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USP
ENTREVISTA: “CAELL e CAPPF vão seguir defendendo os estudantes pobres e os trabalhadores contra a crise”
Redação

Entrevistamos Giovana Maria, diretora do CAPPF (Centro Acadêmico Professor Paulo Freire) e Lara Zaramella, diretora do CAELL (Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários) sobre as iniciativas que as entidades vem tendo em meio à crise do coronavírus e os impactos que a crise tem na USP.

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Esquerda Diário: Lara, Gi, estamos passando por um momento de muitas transformações fruto de um aprofundamento da crise econômica e política decorrente do coronavírus. Como vocês estão vendo esse momento?

Lara: Então, realmente tem sido um momento de transformações muito profundas que vem escancarando cada vez mais a podridão desse sistema capitalista. É extremamente revoltante ver todos os dias o número de mortes pela doença aumentando em diversos países. São milhares de pessoas perdendo suas vidas, familiares, amigos, em condições absurdas. O desemprego e a miséria também vem aumetando a cada dia e com o real abandono dos governos, milhões pelo mundo vão sendo destinados a fome e a carestia de vida. Na juventude essa crise tem tido um impacto muito grande. Para uma parcela de nós que segue trabalhando para conseguir sobreviver, por um lado existe o medo da contaminação e muitos vivem com familiares que sao grupo de risco, e por outro, nos postos de trabalho mais precários como telemarketing e mesmo os de aplicativos de delivery, rappi, uber e etc, os patrões não disponibilizam o mínimo de materiais de prevenção como álcool em gel e máscaras pra que se possa trabalhar em segurança. Para a parcela que está isolada em casa, o sentimento de revolta é igualmente grande, mas ao mesmo tempo temos visto que por estarmos isolados, atomizados, muitos tem sofrido uma sensação de impotência frente ao que está acontecendo. Frente a isso, todos os transtornos psicológicos que já vinham crescendo enormemente na juventude fruto da crise capitalista que é anterior ao coronavírus, tem aumentado muito, com milhares de jovens sofrendo seja em suas casas, seja porque são obrigados a seguirem trabalhando, com ansiedade e depressão. Nós, desde os centros acadêmicos de Letras e Pedagogia, viemos tentando promover iniciativas que possam servir de apoio a que os estudantes enfrentem essa situação de maneira coletiva e não individual. Na Letras por exemplo, estamos organizando um sarau virtual no próximo dia 17/04 para que possamos ter um espaço de confraternização que esteja a serviço justamente de enfrentar este sentimento de impotência que o isolamento impõe.

Gi: Sim, inclusive porque já vimos diversas vezes o potencial que a juventude pode ter para sacudir o país, ano passado isso ficou bastante claro com os levantes que aconteceram nas universidades. De fato, como a Lara colocou, é muito revoltante ver essa situação que estamos vivendo. Num país como o Brasil, que possui milhões na pobreza, ainda estamos por ver os impactos que a crise pode causar aqui. Isso porque como já ficou bem claro, os governos não se importam com as nossas vidas. O Bolsonaro, que odeia as mulheres, os negros, os indígenas, os LGBTs, a juventude e os trabalhadores, está com uma linha totalmente assassina, de querer salvar o lucro dos empresários a todo custo, mesmo que custe dezenas de milhares de vidas, e ainda usa, para este objetivo, das condições de vida extremamente precárias dos trabalhadores informais, como forma de fortalecer seu discurso genocida. Por outro lado, os militares que estão no governo tentam passar um discurso mais racional, e junto com o congresso e os governadores defendem a quarentena e o isolamento indiscriminado, mas tão pouco se importam com a vida da população. Não oferecem o número de testes necessários para que se possa saber quem são os infectados e fazer um isolamento consciente, ao mesmo tempo que não são disponibilizados mais leitos, respiradores e tudo que é necessário para combater a pandemia. Por isso já viemos colocando uma série de vezes que o Fora Bolsonaro também tem que ser pelo fora Mourão e os militares, ao mesmo tempo que não podemos ter nenhuma confiança no Doria, no congresso e no STF.
Na perspectiva do que a Lara colocou, nós do CAPPF vamos organizar na próxima semana uma live com uma professora da faculdade para conversar mais sobre essa situação e os impactos disso na Educação, inclusive sob o governo Doria que vem precarizando desde sempre a vida dos professores. Também vamos sair com um boletim online do CAPPF que traga entrevistas com os professores, artes de estudantes que queiram participar e artigos mais políticos que possam discutir o papel das universidades frente a crise.

