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DEBATE
Por que PSTU e Resistência-PSOL só aderiram à greve petroleira depois de uma semana?
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi
Bruno Gilga

O que pode explicar a adesão à greve dos sindicatos dirigidos por essas correntes só uma semana depois de deflagrada a greve nacional?

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A direção da FUP e da CUT atua consciente e sistematicamente para limitar o potencial da greve, ao isolar os petroleiros do restante da classe trabalhadora - a própria CUT e a CTB dirigem os sindicatos de categorias como correios e educação, onde estão chamando greve e paralisações para março, dividindo ao invés de unificar - e limitar a consigna “não às 1mil demissões” ao programa de cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho – deixando de fora 600 terceirizados demitidos. Mas infelizmente os sindicatos petroleiros dirigidos por correntes de esquerda - como os sindicatos de Alagoas/Sergipe e Amazonas/Maranhão/Pará, dirigidos pelo PSTU, e do Rio de Janeiro, cuja direção é integrada por PSTU e Resistência-PSOL - não oferecem uma alternativa. Ao contrário.

Nas bases petroleiras em greve houve um espanto nos primeiros dias de greve, por dias a fio sua greve não contava com a adesão de correntes políticas que se reivindicam revolucionárias. Elas se contentaram com um textinho burocrático de apoio, um twibbon na foto do facebook e olhe lá. A CSP-Conlutas, central sindical dirigida pelo PSTU, deu o mesmo apoio burocrático, ou seja nulo, à greve. Fez tanto quanto a CUT, CTB, e demais centrais sindicais.

O que explica essa atuação rotineira e passiva e que dividiu a categoria por mais de uma semana, e que mesmo agora que aderiram à greve segue sem apontar nenhuma mudança de atuação fora da categoria para contribuir para a vitória de uma greve que poderia fortalecer toda a classe trabalhadora nacional? Agindo assim estão objetivamente fortalecendo a direção da FUP e da CUT.

A greve iniciada no dia 01/02 nas bases vinculadas à FUP não contou com adesão do conjunto dos sindicatos ligados a FNP até sexta-feira 07/02, e até o presente momento (10/02) a CSP-Conlutas não fez absolutamente nada substancial em apoio. O nível de passividade espanta, sequer notas de internet em apoio temos em muitos dos cerca de 200 sindicatos vinculados a CSP-Conlutas, muito menos medidas mais contundentes.

A entrada em greve dos sindicatos vinculados à FNP terminou a perigosa divisão da categoria neste momento, mas está longe de apontar um caminho que leve ao triunfo da greve. Nessa dura greve, a paralisação de toda a categoria é necessária, mas não esgota os imensos desafios postos diante dos petroleiros.

A direção da FNP, onde atuam os militantes da CSP-Conlutas na categoria, é composta por sindicalistas independentes, petistas críticos, alguns militantes do PSOL e tem como principais correntes o PSTU e o Resistência-PSOL. A FNP dirige os sindicatos do Rio de Janeiro, Litoral Paulista, São José dos Campos, Alagoas/Sergipe e Amazonas/Maranhão/Pará, e dirige algumas oposições em bases da FUP. A desculpa dada pelos militantes do PSTU e do Resistência-PSOL de porque os sindicatos da FNP não entravam na greve por uma semana foi meramente legal. Havia que protocolar um aviso de greve e isso só foi feito na segunda-feira à noite.

Mas a desculpa das maiores correntes da FNP só piora as coisas. O que explica que essas direções sindicais tenham assistido por semanas que os trabalhadores estavam em assembleias votando greve em defesa dos mil empregos da FAFEN e eles nem protocolaram um aviso burocrático? Como sindicalistas que se reivindicam classistas, socialistas e revolucionários observam que no país todo estão acontecendo assembleias com um conteúdo muito interessante – entrar em greve defendendo 1mil empregos de um local isolado do país – defendendo empregos de próprios e terceirizados e essas direções sequer protocolam um aviso de greve para acompanhar o restante da categoria?

Temos duas hipóteses explicativas para essa atuação.

