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PETROBRAS
Petroleiros: garantir a saúde de todos e questionar qual produção o país precisa
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi

Mesmo com a epidemia as ambulâncias ainda precisam de gasolina, cada casa precisa de gás de cozinha ou gás natural. A produção de petróleo e derivados não pode parar. Isso é um fato, mas a Petrobras está usando esse fato para dar continuidade à produção de uma maneira que segue colocando milhares de trabalhadores próprios e terceirizados em risco e ainda não utiliza, com toda a segurança possível, as instalações da empresa para produzir diversos equipamentos e produtos que poderiam estar servindo à saúde de toda população brasileira.

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A Petrobras declara preocupação com o Coronavírus, mas mesmo assim mantém desnecessariamente milhares de petroleiros dos setores operacionais e terceirizados expostos e, com praticamente nenhuma segurança de que não estejam se contaminando e contaminando suas famílias, com o agravante de que muitos desses trabalhadores estão em ambientes confinados, como unidades operacionais em refinarias ou plataformas, facilitando a propagação do vírus. Para os terceirizados há quase nenhuma medida de controle sendo adotada na maior parte das unidades.

Nessa situação a insegurança e a angústia crescem. Trata-se de um descaso mascarado de preocupação. A empresa liberou boa parte dos trabalhadores administrativos para realizar trabalho em “home office” mas quase todas medidas anunciadas para o setor operacional não diminuem significativamente os riscos. Para as plataformas anunciaram nesse dia 19/03 que haverá uma quarentena de 7 dias antes do embarque, com o petroleiro permanecendo em um hotel antes de embarcar por 21dias, mas o que, fora a testagem, poderia impedir a contração do vírus antes do embarque, e gerar novas situações como ocorridas nas últimas semanas com trabalhadores em alto-mar apresentando sintomas e todos seus colegas, expostos e sem poder se testar quando retornam para a terra e para suas famílias? Nada impede esse cenário mesmo com as novas medidas da empresa. Mostra-se preocupada mas sua maior preocupação é a produção, os lucros.

Essa realidade aplica-se, grosso modo, a todos unidades operacionais da empresa. Há restrições sobre o uso de refeitórios mas nenhuma medida para afastar, com garantia de emprego e salários, os que são de populações de risco ou aqueles que tenham que cuidar de suas famílias. Nem muito menos garante-se testes aos expostos. A empresa diz querer diminuir o número de trabalhadores expostos, mas suas ações estão muito longe disso. A produção, o lucro está acima das considerações de segurança, nem falar do que uma empresa com o porte, com a logística, com os conhecimentos que tem os trabalhadores dela poderia estar fazendo para salvar vidas no país.

Há confirmações de casos clinicamente atestados de COVID-19 em mais de uma unidade, há relatos de pessoas sendo desembarcadas de plataformas com sintomas e um absoluto descaso com medidas elementares de proteção para os trabalhadores e suas famílias como a testagem massiva. Com testes, cada um poderia ter maior segurança, do que poderia estar fazendo para proteger colegas e familiares.

Há claras medidas de proteção do corpo gerencial da empresa e em alguma medida de todo o administrativo. Mas para aqueles que compuseram a maior porcentagem dos grevistas, o setor operacional, não há um anúncio uniforme e nacional para liberar todos que estejam em populações de maior risco, não há nenhum comunicado e ação nacional para liberar aqueles que tem familiares contaminados ou filhos sem escola exigindo cuidados, não há sequer atendimento de Serviço Social para que um petroleiro possa expor essa situação. Não há testagem massiva para trabalhadores que estiveram expostos a contaminação.

Em algumas unidades operacionais a empresa está adotando mudanças no tempo das escalas de turno para diminuir o número de trabalhadores expostos a riscos no transporte, na passagem de serviço. Mas tem feito isso, na maioria dos locais, sem sequer consultar os trabalhadores e sindicatos sobre qual seria a melhor escala a adotar para garantir melhor a integridade de todos trabalhadores.

