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Netflix: abandonamos a crítica cultural?
Iuri Tonelo
Recife

A atual dinâmica internacional do capitalismo tem aprofundado problemas econômicos e sociais do conjunto da massa trabalhadora e da população pobre em distintos cantos do mundo: formas mais abruptas de exploração do trabalho, ampla desigualdade social, crises migratórias, aumento da violência racista e machista, repressão e opressão da sexualidade, catástrofes ambientais, entre outros efeitos que, nos últimos anos, tem sido incrementados pela ascensão da extrema-direita internacional. Acontece que esses efeitos da dinâmica internacional do capitalismo, depois de uma década de crise (2008) e estancamento econômicos, não se expressam apenas na economia, mas também nas diversas esferas da cultura e da ideologia; ou seja, não apenas na vivência da barbárie na vida cotidiana de bilhões, mas também nas TVs, computadores e celulares que representam, à sua maneira, as imagens dessas vidas.

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Imagem: Alexandre Miguez

A forma de traduzir ideologicamente esses novos tempos tem tanto expressão nos canais de televisão aberta como na internet, com conteúdos que expressam sistematicamente a grosseria e vulgaridade de apresentadores, os programas sensacionalistas que rendem audiência com a violência policial, a humilhação das camadas populares como “entretenimento”, as novelas projetadas "sob medida" pelas emissoras, a mercantilização da mulher e do negro. E não é raro encontrar, com as classes populares tendo acesso cotidiano, conteúdos com distintas formas de degeneração social e violência extrema, que conformam uma era de banalização dos sentimentos e superficialidade – uma avalanche ideológica que tem como resultados, entre outros, o ceticismo, individualismo e descrença na humanidade e seus projetos coletivos de transformação.

Mais do que isso, o clima instalado nos últimos anos pela extrema-direita é de “guerra ao marxismo cultural”, aprofundando um plano traçado já algumas décadas pelos neoconservadores (e os chamados paleoconservatives [1]), que tem sido ofensivos em seus questionamentos a qualquer forma de expressão progressista audiovisual como “marxismo”.

Nesse contexto, é recorrente ver o público progressista (e mesmo os que se reivindicam socialistas) comentarem com entusiasmo sobre determinada nova série da Netflix, que se torna foco de debates nos círculos de esquerda e aparece como alternativa frente a esse cenário conservador. Naturalmente é necessário acompanhar os grandes fenômenos ideológicos, trazer a público o debate e buscar travar a disputa no âmbito cultural. Mas o que é chamativo, e diria inclusive sintomático, é que se vê pouquíssimas críticas às produções da própria Netflix, ou quase nenhuma. Ou seja, tendo em vista a necessidade de sempre partirmos do enfrentamento às tendências conservadoras na realidade cultural, o que poderia ser dito sobre as produções ditas alternativas?

Entre a decadência do neoliberalismo e as “formas alternativas”

O primeiro ponto a se constatar é que as temáticas e mesmo a estética de parte das séries da Netflix que mais atraem o público de esquerda não tem nada a ver com os filmes que preenchiam as “sessões da tarde” ou os fins de noite, dos anos 1980 e 1990, que carregavam os signos da era neoliberal, com um conteúdo moral sempre repetido, exaltação do indivíduo, da família, com pessoas brancas, “heróis do bem”, que se martirizam, se sacrificam e terminam vencendo aquela luta difícil ou salvando a mocinha no final.

Acontece que a era do “consenso de Washington” (de três décadas neoliberais a partir dos 1980, dos governos de Ronald Reagan e Margareth Thatcher em diante), em que reinou e se perpetuou como ideologia quase incontestável o americanismo neoliberal, foi entrando em decadência nos anos 2000, tendo como ponto de destaque a crise das empresas tecnológicas ponto.com e sofrendo um golpe decisivo durante a crise de 2008, com a queda do banco de investimento Lehman Brothers e o conjunto das transformações que advieram a partir daí. Tudo que é sólido desmancha no ar e um conjunto de mudanças irromperam: na economia internacional, na relação entre estados, nas formas de produção material (com a reestruturação produtiva), nas ações da juventude, movimentos sociais (feminista, negros, LGBT, ambientais), movimentos de massa no mundo árabe, em suma, sem que houvesse revoluções que colocassem em xeque a ordem vigente, o conjunto de transformações na dinâmica do capitalismo foi patente e, naturalmente, afetaram o plano cultural-ideológico.

