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CORONAVÍRUS
Subnotificação em Porto Alegre: 240 casos, mas 11430 pacientes com problemas respiratórios
Guilherme Costa
Renata S
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O boletim divulgado pela prefeitura de Porto Alegre, em 04/04, apresenta alguns números alarmantes sobre a situação do coronavírus, ao mesmo tempo em que indicam possível subnotificação dos casos de portadores da doença na cidade.

Até o momento em que escrevemos essa matéria, no dia 04/04/20, a capital gaúcha contabilizava 240 casos confirmados de COVID-19, 312 casos em análise e 4 óbitos, segundo dados da prefeitura.

Junto a estes dados, é divulgado também um aumento no número de atendimentos em serviços de saúde referentes a quadros gripais e demais sintomas respiratórios, os quais teriam passado de 4791 em março de 2019 para 11730 no mesmo período deste ano, um aumento de cerca de 122%. Não é possível saber ao certo se todos estes atendimentos são atribuíveis a pacientes infectados pelo coronavírus, mas certamente se traduzem como um reflexo da pandemia sobre o nosso sistema de saúde. Veja abaixo gráfico publicado pela própria prefeitura:

Porém, como justificar um aumento tão significativo de atendimentos de síndromes gripais em meio à pandemia, quando olhamos para o número de casos confirmados de COVID-19 na cidade de Porto Alegre? Até o momento, temos 240 casos, porém quase 7000 atendimentos a mais do que o normal, tanto em serviços de baixa complexidade como nos de alta, o que inclui hospitais e internações em UTIs. Logo, esse aumento não é apenas de atendimentos, mas também de doentes. É evidente que há um enorme número de casos não notificados, indicando que a pandemia em Porto Alegre está na marca dos milhares e não das centenas.

Essa subnotificação é reflexo da falta de testes diagnósticos, e nos impede de ter uma noção precisa do número real de casos e consequentemente responder à pandemia nos termos necessários. Nesse sentido, a subnotificação acaba servindo como uma política de Estado na crise atual, na medida em que subestima os números totais de doentes e contaminados levando a uma suposta necessidade menor de investimentos públicos em saúde e uma falsa impressão de que as medidas até então bastante brandas do governo estão realmente surtindo efeitos positivos no controle da epidemia, quando na verdade a extensão desta está sendo criminosamente mascarada.

Até poucos dias atrás, o Brasil era um dos países que menos havia realizado testes diagnósticos para COVID-19 no mundo, não pela falta de casos suspeitos, mas pela falta de testes em si. E mesmo após as orientações frequentes da OMS para realização de testes em massa e os exemplos de países que adotaram essa estratégia e que conseguiram combater a primeira onda da pandemia com relativo sucesso (Coreia do Sul, por exemplo), houve um atraso significativo na tomada de uma atitude em favor de tais orientações e exemplos.

As promessas de milhões de testes levaram semanas não só para serem feitas, como também para serem cumpridas, sendo que apenas nesta semana foi iniciada a distribuição da primeira leva de testes rápidos para os estados. Até então, apenas 54 mil testes haviam sido distribuídos, não se tendo informação sobre quantos destes foram realizados ou não.

Além disso, devido ao aumento na demanda dos laboratórios de análise clínica, os trabalhadores destes locais encontram-se extremamente sobrecarregados, fazendo com que os resultados levem até 15 dias ou mais para serem liberados. Um exemplo disso é que até dia 1º de abril 16.000 testes ainda estavam represados aguardando análise e liberação, conforme declaração do Secretário estadual de saúde de São Paulo. Temos poucos testes, e mesmo com a distribuição prevista para as próximas semanas, não temos capacidade suficiente para analisá-los com a rapidez que (esperamos que) serão feitos. Porém ainda mais do que ter estas incertezas é não ver um interesse das governanças em resolver este impasse de forma eficaz, a fim de garantir a saúde e a segurança da população, tanto dos que vêm a adoecer quanto dos que trabalham na linha de frente nesse enfrentamento.

O descaso da prefeitura de Porto Alegre, sob comando de Marchezan, vai no mesmo sentido. Há relatos de trabalhadores da saúde denunciando o descaso da prefeitura referente ao não recebimento de EPI’s suficientes ou orientações de como usá-los, ou até mesmo de trabalhadores que apresentaram sintomas gripais e não foram testados. Essa situação é urgente e precisa mudar.

Até o momento a promessa de 5 milhões de testes não passou de palavras ao vento de Bolsonaro, e agora estamos no escuro. A subnotificação vai implicar em menores investimentos em saúde, bem como reduzir os números reais a fim de avançar no plano de “normalização” de Bolsonaro, onde supostamente a pandemia estaria sendo combatida. Mas as pessoas estão sendo infectadas de fato e não estamos contabilizando.

Precisamos urgentemente oferecer testes diagnósticos em grande quantidade e de forma inteligente para saber de fato quantas pessoas estão infectadas hoje, aumentar os investimentos na saúde pública, mais leitos de UTI, hospitais preparados, aparelhos de ventilação mecânica suficientes, e EPIs (equipamentos de proteção individual) a fim de garantir a segurança dos trabalhadores que se encontram na linha de frente e diminuir a transmissão.

Muito mais do que medidas pontuais e dados corretos, exigir tais soluções neste momento é exigir condições mínimas para a manutenção de nossas vidas, é ir além da simples, porém necessária, solidariedade para demandar ações concretas que coloquem a vida de nossa classe como prioridade. Exigir essas demandas básicas é o primeiro passo, na verdade, no combate ao coronavírus.

 
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