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GREVE PETROBRAS
Balanço da grande greve petroleira e perspectivas da nossa luta
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi

O petroleiro Leandro Lanfredi, que participou destes 20 dias da maior greve petroleira desde 1995, expõe necessários balanços e perspectivas da luta contra as 1000 demissões e a privatização da Petrobras.

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Estamos no final da maior greve petroleira desde 1995 e da maior luta de trabalhadores contra o governo Bolsonaro. É fundamental tirar lições para como seguir a luta dos petroleiros e dos trabalhadores em todo o país, que todos sabemos que não se encerra com o fim da greve.

1. A greve mostrou que, apesar do golpe institucional e da ofensiva de setores reacionários, liderados por Bolsonaro, não sofremos uma derrota histórica do proletariado brasileiro. A base petroleira, justamente em uma das frentes mais atacadas pela direita golpista que foi a Petrobras, demonstrou enorme força e se colocou como exemplo para os trabalhadores brasileiros. A base teve um nível de adesão e engajamento na greve que é algo que toda a categoria petroleira deve se orgulhar. Nos enfrentamos com corte de ponto, telegramas e todo tipo de ameaças. Essa força precisa agora se manter organizada, pois é certo que teremos muitas batalhas pela frente, como a continuidade da luta contra a privatização e os ataques do imperialismo contra a Petrobras, incluindo nossa luta pela redução do preço dos combustíveis, mas também outras imediatas. Por exemplo, ainda que conseguimos com a força da greve impor um recuo na aplicação da nova tabela de turnos, algum tipo de garantia contra punições, retomada do direito às férias dos grevistas, a negociação desta sexta com Ives Gandra, que foi colocada como um dos motivos para acabar com a greve, acaba de definir descontar pelo menos metade dos dias parados (a outra metade fica em banco de horas, mas dificilmente alguém tem um banco de horas de 10 dias, ou seja todos sofrerão descontos de 10 dias ou mais). Se não nos mantemos organizados, vão dia-a-dia impor outras punições, apesar de termos exercido nosso legítimo direito à greve.

Ives Gandra também jogou para o dia 27 o debate sobre as demissões na FAFEN, numa política de tentar manobrar e desmontar ainda mais o movimento para manter este ataque, que é crucial para as privatizações. Conseguir colocar na rua os trabalhadores da FAFEN é a pedra de toque do golpismo para depois avançar contra as 8 refinarias postas à venda. Assim, o acordo firmado pela FUP e pelo Sindicato do Litoral Paulista da FNP com Ives Gandra termina de consolidar um desmonte da greve e abertura de um caminho que abre espaço as demissões dos 1mil companheiros. Também não podemos naturalizar que os terceirizados da FAFEN sejam demitidos como se não fossem parte dos motivos da nossa greve. Não podemos aceitar a divisão que querem colocar entre próprios (efetivos) e os terceirizados, pois se nos unimos teremos mais força para as paralisações terem ainda mais força e para enfrentar os ataques.

2. Mostramos o peso e centralidade estratégica desse gigante que é o proletariado brasileiro, como está em nossas mãos a possibilidade de enfrentar os ataques. Mesmo com as nossas direções sindicais querendo uma greve sem impacto na produção, a base impôs uma greve que impactou os lucros e fizemos a extrema direita e a direção da empresa tremerem com a força da greve. Está demonstrado uma vez mais que o que eles temem é a luta de classes, e não a dita esquerda que só aposta nas eleições e discursos parlamentares, que faz uma “oposição” superestrutural que não é capaz de incomodar ninguém e por vezes os trabalhadores sentem que parece nem existir. Nada tem força maior do que o proletariado dos setores mais estratégicos utilizando dos seus métodos clássicos de luta como a greve. Nossa greve foi ainda mais forte nos setores mais estratégicos da empresa, como nas plataformas e refinarias. As plataformas que paramos produzem como grandes países produtores de petróleo e concentram uma enorme fonte de riqueza. Golpeamos o lucro e começou a ocorrer desabastecimento, que foi quando todos os nossos inimigos que tentavam ocultar a greve, se uniram para desmontá-la por desespero. Para além do resultado da greve, esta é uma conclusão que precisa ficar não somente para os petroleiros, mas para a classe trabalhadora e a esquerda de todo o país. Basta de apostar nos discursos e em mero eleitoralismo no combate contra a extrema direita e os ataques, é a força da classe trabalhadora e dos seus setores mais estratégicos que pode derrotá-los.