A Netflix foi uma das empresas que captou essas transformações e, em oposição a insistência conservadora de grandes produtoras de Hollywood, foi testando e buscando uma nova alquimia, uma nova estética, do conjunto da sua produção cultural, tendo o mérito de ir percebendo essas transformações em grande escala que ocorriam na dinâmica internacional. E como produto das “aproximações sucessivas” para atingir o público crítico, fazer a empresa crescer e criar um canal que se diferenciava da produção dominante até então, pudemos encontrar séries e filmes tratando de temas caros ao público progressista, incorporando muito dos debates sobre opressões, sobre feminismo, questão negra, LGBT, inclusive clássicos da produção cinematográfica.

E o público tem reagido com entusiasmo a essas expressões justamente por compreender que a mudança no paradigma temático e estético nas grandes empresas culturais tem a ver com uma mudança de percepção social de massas, ou seja, da relação de forças entre os trabalhadores, a juventude e setores oprimidos contra as alas conservadoras da sociedade.

Ou seja, em um momento em que o plano da ultradireita emergente era a “guerra contra o marxismo cultural”, a Netflix aparecia como espaço alternativo. O problema é que nesse movimento de adesão espontâneo à Netflix, e sem uma reflexão atualizada da indústria cultural, podemos estar amarrados em uma armadilha, que começa a se desfazer quando nos perguntamos: mais quais os interesses da própria Netflix?

A alquimia da armadilha

Segundo Relatório Global de Fenômenos da internet divulgado pela Sandive, a Netflix consome 15% (!) do todo o trafego global da internet, contra 5% das redes sociais [2], e a empresa utiliza as informações do imenso fluxo de dados em sua rede a partir de seus usuários para, dentro de determinados países, regiões, faixas etárias etc, reconhecer tendências estéticas e sociopolíticas e, de forma subsequente a isso, aprimorar seus algoritmos de tal forma a indicar a seus clientes quais são as melhores séries e filmes para seus respectivos gostos, utilizando tecnologias de big data e inteligência artificial, como tem sido feito por muitas empresas, mas que aparentemente a Netflix foi a mais bem sucedida a utilizar no âmbito cultural; ou seja, de forma geral, distintas séries e filmes da Netflix podem conter os mesmos conteúdos que as grandes produtoras de Hollywood, como séries de ação, super-heróis, romances convencionais, séries de zumbis, suspenses com eventos sobrenaturais etc [3]. No entanto, os leitores desse texto que fazem parte do público de esquerda da Netflix conhecem também o nicho voltado a títulos que tratam de temas sobre a mulher, negros, sexualidade, meio ambiente, denúncias da política e distintos outros temas com uma produção cultural melhor elaborada, tendo uma grande acervo voltado a esse público.

Assim, aprimorando suas tecnologias para o próprio streaming, a empresa começa a ter o know-how necessário para dar um segundo passo decisivo: começou a criar, a disputar a “nova estética” segundo as novas condições internacionais do capitalismo. Comandada por Ted Sarandos, o chief content officer da empresa - eleito em 2013 uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista americana Time -, a equipe da Netflix entendeu (com certo mérito) que era preciso desfazer-se dos velhos rótulos do cinema hollywoodiano caso quisesse atrair o gosto do “público crítico” ao redor do mundo: era preciso que o herói fosse contraditório, que a obra contivesse certas doses de crítica social, que os episódios transmitissem algo de “alternativo”, o que expressa, na forma, o mais avançado das inovações da empresa... em suma, era preciso uma mudança radical se quisesse dialogar com as novas gerações.

