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EDITORIAL
Enfrentar o projeto autoritário de Bolsonaro para derrotar o plano de ajustes dos capitalistas
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED
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Bolsonaro, mesmo sendo inicialmente um “filho indesejado”, veio para coroar a obra do golpe de 2016, para impor ataques históricos contra as condições de trabalho e de vida das massas, brutal precarização e ataques aos direitos democráticos. É apenas uma pequena mostra do que a burguesia brasileira, servil ao capital financeiro internacional, está disposta a fazer para manter seu regime de exploração e opressão que atravessa uma crise de proporções históricas. Ele não é um fenômeno brasileiro isolado, é o retrato da decadência do sistema capitalista imperialista em todo o mundo, que irá recorrer a formas cada vez mais bizarras e destrutivas para tentar se perpetuar. Só a luta de classes, com a classe trabalhadora encabeçando os milhões de oprimidos por esse sistema, pode oferecer uma perspectiva distinta do aprofundamento dessa barbárie.

Nas últimas semanas vimos um novo embate entre Bolsonaro e o Congresso, com uma escalada autoritária que culminou na convocação da reacionária manifestação do dia 15/03 que teve como "pano de fundo" a disputa pelo orçamento impositivo, a entrada de mais militares no governo e o motim policial no Ceará. Este motim foi parte da movimentação de Bolsonaro e suas tropas reacionárias, que movimenta as policias de vários estados. Não devemos nos enganar como se o fim do motim fosse tranquilizante das perspectivas. O fechamento deste contou inclusive com um pronunciamento do comandante da Força de Segurança Nacional, subordinado de Bolsonaro e Moro, marido de deputada bolsonarista, chamando os amotinados de “hérois”, “gigantes”, escancarando que o governo federal incitou o motim e que este é reacionário e deveria ser rechaçado pela esquerda, diferentemente do que fez o PSTU e em outro sentido também a Resistência (tendência do PSOL).

A reação à convocatória aberta de Bolsonaro a atos que eram pelo fechamento do Congresso e STF, contou com pronunciamentos imediatos de várias alas deste mesmo regime, e Bolsonaro recuou ao dizer que o vídeo da convocatória do ato seria de 2015 e dizendo que “não era um ato contra o congresso”. Isso não diminui, entretanto, a força com a qual temos que organizar a nossa manifestação para derrotar Bolsonaro, as reformas e todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para esta situação de ataques a classe trabalhadora, à juventude, às mulheres, negros e LGBT´s.

Frente a este cenário temos uma tarefa imediata que é enfrentar toda escalada reacionária de Bolsonaro, que conta com mil e uma relações espúrias com os milicianos e do General Heleno e outros militares que estão atuando ativamente neste processo. Neste sentido, rechaçamos o ato do dia 15/03 mas não fazemos coro com outros setores do regime que buscam defender uma já degradada democracia dos ricos e suas instituições para seguir aplicando ajustes e reformas contra os trabalhadores e o povo pobre. Estamos falando de Rodrigo Maia, os ministros do STF, os políticos que eleitoralmente querem se opor a Bolsonaro como por exemplo João Dória, e todos os setores que rechaçam os "excessos" de Bolsonaro em suas investidas fascistizantes mas que confluem quando se trata de aplicar ataques aos trabalhadores para que a crise não seja paga pelos capitalistas.

Estas constatações levam a pelo menos três discussões: a) qual a frente necessária pra derrotar Bolsonaro? b) a palavra de ordem Fora Bolsonaro é suficiente para este processo e c) qual política diante das direções sindicais burocráticas?

Nós consideramos que diante da situação atual é fundamental batalhar pela mais ampla frente única operária, ou seja, a unidade do conjunto da classe trabalhadora movimentando suas entidades e bases para golpear com um só punho usando os métodos de greves e paralisações para atacar os lucros e colocar em xeque os planos do governo e dos capitalistas. Isso significa não depositar nenhuma ilusão na "frente ampla" que alguns que se dizem de esquerda pretendem construir com alas do próprio regime ligados ao Congresso e ao STF, como Maia, FHC, Dória, que são setores abertamente golpistas e que também nos atacam. Mas também, a Frente Única Operária, não tem nada a ver com a "Frente Popular", defendida por outros setores, que congregaria setores de esquerda como o PSOL, partidos de conciliação de classes como o PT e PCdoB e inclusive diretamente burgueses como PSB, PDT e Rede, uma frente que é proposta do ponto de vista eleitoral como se pudesse ser instrumento “pra derrotar a extrema direita” mas está na contramão da única perspectiva realmente capaz de enfrentá-la, que é na luta de classes e com independência frente a todas as alternativas burguesas, com uma frente única operária.