ED: Temos visto aqui no Esquerda Diário uma série de denúncias sobre a situação da USP em meio a crise do coronavírus podem contar um pouco pra gente como está a universidade?

Lara: Então, a situação aqui na USP tem sido bastante expressão dos desafios que estão colocados no conjunto do país. O Reitor da universidade, Vahan Agopyan, recentemente saiu com um comunicado à comunidade universitária bem cínico e mentiroso que se gaba de como as coisas por aqui tem funcionado normalmente, com 90% das disciplinas sendo oferecidas a distância. Para nós do CAELL essa posição do Reitor demonstra a política absurda que tem acontecido em relação ao oferecimento do ensino à distância, que sabemos que é algo que para além de precarizar muito a qualidade da nossa educação, é uma prática elitista, pois exclui boa parte dos estudantes pobres da universidade que não tem acesso à internet em suas casas e que, para fazer os trabalhos e atividades acadêmicas em tempos normais, dependem da estrutura que a universidade oferece e, com os prédios fechados, esses estudantes não estão tendo como realizar a ampla maioria das atividades oferecidas, ou simplesmente, diante de todas as mudanças na realidade, muitos estudantes não têm condições de seguir o curso “normalmente” em casa, seja porque são mães cuidando de seus filhos, seja por conta de problemas psicológicos ou porque seguem trabalhando. Frente a essa situação de continuidade do semestre via online, nós do CAELL organizamos uma série de iniciativas para barrar essa prática que muitas faculdades vêm adotando. Organizamos em primeiro lugar uma nota pública de exigência a que a direção da nossa faculdade se posicionasse contrária à essa prática incentivada pela reitoria e a partir disso, fizemos uma live com dois diretores do centro acadêmico e com a participação de uma professora da Letras, a Vanessa Monte, como forma de denunciar essa situação e ampliar o debate sobre. Também assinamos e difundimos um abaixo-assinado organizado por um grupo de calouros do curso que se posiciona frontalmente contra o EaD. Depois disso, buscamos organizar uma reunião virtual aberta com os estudantes para que pudéssemos discutir e tirar medidas conjuntas do que fazer em relação a isso, essa reunião contou com mais de 50 estudantes e tiramos algumas ações que estamos buscando implementar, como reuniões entre professores, estudantes e a própria diretoria que segue negando o diálogo.

Gi: Sim, essas iniciativas têm sido bem importantes para levar essa discussão ao conjunto dos estudantes, muitos têm sofrido com as consequências da adoção do Ensino à distância. Nós do CAPPF organizamos um canal de denúncias para que os estudantes da Faculdade de Educação tivessem uma forma de escancarar essas consequências absurdas que essa prática tem causado. Chegaram uma série de denúncias que colocavam como principalmente os estudantes que trabalham não estão conseguindo acompanhar as aulas online, assim como mães, que estão tendo que cuidar de seus filhos em casa não tem tempo para ler os textos e assistir às aulas. Chegaram inclusive denúncias de estudantes que estão tendo que cuidar de seus pais e familiares que estão com coronavírus, uma situação extremamente dolorosa, e que por isso estão com inúmeras dificuldades de acompanhar as atividades. Tudo isso demonstra como essa política da Reitoria tem sido discriminatória com os estudantes mais pobres e vulneráveis em meio à crise. Isso também porque a intenção mais de fundo dessa burocracia universitária é de ampliar a precarização do ensino e aprofundar essa prática de EAD para momentos para além do isolamento, adotando um modelo de ensino muito comum nas universidades privadas, que, como sabemos, são mais precarizadas. Essa política se mostra ainda mais absurda frente ao fato de que na moradia estudantil da USP, no CRUSP, não é disponibilizado wi-fi nos apartamentos, ou seja, todos os estudantes que moram na universidade estão sendo privados do direito de ter acesso aos conteúdos que estão sendo dados.

ED: Vimos aqui no Esquerda Diário relatos da situação dos moradores do CRUSP. Podem contar um pouco mais sobre isso e como o CAELL e o CAPPF tem agido frente a essa situação?