House of Cards encarnou com perfeição tal intento: Ted Sarandos contratou nada menos que David Fincher, o premiado diretor, para a execução da série. Menos de uma hora cada episódio (para que os trabalhadores consigam assistir diariamente no fim do dia), uma aparente denúncia da política – dialogando com profundidade com a crise de representatividade americana -, uma explicitação do político vilão que chantageia, ameaça, força relações, assassina, e assim dirige o país. Não parece uma série crítica? Não seria uma série que merecia ser abraçada pelos críticos da carcomida democracia ocidental? A magia reside justamente nesse ponto: a arte de seduzir sua audiência com suas críticas sociopolíticas, para conduzi-las e direcioná-las.

Frank Underwood, o personagem principal da série pode ser um “vilão” como narramos, o pior tipo de político, mas qualquer um que assiste a série com sinceridade vai perceber que a sedução não está na “crítica fria” que aparece da temática geral, mas no íntimo dos sentimentos, no pragmatismo, individualismo, no superego minuciosamente representado em uma personagem que olha para a câmera e dialoga com você, até que, sem perceber, você se identifique com aqueles valores mais pragmáticos que estão sendo transmitidos, criando certa empatia – sem perceber - com o político reacionário ou, no mínimo, dirimindo nosso ódio de tais personalidades. A execução do recurso estético, em que se promovem esses sentimentos, é um exercício que, convenhamos, a Netflix tem feito com maestria.

Ou seja, analisando um caso particular como House of Cards podemos ter a pista do geral: a empresa consegue ler as tendências com seu fluxo de dados e percebe a crise orgânica (para usar os termos de Antonio Gramsci), ou seja, a crise de hegemonia que se abre em alguns países do mundo, e a crise de representatividade nas democracias ocidentais, e somado a isso foi bem sucedida em adquirir os produtos que julga melhores dentro de sua linha estética-editorial e produzir seus próprios conteúdos de acordo com essas diretrizes.

A outra forma de afirmar os valores do presente também foi aplicada de forma bem sucedida em séries de conteúdo distópico, como Black Mirror: apresenta-se um futuro sombrio, em que as máquinas devoram a subjetividade humana e se defrontam com a humanidade de forma tão intensa e impactante que nos perguntamos se não é melhor nos voltarmos para o presente e trancafiar qualquer esperança de transformação das sociedades. Por que desenvolver projetos coletivos futuros se a humanidade pode terminar se desintegrando diante das novas tecnologias? Ou seja, por trás de uma aguda crítica da dinâmica da sociedade se esconde o ceticismo, a resignação, a impotência coletiva, em suma, os valores mais burgueses e reacionários, a verdadeira e poderosa arte da indústria cultural moderna.

Essa nossa percepção crítica, naturalmente, não toma como estranho o fato da empresa ter no seu catálogo a série Trotsky, uma série russa que é uma verdadeira obra de manipulação e difamação contra uma das figuras mais centrais da história do marxismo. Quando se refere ao combate ao comunismo, as distintas frações norte americanas e russas se unificam. No entanto, se nossa crítica às obras culturais da empresa se restringirem apenas a esse âmbito o alcance será muito restrito, ou seja, não foi um deslize da Netflix ter em seu catálogo a série Trotsky, mas nem sempre é fácil perceber o conteúdo ideológico das obras que não se referem imediatamente aos temas políticos.

Naturalmente não se pode analisar cada uma dessas obras nessas poucas linhas sem fazer aproximações e generalizações, mas o objetivo é explicitar (ou ao menos nos levar a pensar) a mística geral por trás das “obras críticas”.

Um monopólio da cultura no pós-crise de 2008

Se pudemos perpassar brevemente “a alma do negócio”, é preciso que avancemos a compreender o negócio propriamente dito.

Precisamente no ano de 2007 a Netflix começa seus serviços de streaming e durante a década pós-crise de 2008 a empresa se transforma num dos mais poderosos monopólios capitalistas da atualidade. Na última década o crescimento da empresa foi muito dinâmico, atingindo a cifra de dezenas de milhões de assinantes rapidamente, se expandindo internacionalmente em 2010 para o Canadá, em 2011 para a América Latina e 2012 para a Europa. Em 2013 a empresa decide fazer sua primeira série própria, estreando com House of Cards, e os faturamentos crescem enormemente. A partir daí a empresa se expande numa velocidade avassaladora, com taxas de crescimento entre 22 e 40% de assinantes ano após ano, chegando, em 2019, a aproximadamente 150 milhões de assinaturas ao redor do mundo, atingindo a marca de mais de 190 países.