Essas “Frente Ampla” ou “Frente Popular” que estes setores propõe, são orientações para manter a classe trabalhadora e a juventude como uma ala, à esquerda, dentro do regime do golpe, almejando eleger novas gestões “progressistas” que vão administrar a obra econômica do golpe, tais como a reforma da previdência, militarização das escolas, apoio a entrega da base de Alcântara, etc, como já vemos nos governos do PT e PCdoB no nordeste. Estas alternativas que nos manteriam atreladas a diferentes alas da burguesia podem tranquilamente ter o objetivo de retirar Bolsonaro do poder através do impeachment, desde que garantindo isso como uma transição tranquila que colocasse em seu lugar algum outro ator político capaz de seguir o plano de ajustes que está em curso. Por isso, ainda que gritemos junto com trabalhadores, mulheres, jovens, negros e LGBT´s nas manifestações que queremos "fora Bolsonaro" expressando nosso rechaço a esse governo não podemos deixar de debater, especialmente no âmbito da esquerda sobre os problemas da consigna "Fora Bolsonaro" adotada como programa para o movimento por correntes do PSOL e outros setores. Hoje por hoje, enquanto não existe uma mobilização real dos trabalhadores, agitar o programa de Fora Bolsonaro pode servir para fortalecer qualquer uma das variantes burguesas, e o impeachment é uma delas, pois na prática significa a entrada do General Mourão, dando mais poder ainda aos militares. Aos que dizem Fora Bolsonaro e Mourão, como o PSTU, não explicam como impedir que assuma algum outro setor por dentro do regime, como o próprio Davi Alcolumbre (DEM), presidente do Senado. Portanto, a consigna também está diretamente relacionada com qual a batalha agora: diluir nossas bandeiras em um programa de frente popular - ou até pior ainda, entregar nossas bandeiras a uma frente ampla -, ou batalhar pela frente única operária, para que o único sujeito capaz de derrubar Bolsonaro, que são os trabalhadores, entre em ação efetivamente com seus métodos e programa?

Para isso, a greve petroleira do último mês traz lições valiosas: se batalhamos por uma frente única operária é preciso, ao mesmo tempo, levar adiante a auto-organização dos trabalhadores. Isso significa construir na base assembleias e reuniões, mas nos processos de greve lutar por organismos que não deixem somente nas mãos das direções burocráticas os rumos da luta, como ocorreu na greve petroleira com a FUP, dirigida pela CUT (PT) desmantelando a greve. Neste processo, a FNP, dirigida pela oposição de esquerda ao PT, como a Resistência (PSOL) e o PSTU, não cumpriu nenhum papel alternativo. Mais do que isso, o PSOL e seus parlamentares, apesar de em palavras dizerem que apoiavam a greve petroleira, nunca questionaram a linha petista de desmonte da greve, terminando dessa forma sem nenhum papel crítico a esta política, que desmontou a mobilização e o potencial de uma greve que, como afirmamos, se vitoriosa teria sido um forte ponto de apoio a todos jovens e trabalhadores em todo o país.

Como pode se ver, para levar adiante uma luta real se trata muito mais do que agitar uma palavra de ordem, mas sim batalhar para que seja a classe trabalhadora a que esteja no centro, com as mulheres, a juventude, os negros, os LGBT´s, e em cada local de trabalho imponha para as direções uma organização desde a base e a partir daí se faça real a batalha para derrotar o governo, os militares e todas as reformas anti-operárias e seus agentes, por uma saída realmente dos trabalhadores. Neste processo, se a mobilização for forte o suficiente não deveria parar por aí e sim impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que não somente revogue todas as leis e reformas anti-operárias deste e dos últimos governos, incluindo as reformas da previdência dos governos petistas no Nordeste, como leve adiante os direitos mais sentidos das mulheres como o direito ao aborto legal, seguro e gratuito e diante de um governo baseado em "Deus" que lutemos pela separação imediata das Igrejas do Estado.

Por isso, a agenda das centrais sindicais chamando a mobilizar dias 08, 14 e 18 de março deve ser tomada como uma prioridade porém sem cair na manobra de diluir e dissipar em vários dias a nossa força. Queremos construir um fortíssimo 8 de março onde as mulheres se coloquem na linha de frente contra Bolsonaro, o avanço dos militares e as reformas e também um grande dia 14 de março exigindo justiça a Marielle nos dois anos de seus assassinato. Mas ambas manifestações são no fim de semana e não vão envolver ações operárias nos locais de trabalho. Por isso, os dias 8 e 14 devem ser parte de fortalecer a batalha para um grande dia 18 de março onde exijamos não apenas o vago "dia de manifestações e paralisações" mas sim uma grande paralisação nacional para enfrentar o projeto autoritário de Bolsonaro e dos militares e derrotar o plano de ajustes de todos os capitalistas.

Nós do MRT e do Esquerda Diário estamos batalhando por esta política em todos locais de trabalho que atuamos, a começar pela categoria de professores em São Paulo que se mobiliza neste dia 3 de março contra a reforma da previdência estadual de João Dória, mas também em várias categorias e estados, bem como nas entidades estudantis que compomos junto a independentes. Com o grupo de mulheres Pão e Rosas estamos lutando por construir uma posição independente das mulheres para que não façam demagogia com a nossa luta e mostrando que queremos lutar lado a lado da classe trabalhadora, até porque já somos maioria junto com negras e negros. Com a Juventude Faísca estamos impulsionando nas universidades uma enorme campanha por #JustiçaParaMarielle junto com outras organizações de esquerda e centros acadêmicos, que também integrará as atividades do Março Por Marielle, do Instituto criado em memória da vereadora, para construir um forte 14 de março.

Depois da greve petroleira na qual o Esquerda Diário virou referência nacional para os petroleiros queremos desenvolver ainda mais esse papel de porta-voz das lutas operárias e fazer o Esquerda Diário a principal imprensa de esquerda ligada a luta dos trabalhadores e por isso vamos lançar no dia 25 de março uma série de novos programas, ferramentas de difusão multimídia e de interação aos 5 anos do lançamento de nosso portal. Inauguramos essa semana o Esquerda Diário Ao Vivo com análise nacional semanal e na semana do 8 de março lançamos o Podcast Feminismo e Marxismo impulsionado pelo grupo de mulheres Pão e Rosas.

Convidamos todas e todos a conhecer e construir conosco este projeto que tem como objetivo batalhar pela construção de um partido revolucionário e dos trabalhadores no Brasil e internacionalmente.

 
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