Sectarismo e a batalha pela unidade

Primeiro um profundo sectarismo oriundo das repetidas traições da FUP, uma desconfiança que não ocorreria a greve, que a FUP a abandonaria antes dela nascer. Trata-se de um sentimento legítimo de desconfiança que percorre os trabalhadores das bases da FNP, trabalhadores que se viram ano após ano tentando continuar uma greve mas vendo a FUP abandoná-la.

Esse sentimento vivo e legítimo na base não pode ser o que prevalece numa direção sindical, ainda mais uma que se reivindica revolucionária e que deveria diariamente batalhar pela união e não pela divisão da categoria e nada impediria uma direção consciente de protocolar uma aviso de greve e não executá-lo para poupar de desgastes políticos e materiais setores da categoria se a FUP abandonasse a greve. Mantendo-se integralmente no campo da união, deixando a divisão na mão da FUP. Mas a atuação foi totalmente o avesso disso e assim, o PSTU, a Resistência-PSOL e toda a FNP contribuíram para o prestígio e influência da FUP, contribuíram para que os rumos da greve sejam muito mais integralmente ditados pelos ditames burocráticos e de cúpula que a FUP quiser.

O abandono do papel de direção

Outra explicação está nos longos anos em que a FNP, e sobretudo o PSTU com sua Influência na própria FNP, deu primazia a elementos exclusivamente econômicos nas reivindicações para “engrossar” as manifestações e mobilizações que supostamente estariam sempre rumando mais e mais à esquerda.

Assim buscaram difundir na categoria posições que eram sistematicamente de discutir muito mais a PLR do que as privatizações (nunca em absoluto, mas como prioridade) e combinavam isso com sua muito particular visão nacional de que estaríamos à véspera de um ascenso dos trabalhadores, sempre na iminência da greve geral, que os trabalhadores não deveriam combater as mudanças que estavam acontecendo no regime político para aprofundar ataques, aprofundar a entrega ao imperialismo, muito pelo contrário, o impeachment ajudaria os trabalhadores. Nessa análise, pelas mãos do Congresso, de Sérgio Moro e da Lava Jato poderiam vir vitórias para os trabalhadores.

Dentro dessa visão o impeachment não era golpe, ele fortaleceria a classe trabalhadora. A própria eleição de Bolsonaro foi encarada pela curiosa lente analítica do PSTU como continuidade de uma raiva dos trabalhadores de suas direções tradicionais que abria caminho à esquerda. Mantendo esse “credo” que tudo avança sozinho talvez faça sentido porque o PSTU e a CSP-Conlutas podem se dar o luxo de sequer atuar fortemente para fortalecer a greve petroleira, ajuda-la a romper o blecaute de informação que a mídia promove. Afinal, se tudo está avançando sozinho para que se mexer?

Para que se dar o trabalho de que alguns dos 200 sindicatos da CSP-Conlutas façam o que os militantes do MRT propuseram e os trabalhadores aprovaram em assembleia do metrô-SP, uma panfletagem à população apoiando a greve petroleira?

Se tudo avança sozinho para quê o combate diante de burocracias da CUT e CTB para que ocorra a unificação das lutas, para que apoiem efetivamente os petroleiros, para que outras categorias enfrentando importantes ataques juntem-se a luta dos petroleiros, fortalecendo-se mutuamente? De parte do PSTU nenhuma palavra a respeito, uma vez se une os petroleiros automaticamente rumamos para o mítico mundo da greve geral como entende-se em uma das notas do PSTU diante da greve.

O Resistência-PSOL por sua vez, atua na categoria de forma praticamente idêntica a de seus aliados sindicais do PSTU, mesmo que seja muito diferente sua análise e posicionamento na política nacional. Não usam sua inserção no PSOL para que esse partido coloque todas suas forças para fortalecer a greve, furar o bloqueio midiático, e desde a influências dos parlamentares poder exigir da CUT um efetivo apoio aos petroleiros.