Entre os principais acionistas da Netflix [4] estão o Vanguard Group, que detém pouco mais de 7% da empresa, um investment advisor com sede em Malvern, Pensilvânia, com US$ 5,3 trilhões (sic!) em ativos sob gestão, sendo o maior provedor de fundos mútuos e o segundo maior provedor de fundos negociados em bolsa do mundo, depois do iShares da BlackRock (que é outro dos maiores investidores da empresa, com 4,21% de suas ações), além do Capital Research & Management, com mais de 8% e o Fidelity Management and Research, com mais de 5%. As produções de séries são discutidas com acionistas de maneira escancarada não como produções culturais, mas como fontes de valorização do capital financeiro. Em carta da empresa aos acionistas [5] podemos ler:

Caros acionistas,
A receita superou US$ 4,5 bilhões no primeiro trimestre e registramos o maior crescimento em renda líquida trimestral da nossa história (9,6 milhões, um aumento de 16% em relação ao ano anterior). Por 20 anos, tivemos a mesma estratégia: quando agradamos nossos membros, eles assistem mais e nós crescemos mais [...] Estamos ansiando uma forte programação de conteúdo global na segunda metade do ano, incluindo novas temporadas de algumas das nossas maiores série, Stranger Things (4 de julho), 13 Reasons Why, Orange is the New Black, The Crown e La Casa de Papel (também conhecido como Money Heist), além de grandes filmes como Six Underground, de Michael Bay, e o Irlandês, de Martin Scorsese, e esperamos em 2019 mais um ano de crescimento recorde em rendas líquidas anuais” [tradução nossa]

Seria uma postura excessivamente conspirativa imaginarmos que, embora os diretores da Netflix afirmem que em suas produções avaliam “apenas” os roteiros e oferecem total liberdade no desenvolvimento [6], ter em vista que as decisões “estéticas” de suas séries podem influenciar decisivamente os rendimentos da empresa e os ganhos dos mais poderosos setores do capital financeiro do mundo e que, portanto, essa “liberdade” pode ser, no mínimo, questionável?

Enquadrar a análise da produção cultural a anatomia econômica da empresa seria um reducionismo que tentamos passar longe, mas autonomizar completamente a dimensão econômica do plano cultural seria uma postura ingênua e pouco crítica. Resta-nos pensar se além das ligações econômicas com o capital financeiro, encontramos também uma feição política.

O partido político por trás das emoções

Em tempos em que a extrema-direita - com Trump, Boris Johnson e Bolsonaro à frente - defende culturalmente o militarismo, a censura à produção artística, o conservadorismo extremo, a “falsidade” do aquecimento global e até mesmo que a Terra é plana, é claro que o espectro opositor é amplo e diversificado. No entanto, na planura imensa, montículos de terra parecem colinas. Frente as barbáries culturais da direita, muitas séries da Netflix parecem ser um alívio para o público progressista, e a tragédia é que se rebaixa, com isso, a crítica da cultura. E a grande indagação que amarra a economia e a estética nesse caso é a seguinte: esse enfrentamento à ultradireita, o aparente progressismo, que se expressa em muitas obras da Netflix é interessado? Por que algumas séries eleitas para o catálogo e não outras? Por que alguns filmes e não outros? Há algo que possa dar certo ordenamento ao aparentemente caótico catálogo?

Levando em conta o conjunto dos determinantes aqui apresentados (novo momento internacional, o caráter estético e os laços econômicos) da empresa, não é tão misterioso a um olhar atento perceber nos Estados Unidos quem são os interessados em dialogar com os temas candentes e apresentar resoluções que vão contra a ultradireita de Donald Trump e influenciar culturalmente a sociedade com esses conteúdos, mas pondo certos limites de até onde vai o dito “progressismo”: a pesquisa pode seguir de forma bem mais minuciosa, mas não temos receio em dizer que o Partido Democrata norte americano é parte importante das influências por trás das emoções, não no sentido político panfletário do termo, mas no profundo sentido ideológico.