Trata-se de uma sucessão de decisões burocráticas e que colocam em primeiro lugar a produção, o lucro. Tanto é assim que não há um plano racional relativo a produção que não faz o menor sentido que fique igual em meio a tamanha crise econômica internacional. O que não deve ser interrompido e o que deve passar a ser produzido poderia ser parte de um plano racional, que incluísse diminuir a produção em várias unidades, e possivelmente aumentar em outras, um plano que diminuísse radicalmente a exposição de petroleiros próprios e terceirizados e por outro lado colocasse as imensas capacidades da empresa à serviço das necessidades da população brasileira.

Por exemplo, a fábrica de fertilizantes do Paraná absurdamente fechada pela Petrobras semanas atrás, resultando em 1mil demissões, não poderia readmitir os demitidos que quisessem e produzir uma escala colossal de álcool gel para o país ou qualquer outro insumo hospitalar e médico que o país necessita? Poderiam os milhares de equipamentos de laboratório, os super-computadores do CENPES serem usados para algum fim de ajudar a população? Poderiam as refinarias mudar a carga das unidades para aumentar a produção de GLP e garantir gás de cozinha mais barato para toda a população que corre riscos não somente de Coronavírus mas também de desemprego, perda de renda?

Decisões como essas não passam pela alta administração da empresa, que zela pelos lucros, zela pela privatização e não se preocupa efetivamente com as vidas dos petroleiros, pelos empregos de ninguém, crachá verde (de efetivos) ou amarelos (de terceirizados), não se preocupam como a empresa poderia servir aos interesses da população.

É urgente que os petroleiros comecem a debater e exigir medidas de segurança, desde o transporte, a forma de funcionamento de cada unidade, exigir testagem para si mesmos, para os terceirizados, e todos seus familiares onde houve suspeita de contágio, exigir afastamento remunerado para todos trabalhadores expostos ou que tenham que cuidar de algum familiar, garantia de emprego para todos afastados, próprios e terceirizados e garantir que sejam feitos planos racionais em cada unidade visando questionar qual a carga de produção em cada lugar que é efetivamente necessária e, portanto qual exposição de petroleiros efetivamente é necessária, e que tipo de produção poderia se fazer naquela instalação para atender as necessidades da população em uma situação que tem sido descrita até mesmo por ministros como de “guerra”.

É impreterível também a formação de uma “Comissão de segurança, prevenção e higiene”, composta pelos trabalhadores, com autonomia para investigar, consultar e questionar as medidas que são tomadas pela empresa para a segurança dos trabalhadores, e que essa comissão atenda as sugestões e reivindicações dos petroleiros de cada setor e lute por essas demandas urgentes de segurança para todos.

Os petroleiros deram exemplo com a greve em fevereiro e podem ser exemplo novamente agora, e para isso é preciso exigir que os sindicatos assumam um papel efetivo na luta pelas mínimas condições de saúde, segurança e garantia de emprego de petroleiros efetivos e terceirizados. Não esqueçamos dos planos de privatizar e demitir que Bolsonaro e seus gerentes podem querer usar, aproveitando-se da COVID como tantas empresas no país tem buscado fazer.

A partir de um questionamento e organização dos petroleiros é possível que a categoria avance não somente para garantir sua integridade física diante da exposição a vírus mas, mais que isso, possa questionar o papel que é dado aos conhecimentos e instalações da empresa. Servirão as instalações e conhecimentos para garantir gás de cozinha, álcool em gel, diesel e gasolina para toda a população ou seguirão sendo usados para o lucro e entrega ao imperialismo? A luta para colocar os recursos naturais do país a serviço da população deve ligar-se também com erguer um sistema de saúde 100% estatal, controlado pelos trabalhadores e usuários única maneira de fazer frente à crise e garantir saúde não para poucos, mas para todos. Os questionamentos na Petrobras precisam avançar a colocar-se,

Com vidas em risco, com uma economia em franca recessão o programa de uma Petrobras 100% estatal, administrada democraticamente por seus trabalhadores com controle popular ganha renovada importância, ele é expressão do que poderia ser feito para garantir a segurança de cada petroleiro próprio e terceirizados, mas também para que os vastos recurso e conhecimentos sirvam não para acionistas em Wall Street mas para as necessidades do povo brasileiro.

 
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