3. Se a nossa greve não conseguiu conquistar uma vitória categórica e ir além de onde chegamos, foi devido às direções sindicais e políticas dos petroleiros e do movimento de massas no país. Aguentamos heroicamente 20 dias de greve sem que as centrais sindicais, em primeiro lugar a CUT (PT) e CTB (PCdoB) movessem praticamente nada para um apoio ativo e efetivo à nossa greve. Ficamos muitos dias sem ações que conseguissem furar o bloqueio da mídia que ocultava a greve, o que só não foi completo pelo papel de cada petroleiro em dialogar com a população, pelo impacto que tivemos na produção e pelas ações simbólicas de distribuição de gás a preço mais barato, além da cobertura de meios independentes, destacadamente o Esquerda Diário que fez a mais ampla cobertura da greve petroleira, ainda que com forças muito mais modestas do que estas grandes centrais e partidos seriam capazes de fazer e se negam. Também era agoniante para os petroleiros ver passar dia a dia da nossa greve sem que houvesse por parte das centrais iniciativa de coordenar com outras categorias. Ao contrário, votavam calendários para março, deixando isolada nossa greve. E mesmo nos atos de petroleiros da greve e nos piquetes não mobilizavam força efetiva de apoio. Continuavam em sua rotina eleitoral. Mas o balanço das direções sindicais petroleiras não pode ser feito somente pensando nos dias da greve, essa postura na greve é reflexo e continuidade da prática de longos anos. Estamos vendo passar profundos ataques na Petrobras e aos petroleiros, além dos que passam contra toda a classe trabalhadora brasileira, praticamente sem resistência, muito menos coordenada entre todas as categorias. São muitos discursos que servem pra eleição mas pouca ação real. E não preparam as greves com fundo de greve, plano para impactar a produção e ações de peso como um plano de guerra para vencer.

4. A força que a base demonstrou nessa greve, como em outras lutas dos petroleiros, não pesa nos rumos das decisões da greve devido ao papel em especial da Federação Única dos Petroleiros (FUP), mas essa greve também demonstrou os limites da oposicionista Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). A primeira questão que expressa isso é que cada federação se organiza separadamente, dividindo os petroleiros, que não tiveram nenhum Comando Nacional de Greve unificado, com representantes eleitos em cada unidade e que tivesse poder de decisão sobre os rumos da greve. A direção da FUP, como sempre, se dá o direito de negociar o que quer e como quer. Decide o que vai ou não fazer na greve e, para a base, o máximo que resta é, em assembleias de base nas unidades, jevantar a mão, depois que tudo está encaminhado. A criatividade e inteligência da base petroleira que bancou fortemente a greve não é chamada a opinar e decidir sobre seus rumos, e sempre nos resta somente protestar frentes aos recorrentes desmontes e traições da FUP. Precisamos unir a categoria, superar a divisão entre as federações e termos nas próximas greves um Comando Nacional de Greve desde o início. Nós do Esquerda Diário batalhamos por isso nessa greve, mas precisamos fortalecer uma corrente em petroleiros que, em todo o país, previamente à greve, pressione a que isso ocorra. Este é mais um motivo para nos mantermos organizados, para semear na categoria nacionalmente uma nova tradição: a base quer decidir os rumos de toda a luta. Para isso ser potente, precisamos nos auto-organizar pela base, unindo nas próximas lutas da categoria através de representantes eleitos de cada unidade num comando nacional, superando a divisão entre FUP e FNP. Essa forma de auto-organização pela base foi a adotada pelos setores mais combativos dos transportes na França na grande greve que realizaram recentemente.