Lara: Nossa, a situação dos moradores do CRUSP é absurda. Estão completamente abandonados pela Reitoria em meio a pandemia. Muitos não estão tendo acesso à alimentação adequada porque as marmitas que estão sendo oferecidas não são para todos os moradores e nessa situação quem mais sofre são as mães do CRUSP, que não estão recebendo comida suficiente para alimentar seus filhos. Frente a isso, nós do CAELL e do CAPPF temos exigido que a Reitoria precisa garantir alimentação para todos os moradores do CRUSP, através da distribuição de marmitas para todo mundo, vale alimentação, da disponibilização do estoque de comida dos restaurantes universitários para os que estão na moradia e da reforma imediata das cozinhas da moradia que estão em uma situação totalmente precária e praticamente inutilizáveis para cozinhar qualquer coisa. Também exigimos a disponibilização imediata de wi-fi na moradia, atendimento psicológico para os que estão no isolamento e todo o auxílio que seja necessário para as mães que estão com seus filhos na moradia.

CONFIRA O VÍDEO:

Gi: Sim, a situação do CRUSP é extremamente humilhante para os moradores. A partir disso temos divulgado muito pelos centros acadêmicos uma vaquinha organizada pelas mães que moram lá pedindo doações para conseguir enfrentar essa situação e gravamos no CAPPF um vídeo que coloca a situação absurda das cozinhas e das salas de estudo da moradia. Isso porque apesar das mentiras da Reitoria, os moradores do CRUSP sequer estão tendo acesso a equipamentos de proteção como álcool em gel, máscaras e etc e, como de costume, essa situação se estende também aos trabalhadores terceirizados que ainda estão trabalhando na universidade.

ED: Recentemente soltamos uma matéria sobre a morte de um trabalhador terceirizado que era grupo de risco e estava sendo obrigado a trabalhar. Como está a situação dos terceirizados na universidade?

Gi: A gente sabe que os trabalhadores terceirizados sempre são os mais prejudicados dentro da universidade, por estarem nos postos de trabalho mais precários, com menores salários e piores condições. Isso frente a crise da Covid19 tem se agravado muito e fica claro a partir do fato de que são os únicos que tem que seguir trabalhando mesmo neste momento crítico de contaminação da doença. O Manoel, trabalhador que faleceu, tinha mais de 70 anos e como os demais terceirizados estava sendo obrigado a trabalhar e pagou com sua vida por isso. Na mesma semana, Carlos Sérgio Castro Silva, conhecido como Viola, também faleceu da Covid19. Ele era trabalhador da EACH e por muitos anos trabalhou no bandejão. A juventude Faísca e o Movimento Nossa Classe organizaram um vídeo em memória desses trabalhadores que tiveram suas vidas tão cruelmente tiradas fruto do descaso dos governos e da reitoria.
O CAELL e o CAPPF, desde o primeiro momento em que encerraram as aulas presenciais na universidade, organizaram um abaixo-assinado exigindo que os trabalhadores efetivos e terceirizados tivessem os mesmos direitos dos professores e estudantes e pudessem ser liberados sem corte de salário e sem nenhuma demissão.

CONFIRA O VÍDEO:

Lara: Esse abaixo-assinado foi muito importante para mostrarmos para os trabalhadores que estamos e sempre vamos estar ao lado deles para defender seus direitos. Inclusive fomos em várias unidades de trabalhadores levando o abaixo-assinado e apoiando ativamente essa reivindicação e fizemos uma intervenção no restaurante universitário central contra a discriminação que estava acontecendo. Estamos organizando também um canal de denúncias para esses trabalhadores terceirizados que são obrigados a seguir trabalhando nesse momento para que essa situação possa ser escancarada e que a reitoria e as empresas terceirizadas denunciadas. É absurdo o que os governos estão fazendo, tanto Bolsonaro com sua linha negacionista e assassina de subestimar a Covid19 e usar da precariedade de vida dos trabalhadores informais para defender que os empresários sigam lucrando, como também o governo Doria, o congresso e os militares que estão assumindo à frente da gestão da pandemia, que estão defendendo o isolamento, mas não disponibilizam nem investem em testes massivos para garantir a segurança dos que continuam trabalhando para fazer a sociedade funcionar e sequer garantem equipamentos de proteção para os funcionários da saúde que estão dando o sangue para salvar vidas. Isso tem se expressado no próprio Hospital Universitário.

