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CORONAVÍRUS
Mal-estar no capitalismo e COVID-19: o Trotskismo como horizonte de vitória
Rosa Linh
Estudante de Ciências Sociais na UnB
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“O instante do despertar é o instante mais perigoso do dia” – bem disse Kafka em O processo. A sensação de ter de ir ao trabalho dia após dia, encher a barriga vazia, tirar coragem de onde pode parecer não haver nenhuma, estar na linha de frente com um vírus fatal à espreita – nada como o cotidiano do capitalismo parasita. As trabalhadoras e trabalhadores no capitalismo estão fadados a uma vida de trabalho fatigante; acordamos mortos todos os dias ao sair da cama: ela parece nos sugar, nos tirar todas as forças, contudo a fome fala mais alto, a miséria fala mais alto – o grito da necessidade é insuportável. Tudo isso só se intensifica com o novo coronavírus.

A sensação de não se encontrar em absolutamente nada naquilo que se faz diariamente cria podridão por dentro – vender a força de trabalho, desperdiçar tempo de vida para enriquecer meia dúzia de burgueses pela necessidade de um salário miserável – eis a exploração injustificável de nossa época. Os quarentenados não são diferentes: trancados em cadeias ambulantes, lutando contra si mesmos, na miséria do possível. A vida no capitalismo nos pressiona a esconder nossos traumas o mais fundo possível, por isso estar de frente a si mesmo é, por vezes, fatal. A quarentena sem testes massivos, distópica e anticientífica é o produto de uma realidade que não oferece horizonte, só depressão.

“Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso” – bem disse Kafka em A metamorfose, como se toda a ilusão, todo o entorpecimento – seja do Rivotril, seja da mídia – fosse capaz de confundir completamente nossa própria percepção de si. O corpo, a existência, é uma mera carne de segunda – e nós, trabalhadores, não temos nada senão nossas carcaças esfoladas, cansadas e deprimidas. E é justamente aqui que se revela a potência da classe trabalhadora: a nossas carcaças esfoladas! A burguesia precisa fazer apodrecer o máximo possível nossos corpos, nossas vontades – mas ela não pode negar um fato irrefutável: somos nós que produzimos, eles precisam de nós para lucrar!

Sim, estamos tomando anti-depressivos para aguentar a falta quase completa de perspectiva, de vontade na vida; sim, estamos constantemente postos em condições irremediavelmente revoltantes – apenas um ente inerte numa multidão prestes a implodir – nas rodoviárias e metrôs lotados, no chão das fábricas às mãos calejadas, nas monoculturas escaldantes e quase infinitas, nas saletas sem sol cheias de burocracia e técnicas inúteis. Sim, estamos permanentemente encarando calados uma situação absurda de espalhamento de um vírus letal, com respostas insuficientes e anti-pobres dos governos a nível mundial! Sim! A vida como ela é hoje é completamente inumana. A vida do trabalhador no capitalismo não é nada além de uma escravidão assalariada, estendida a todos os aspectos da vida– o povo está agonizando e a ferida não fechará a menos que tomemos essa angústia pela raiz!

Ora, basta! Que arranquemos a árvore do capital inteira e a queimemos nas chamas da história. O capitalismo perecerá sob a força das faxineiras, dos pedreiros, das empregadas domésticas, dos boias-frias, de cada ser humano legado ao mínimo do mínimo pelos banqueiros, grandes empresários, CEOs e latifundiários. A classe trabalhadora está farta de ser um brinquedo do Estado burguês corrupto e seus políticos demagogos, dos bancos agiotas e ladrões, das grandes corporações que nos vendem veneno, plástico e morte. Basta! Queremos acordar e ver o próprio rosto, reconhecer na própria carne, nas ações de cada dia uma chama de fogo queimando, uma possibilidade de transformação e de pertencimento a si: ver o próprio rosto no espelho é ver a si mesmo como um ser humano, não um produto, um fetiche, uma máquina espoliada e escrava.

Para isso, somente o socialismo pode nos levar, em última instancia, à emancipação da vida em todos os mais amplos sentidos! Tão somente a luta coletiva, organizada e autoconsciente da classe trabalhadora a fim de sepultar de uma vez por todas a classe dominante pode, enfim, criar uma realidade material capaz de gerar o mínimo de dignidade para todos. Não se trata aqui de uma utopia ou de uma ideia abstrata: se o sofrimento e a angústia existem e nos rasgam a alma de formas cada vez mais grotescas, e isso só se comprova mais e mais com o COVID-19, e somos nós que trabalhamos, dia após dia, para sustentar esse sistema – ora, então que morra esse sistema! É preciso perceber que a vida ocorre aqui e agora e a hora da revolução somos nós quem fazemos: tão somente uma ação consciente é capaz de traduzir a fúria em violência contra os exploradores burgueses e ao sistema de opressão capitalista, não a nós mesmos ou aos trabalhadores a nossa volta! Organizando-nos pela base, cada vez mais e mais pela base, a partir de uma vanguarda revolucionária disposta a dar a vida pela união da classe, numa resistência efetiva de luta combativa nos sindicatos, nas fábricas, no campo, nas universidades – é aqui que se mostra a verdadeira face do socialismo e de seu potencial emancipador.

O socialismo trata-se aqui, também, de destruir as burocracias partidárias sanguessugas, o aparelhamento sindical, as táticas conciliatórias de atuação nas universidades e na política parlamentar – legado nojento do stalinismo e suas vertentes decompostas reinantes até hoje no Brasil e em boa parte do mundo. E isso tem um nome que merece ser ecoado: trotskismo – a expressão máxima da emancipação mundial da classe trabalhadora por meio não de um partido único burocrático de ditadura policial (e que, invariavelmente, tende a volta do capitalismo, como ocorreu na China, na Rússia e no Leste Europeu, em diferentes proporções). Trotskismo: a prática teórica revolucionária socialista baseada, sobretudo, na organização leninista de partido revolucionário – o mesmo que foi capaz de se fundir à fúria dos trabalhadores e camponeses para tomar o poder na Rússia em 1917. O trotskismo em nada se separa dos interesses do proletariado: a auto-organização das trabalhadoras e trabalhadores é a única expressão na história que traduz a potência emancipadora de todos os povos humanos com sua face internacional e sem conciliação nenhuma com a burguesia.

Um espectro ronda o mundo – o espectro do trotskismo. Esse espectro não é ficcional, não surge do nada – se apresenta diante das contradições da vida, na incapacidade do capitalismo de evitar seu próprio colapso e das burocracias operárias de realizar uma política verdadeiramente revolucionária. O trotskismo é a última fronteira para a construção de uma sociedade superior ao capitalismo em todos os sentidos – e ela pode ser feita por nós, todos nós, desde agora! O COVID-19 é produto desse sistema. Ora, então que apodreça! Para esmagar o vírus do capitalismo precisamos organizar a classe trabalhadora com a fúria da depressão enfiada em nossas gargantas – num grito poderoso: REVOLUÇÃO! Trabalhadores do mundo – uni-vos!

 
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