5. Frente à fama da FUP de conciliar com governos, com a diretoria e abandonar a luta, muitos petroleiros enxergam a FNP como alternativa, pois nela há setores que criticam corretamente a FUP nos seus aspectos mais burocráticos. Mas o balanço dessa greve serve de alerta a todos dos limites também da FNP para que os petroleiros possam vencer. A greve petroleira começou dia 1/2 e as bases da FNP só entraram em greve dia 7/2! O argumento era legalista, que tinham que cumprir com as 72 hs de pedido na justiça para entrar em greve, mas sequer foram capazes de decretar ao menos estado de greve durante 2 semanas em que a FUP já havia decretado. E nem ações de apoio fizeram enquanto as bases da FUP estavam em greve, expressando para nossos inimigos uma divisão da categoria, mas que na base não havia, que era fruto da divisão por cima entre as 2 Federações. Os dirigentes da FNP, que são parte do PSOL (Resistência e outros) e PSTU, não confiavam que a base petroleira ia obrigar a FUP a fazer uma greve? Muitos petroleiros sabem que na base já tem clima de fazer greve desde o fim do ano passado, que foi a FUP que mais uma vez desviou. Por que a FNP não assumiu a frente de se dirigir inclusive à base da FUP em todo o período de preparação da greve para não somente sair na mesma data, mas para termos um Comando Nacional de Greve unificado pela base? Quando a FNP entrou na greve, além de ser tardiamente (e dando peso para pautas que não eram as demissões e privatização da empresa), é verdade que teve iniciativas positivas como começar a articular algumas de suas bases, como o abaixo-assinado por um Comando de Greve da plenária de plataformas, apesar de que era uma exigência à FUP, o que teria outra força se os sindicatos da FNP tivessem dado o exemplo. Eram propostas tardias e limitadas. A Resistência (PSOL) adotou a mesma linha da FUP no desmonte da greve, cantando vitória da mesma forma e organizando rapidamente suas bases para sair da greve. O PSOL não colocou a força de todo o partido e seus parlamentares a serviço da luta. E o PSTU, apesar de falar pela continuidade, chegou em algumas bases importantes como no RJ votar pelo fim da greve, se separando do sentimento dos setores mais combativos da categoria e sequer exigiu a partir da CSP-Conlutas que as outras centrais mudassem o calendário divisionista com as demais categorias. Mas o mais importante a ver do papel do PSTU, é que por mais que se coloque como mais combativo, demonstrou cabalmente que não pode ser alternativa ao ter apoiado o golpe institucional e a Lava Jato, que vieram para destruir a Petrobras e os direitos dos petroleiros.

6. Os petroleiros mostraram o caminho da resistência contra os ataques do imperialismo e da direita. Fizemos iniciativas criativas de expressar como somos nós que podemos colocar a Petrobras a serviço do povo brasileiro. É fundamental aprofundar essa perspectiva, para ganharmos toda a população para a luta por uma Petrobras 100% estatal. Mas os ataques que a Petrobras vem sofrendo mostram que isso só pode se dar se a Petrobras for administrada democraticamente pelos petroleiros e com o apoio da população, tirando nosso petróleo das mãos do imperialismo e colocando a serviço das necessidades populares.

7. Nós do Esquerda Diário, que atuamos com todas as nossas modestas forças na greve, não somente fazendo a principal cobertura de notícias, mas apoiando ativamente nos piquetes e atos em diversos estados do país, com os militantes do movimento de trabalhadores Nossa Classe, da Juventude Faísca e do MRT, saudamos cada petroleiro por essa grande luta que fizeram e chamamos a manter essa unidade ativa que construímos nessa luta. Nos envie mensagens para se organizar conosco, construindo uma imprensa dos trabalhadores que cumpre um papel ativo nas lutas como fizemos com o Esquerda Diário, nos fortalecendo para as próximas lutas de petroleiros e outras categorias que estão por vir.

 
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