disse que a prefeitura não é obrigada a dar máscaras para a população e que todos tem que se virar usando lenços ou panos: “se não tiver capacete e o tiro tiver comendo pega um pinico e põe na cabeça”, disse.

Quando questionado sobre quem vai garantir a viabilidade da entrada e saída da cidade nessas condições, assim como o fluxo com o uso obrigatório das máscaras, Kalil foi taxativo de que os responsáveis serão a Polícia Militar e Guarda Civil. Instituições que foram elogiadas diversas vezes por Kalil em detrimento de uma referência sequer às trabalhadoras da saúde que são as que realmente estão salvando vidas.

Toda essa "preocupação" de Kalil com a saúde dos mineiros é desmascarada quando ele joga a responsabilidade para a população, não garantindo sequer máscaras que é o mínimo, deixando trabalhadores a sua própria sorte. Ainda mais em um momento de atraso de pagamento dos funcionários públicos, demissões nas empresas privadas e incertezas para os autônomos e informais. Quando os trabalhadores estão tendo que escolher qual conta pagar e diminuir a comida na mesa. Além disso, o privilégio nas instituições da polícia para resolver essa crise, e não das trabalhadoras da saúde junto com toda população, mostra que a perspectiva da militarização e da repressão está na ordem do dia de Kalil.

Soma-se a isso uma grande dose de demagogia de Alexandre Kalil quando diz que ele optou pela ciência e pela tecnologia. Isso porque ele enfrenta o coronavírus sem a testagem massiva da população e o mapeamento da população infectada. O Brasil é o 14º no ranking dos países com mais casos de coronavírus no planeta. E contraditoriamente é o que menos testa entre todos, ficando atrás de países como Irã que testa dez vezes mais a população que nosso país. Ou seja, estamos numa guerra contra o coronavírus, mas se depender de Kalil seguiremos sem as armas para combatê-lo.

A situação da saúde de BH é extremamente preocupante. No início da crise, Kalil dizia que o ideal era que a capital tivesse 4000 leitos. A situação atual, como informada pelo comitê de gestão da crise de Kalil hoje, é que em BH existem apenas 309 leitos clínicos sendo que 279 estão ocupados; e 109 leitos de CTI (que são os que podem atender casos graves de coronavírus) sendo que 21 estão ocupados. Uma das provas dessa situação alarmante está no próprio Hospital Risoleta Neves, em que 15% dos trabalhadores da instituição estão infectados pelo coronavírus, revelando muitas denúncias em diferentes hospitais do município e do Estado que estão sem EPI’s na quantidade suficiente.

Sem tomar medidas drásticas de manutenção da renda e dos postos de trabalho da população Kalil disse também que: “prefiro 10 mil desempregados do que 50 mil mortos”, querendo nos convencer que precisamos escolher entre viver ou entre ter comida em casa e condição de pagar as contas. Uma repetição da mesma ideia proferida pelo presidente da Argentina Alberto Fernández que é responsável pela repressão de trabalhadores que são agredidos pela polícia na Argentina ao defenderem seus salários e seus postos de trabalho.

Enquanto as empresas estão descarregando a crise nas costas dos trabalhadores e são milhões de trabalhadores precários que tem que expor sua vida ao risco da contaminação pra conseguirem manter alguma renda, populariza-se a ideia de que “se ficar a renda aperta se correr corona come”. Tanto assim que Kalil já acenou que a prefeitura pode ter queda de até 1 bilhão em sua arrecadação, o que representa 12% do orçamento da prefeitura. E que nessa situação “todo mundo vai levar porrada”, ele diz.

Porém, os trabalhadores e o povo são os principais perdedores dos últimos anos de neoliberalismo que gerou lucros astronômicos para grandes monopólios como a Vale e os grandes bancos. E agora enquanto os governantes tomam medidas drásticas para salvar bancos, facilitar demissões e a diminuição do salário, os trabalhadores e o povo são os que mais pagam novamente a conta da crise.

Os trabalhadores e o povo que tem que estar a frente das decisões acerca das medidas emergenciais para enfrentar a pandemia e a crise econômica, não os governantes golpistas da direita e os capitalistas. Contra os governos de Zema, de Bolsonaro e os militares, não podemos ter nenhuma ilusão em Kalil, no STF golpistas e nos governadores que governam com repressão aos trabalhadores.

Na contramão disso, partidos como o PCdoB da deputada Jô Moraes e do vereador Gilson Reis apoiam Kalil como recém apareceu em nota pública. Não surpreende depois que Flavia Dino, governador do Maranhão, deste mesmo partido, defendeu Mourão até 2022! O PT e o PCdoB apostam numa falsa unidade nacional contra o coronavírus e por essa política negam qualquer protagonismo dos trabalhadores serem sujeitos da política. Em nota pública das centrais, pediram para que o Congresso golpista e corrupto de Rodrigo Maia assumisse o protagonismo frente à crise. Os partidos e os sindicatos que depositam em Kalil, Maia e nos governadores golpistas uma alternativa montam uma verdadeira armadilha para o povo e para os trabalhadores.

As centrais sindicais como CUT e CTB, que dirigem importantes categorias como metalúrgicos, professores, correios, saúde etc, não podem permanecer como instrumentos desses velhos atores que sequestram nossos direitos. Ao contrário disso, as trabalhadoras da saúde do Hospital João XXIII mostram o caminho, mostrando que é pela luta de classes que poderemos garantir nossas vidas e nossos direitos. Contra esses governos que querem fazer os trabalhadores escolher morrer de fome ou de coronavírus tem que haver uma batalha que ataque os lucros para defender a vida, os empregos e a renda da população.

É urgente que além dos que pagam tarifa social, que as contas da Cemig e da Copasa sejam suspensas durante o período de calamidade pública, para toda população. A renda complementar do Estado e município ao auxílio emergencial deve chegar a dois mil reais, como mínimo digno para uma família se sustentar em meio à pandemia. Além de liberar os hospitais privados sem custos pra população, pois todo sistema saúde privado tem que estar sob controle do SUS e administração de seus trabalhadores.

Os sindicatos e os partidos da esquerda devem cobrir de solidariedade a luta das trabalhadoras do João XXIII como um grande exemplo a ser seguido em outras categorias. E batalhar por um plano de emergência frente à crise sanitária e econômica, que passe por essas batalhas. Assim como a urgente defesa dos empregos, da renda e da vida dos trabalhadores, por testes massivos, nenhuma redução salarial, uma lei municipal que proíba as demissões. É urgente que os trabalhadores possam contar com seus sindicatos na defesa dos reais interesses dos trabalhadores e que façam os capitalistas e empresários pagarem pela crise com a taxação das fortunas, o fim da isenção fiscal o fim do pagamento dos títulos da dívida pública.

 
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