A lógica de buscar dialogar com os espectros que vão desde a centro-direita até o público progressista tem sido a tônica política do centro democrata (e uma linha internacional, como é o caso da Rede Globo no caso brasileiro). A produção cultural, no geral, apresenta a mesma lógica, dialogando com os mais distintos temas candentes, sendo “progressista” em alguns casos nos costumes, mas sempre com uma resolução ideológica contraditória ou mesmo burguesa - isso tomado como uma diretriz geral, em que só se pode enxergar essa “linha ideológica” se tomarmos o conjunto das séries e filmes, posto que encontraremos dentro dessa lógica geral séries e filmes mais ou menos progressistas, mais ou menos “liberais”, às vezes até mesmo dentro da própria série é possível notar as transformações ideológicas.

O tema pode ser objeto de análise de um conjunto de séries e filmes, um prato cheio para os apaixonados pelo tema. Mas só para dar uma base material a essa tese, podemos citar o que consideramos três dos exemplos mais contundentes (da relação entre a empresa cultural e a dimensão política), partindo de um que pode ser decisivo no curso político norte americano da atualidade: o CEO da Netflix, Reed Hastings, tem se movimentado abertamente junto a outros grandes do Vale do Silício norte americano dando apoio, financiamento e projeção ao candidato a presidência do partido democrata, Pete Buttigieg [7], possível candidato para enfrentar Donald Trump em 2020. O nível de envolvimento de um CEO da área cultural numa campanha presidencial nesse caso é impressionante, mas ao se analisar o currículo do co-fundador da Netflix com mais cuidado se pode perceber que não é um gesto isolado, mas se encontra uma série de doações diretas e medidas indiretas de apoio a candidatos democratas, particularmente na Califórnia, como foi o caso da doação no caso dos milhões ao candidato a governador Jack O’Connell em 2010, noticiado pelo Los Angeles Times.

Para citar mais duas questões que mostram laços menos momentâneos com o partido: um fato chamativo que se expressou no cenário americano em 2018 é que a Netflix contratou, para o conselho de sua empresa, ninguém menos que Susan Rice, que foi parte do governo de Barack Obama como conselheira de segurança nacional dos Estados Unidos, alto escalão da inteligência e estratégia do país. Além disso, a empresa de produção da família Obama, Higher Ground Productions, tem laços estreitos com a Netflix e, inclusive, foi produtora direta do documentário Indústria Americana [8], premiado no Oscar 2020, rendendo agradecimentos públicos do ex-presidente à Netflix.

O olhar crítico que quisemos ter com esse artigo sobre a indústria cultural se difere do de Adorno e Horkheimer, que embora com insights e reflexões interessantes por vezes terminaram em uma posição bastante elitista sobre a arte; estamos ainda mais na antípoda das análises influenciadas pelo stalinismo, que buscavam o “realismo socialista”, ou seja, que só se poderia reconhecer com valor artístico aquilo que retratasse os trabalhadores.

Assim, todo esse quadro não tem o intuito de reduzir a crítica de obras particulares da Netflix (ou da HBO, Amazon, Disney e outras empresas monopólicas) a uma conclusão facilista, nem transladar às obras um conteúdo pré-determinado, e nem mesmo fazer um juízo a priori do que tem sido transmitido. Não temos dúvida que no mar do streaming da Netflix encontramos obras de valor estético, produções que podem ser progressistas, séries inovadoras e mesmo filmes clássicos do cinema mundial.

Nosso objetivo não é fechar com uma fórmula o debate, mas abrir o espaço para a crítica, hoje quase inexistente, à indústria cultural e mesmo ao que é dito como “alternativo”, pois estamos muito abertos para as grandes produções e um pouco surdos para a produção independente ou que se pretende enfrentada com a indústria cultural. Em outras palavras, nos parece necessário que os trabalhadores e a juventude olhem com menos ingenuidade as produções culturais monopólicas e tenham sempre em mente que a luta de classes não termina quando ligamos as black mirror [telas] nos momentos de lazer.

 
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