Tal como o PSTU, o Resistência-PSOL também não critica a CUT e sua paralisia em apoiar essa greve importantíssima. Para essas duas correntes não parece ser um problema que os petroleiros estejam sozinhos numa histórica, porém duríssima greve.

Aparentemente para o Resistência-PSOL um discurso parlamentar por semana por deputado é o correto combate que está sendo dado. A grande política anunciada pelo Resistência é exigir/aconselhar que Lula convoque a mobilização marcada pela educação no longínquo dia 18 de março, e não a imediata unificação das lutas. É explicitamente isso que diz artigo de André Freire, dirigente do Resistência publicado no dia 5 de fevereiro, quinto dia de greve petroleira:

“o PT e, inclusive, o ex-presidente Lula, usando o apoio que ainda possuí entre os trabalhadores, deveriam apoiar publicamente as greves e mobilizações que estão ocorrendo, se colocando a frente da convocação dos protestos nacionais, já a partir do dia nacional de lutas indicado para 18 de março.”

Passividade e seu complemento mágico: a curiosa tática de súplica a Bolsonaro

Essa posição passiva seja do Resistência-PSOL, seja do PSTU complementa-se na direção da FNP com um forte economicismo e uma curiosa tática de exigência e súplica a Bolsonaro.

O economicismo se expressa na própria pauta com que os 5 sindicatos da FNP entram em greve agora, ela é muito menos hierarquicamente política, dá muito menos peso ao combate às mil demissões na FAFEN e às privatizações. O peso superior está dado ao ataque à tabela de turno, à PLR, ataques sentidos e que devem ser combatidos, mas que não são a batalha de vida ou morte de Araucária-PR.

Isso fica claro no cartaz com que os sindicatos da FNP convocaram suas assembleias:

Para blindar-se de uma crítica de secundarizar a FAFEN e pautas políticas da categoria, as direções da FNP buscaram complementar sua política com um esforço de colocar em um plano maior a denúncia dos altos preços dos combustíveis para abrir caminho às privatizações.

É de crucial importância mostrar essa relação entre preços dos combustíveis e privatizações como tem sido denunciado pelos trabalhadores de norte a sul do país, e particularmente nas ações de venda de gás de cozinha com preços baratos. A tática da FNP para essa pauta não leva a radicalizar essa tendência a auto-organização, a que os trabalhadores confiem em sua força para organizar a empresa e a sociedade de outro modo, ao contrário leva a esperar que alguém reaja. E esse alguém seria Bolsonaro (!!!).

A FNP aprovou uma carta a Bolsonaro, suplicando que mude de política de preços, eis o que diz a carta da FNP, publicada pelo PSTU:

“Se o senhor, Bolsonaro, está realmente preocupado com o preço dos combustíveis para os brasileiros, mude a política de preços da Petrobrás, pare as privatizações das refinarias e fábricas de fertilizantes e aumente a produção nacional de derivados do petróleo. Só assim o senhor estará sendo, de fato, e não só em palavras, nacionalista.”

O cachimbo entorta a boca, diz o ditado. E de tanto aplaudir os atos dos patos da FIESP como progressistas agora o PSTU conseguiu que a FNP, onde estão correntes que foram contra o golpe, publiquem junto ao PSTU uma súplica ao reacionário e privatista Bolsonaro para que ele abra os olhos, seja nacionalista e diminua os preços.

Onde está a confiança para que os trabalhadores desenvolvam sua própria atividade independente? Onde está a atuação para cercar de solidariedade os petroleiros? Onde está o desafio às direções sindicais burocráticas para unificar as lutas e contribuir à vitória? Está longe da atuação dessas correntes que aqui criticamos. É preciso de urgentes medidas para que a greve petroleira se fortaleça, como tentamos contribuir nesse artigo com 6 propostas:.

O Esquerda Diário, o MRT e a juventude Faísca estão colocando todas suas forças para furar o bloqueio da mídia, participando de norte a sul do país nos piquetes, em cada manifestação de rua, nas vendas de gás a preço acessível, em assembleias, e lutando para que outras categorias apoiem a greve petroleira.

 
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