ED: Podem contar um pouco pra gente como está a situação do Hospital Universitário?

Gi: Nossa, o HU está numa situação absurda. Para começar, desde o início da crise os trabalhadores que são grupo de risco não foram liberados, o que coloca em risco a vida de dezenas de trabalhadores do Hospital. Somado a isso, a Reitoria e a Superintendência do Hospital, se recusam a contratar novos funcionários, demanda extremamente necessária e que precisa ser realizada imediatamente para que seja possível atender a população. Para completar uma siuação que já é insustentável, não são oferecidos equipamentos de proteção individual para o conjunto dos funcionários do Hospital, que estão sendo obirgados a reutilizar por dias a mesma máscara, colocando aqueles que seguem trabalhando para salvar vidas em condições de contaminação absurdas.
Lara: Para além desses absurdos que a Gi relatou, não tem testes para os funcionários e nem para a população. Frente a isso, fizemos uma campanha de fotos por Testes Massivos Já!, colocando a importância dessa reivindicação que na prática é a única forma de prevenção efetiva ao vírus. E, desde os centros acadêmicos, já nos posicionamos pela disponibilização imediata de EPIs para os funcionários, liberação dos que são grupo de risco e contratação emergencial de novos funcionários para o Hospital, inclusive para que ele possa atender a população do entorno da universidade, da São Remo e das comunidades próximas.

ED: Inclusive sobre isso, vimos aqui no Esquerda Diário que vocês organizaram ações de doações na São Remo, comunidade próxima da USP, como foi isso?

Gi: Então, a gente sabe que para os trabalhadores das favelas a crise do coronavírus tem deixado milhares sem emprego, comida e numa situação de miséria extrema. É revoltante isso, ainda mais frente a demagogia que o Bolsonaro está fazendo com a disponibilização daquele auxílio emergencial, que sequer foi disponibilizado para a maioria dos que precisam e disponibiliza R$600, valor muito inferior ao necessário para sobreviver. Na São Remo isso tem se expressado muito e frente a essa situação o CAELL e o CAPPF se somaram a uma iniciativa dos moradores da comunidade de montar kits de higiene e distribuir esses kits pelas casas para ajudar esses trabalhadores que estão abandonados pelos governos.

CONFIRA O VÍDEO:

Lara: Sim, fomos lá no último sábado (04/04) para ajudar a montar os kits de higiene e depois no dia seguinte fizemos um chamado aos estudantes que quisessem ir com a gente distribuir esses kits. Agora nessa próxima semana vamos novamente para distribuir cestas básicas e seguiremos nos incorporando nessas iniciativas e colocando nossas entidades a serviço de ajudar os trabalhadores que estão nesta situação de extrema vulnerabilidade nesse momento. Para nós todas as entidades estudantis da USP deveriam estar promovendo iniciativas como essa, inclusive o nosso DCE, que soltou um relatório absurdo defendendo o ensino à distância, mas isso podemos deixar para outra conversa.
O que é certo é que o CAELL e o CAPPF, junto com a juventude Faísca e os comitês do Esquerda Diário na USP, vamos seguir batalhando contra a situação absurda que se encontram os estudantes do CRUSP e os trabalhadores da universidade nesse momento e colocando o peso das entidades estudantis onde estamos para que a universidade seja colocada a serviço de combater essa crise e garantir a vida dos estudantes, trabalhadores e do povo pobre que sabemos que são os que mais estão sofrendo com ela.
O CAELL e o CAPPF vão seguir em defesa dos estudantes pobres e dos trabalhadores no combate a essa crise.

Gi: Sim! Chamamos todos a seguirem acompanhando nossas iniciativas, seguindo nossas páginas no instagram e no facebook e nos colocamos abertos a ideias, propostas e comentários para que possamos seguir enfrentando essa crise em defesa da vida dos estudantes e trabalhadores da universidade.

CAELL:
Facebook: facebook.com/uspcaell
Instagram: @caell_usp

CAPPF:
Facebook: facebook.com/InfoCAPPF
Instagram: @cappf2020

 
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