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INTERNACIONAL
A primeira greve geral sob a pandemia quebra a "unidade nacional" na Itália
Giacomo Turci

A política do governo italiano em resposta à crise da saúde baseou-se durante semanas em medidas descaradamente pró-burguesas unidas por uma retórica de "unidade nacional". Nesta quarta-feira, convocada pelo sindicato de bases USB, ao qual se somaram no norte setores dos sindicatos majoritários CGIL, CISL e UIL, o primeiro dia da greve geral reuniu vários setores da luta operária que estavam respondendo à política do "business as usual".

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A Itália é um dos países mais afetados pela pandemia de coronavírus. Na quarta-feira, a contagem oficial rendeu o número assustador de 57.500 infectados e 7.500 mortos.O sistema de saúde já excedeu sua capacidade máxima e a escolha de não centralizá-lo, confiscando a assistência de saúde privada, piorou a situação.Assim, o contágio se estendeu para fora do surto inicial na Lombardia, no norte, na região mais rica e industrializada do país.

A política de manter o maior número possível de empresas nos negócios gerou a ira e uma resposta de luta de trabalhadores e trabalhadoras, que começou com formas completamente espontâneas e sem direção, em particular entre metalúrgicos e na logística.A onda de medo que os meios de comunicação e o governo propagaram para convencer a população de se trancar em suas casas - com a "pequena" exceção de mais de dez milhões de trabalhadores - saiu pela culatra: o movimento operário difundiu rapidamente a demanda pelo fechamento de atividades não essenciais e pelo pagamento integral de salários a todos os trabalhadores em quarentena, com mais medidas de segurança (atualmente ausentes em muitos postos de trabalho) em atividades que permanecem abertas.

Diante do descumprimento do governo em sua promessa de fechar todas as atividades não essenciais, o sindicato de base USB lançou nesta quarta-feira uma greve geral de um dia. Desse modo, o sindicato motivou sua iniciativa:

"O novo decreto aprovado na tarde de domingo pelo presidente do Conselho Conte é o fruto envenenado do veto dos patrões a um verdadeiro bloqueio da produção de tudo o que não tem a ver com a emergência e a segurança da vida das pessoas. Ceder às ordens da Confindustria e de outras associações patronais é uma responsabilidade muito pesada que agravará o custo de vidas humanas que nosso país já está pagando, assumido para assegurar que as empresas possam voltar a obter benefícios.

Não está claro que a amplitude do contágio e o número de vítimas estejam registrados nas mesmas zonas onde a produção é mais forte e onde, dada a obstinação cínica dos empregadores, milhares de trabalhadores são forçados a transmitir o vírus e uma alta porcentagem deles ficam doentes?

Para USB, não só permanecem intactos, mas hoje, paradoxalmente, essas características de urgência e emergência nos levaram a proclamar uma greve geral para 25 de março, para cessar todas as atividades que não são realmente essenciais e em defesa de todos os trabalhadores que terão que continuar em serviço, para que sejam realmente adotadas todas as proteções a que têm direito.

Pedimos que se receba o presidente em exercício do Conselho para apresentá-lo a dramática situação de um grande número de trabalhadores, começando pelos profissionais de saúde, que são frequentemente obrigados a trabalhar em condições insuportáveis, e para definir claramente sanções para os empregadores que não o fizerem. Não aceitaremos que a Confindustria e outras associações patronais ditem as regras para todo o país e que realmente estabeleça o número aceitável de mortes que teremos que suportar.

Chamamos todos os trabalhadores a participarem da greve geral das formas e maneiras que são possíveis hoje em dia, salvaguardando a proteção dos cidadãos.
Quantas mais mortes serão necessárias para induzir sindicatos cúmplices a fazerem seu trabalho, dado que os patrões fazem seu muito bem por conta própria?

Que dia 25 de março se torne um dia nacional de greve geral para todos e todas!

Pressão das bases e rebelião operária

Essa medida, junto à forte pressão de um grande setor da classe trabalhadora de base dos grandes sindicatos confederados, levou o governo e os dirigentes da CGIL, a CISL e a UIL a dialogar em uma reunião fluvial entre 24 e 25 de março, o que conduziu à definição de um acordo para o fechamento de um setor mais amplo de empresas. Esses sindicatos retiraram assim todo o apoio à greve, antes que, em uma declaração vaga e ambígua, "dessem permissão" aos trabalhadores para mobilizarem-se e fazer a greve da data anterior.

Sob pressão de seus membros, nas duas regiões fundamentais de Lácio e Lombardia, os setores da indústria metalúrgica, química e de papel declararam greve, e os próprios sindicatos confederados foram forçados a reconhecer o sucesso da greve, com uma afiliação entre 60% e 90%.

O dia da greve, como um todo, registrou uma adesão muito maior do que a dos membros do USB (algumas dezenas de milhares concentradas no setor público): por exemplo, mais de 400 enfermeiros assinaram um apelo convidando todos aqueles que não trabalham em setores essenciais (como pessoal médico) para a greve e aderiram com um minuto simbólico de greve, difundindo a hashtag #scioperaperme (#greveparamimtambém).

No caso de Ilva de Taranto, com a desculpa da necessidade de manter o alto-forno em chamas, a empresa "ordenou" o trabalho para muitos, negando efetivamente o direito de greve.

A Comissão de Garantia do direito de greve impugnou a proclamação da greve pelo USB, citando razões de segurança relacionadas à pandemia e reservando-se o direito de impor sanções contra o sindicato, uma ameaça que, de fato, conseguiu desativar as mobilizações em 8 de março e a greve geral que devia ocorrer no 9 de março.
No entanto, não parece que as manobras do governo, as ameaças anti-greve e a política de multas massivas para aqueles que saem de casa possam tão facilmente deter essa onda de luta dos trabalhadores. Enquanto os trabalhadores continuam infectando-se e morrendo, o governo alterna o tratamento medieval da quarentena massiva com muito poucos tampões, com uma escalada de repressão completamente desmotivada pela própria crise sanitária: enquanto os militares são enviados pelas cidades quase como se houvesse um toque de recolher a lei marcial, ontem impuseram 120.000 multas (cerca de 200 euros) àqueles que saem de casa "sem justa causa", uma avaliação que as forças da ordem podem fazer arbitrariamente.

Ao mesmo tempo, segundo o acordo governo-sindicato, o cumprimento das novas medidas de segurança pode ser "auto-certificado" pelas próprias empresas, com a inspeção dos prefeitos (“reconhecidos especialistas médicos”) e o apoio às burocracias sindicais territoriais, uma piada trágica que custará mais mortes.
Contra essa política, é necessário ter comitês de segurança e higiene em todas as demais empresas, constituídos exclusivamente por trabalhadores, com plenos poderes e sem qualquer interferência do governo nem das patronais. É necessário que os próprios trabalhadores estabeleçam as condições e o tempo de trabalho adequados para conter o contágio.

A greve começa a romper a "unidade nacional" reacionária que impera na Itália. Por esse motivo, deve se prolongar e relançar-se, em primeiro lugar, através da luta realizada por duas semanas na logística, para impor o fechamento real de atividades não essenciais, a reconversão de indústrias que sejam factíveis para produzir elementos necessários enfrentar a pandemia e todas as medidas urgentes necessárias não para os industriais, mas para a classe trabalhadora e as massas populares.

 
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