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1 ANO DO INCÊNDIO NO NINHO DO URUBU
1 ano do incêndio no Ninho do Urubu: Um futuro interrompido e a busca por justiça
Rafael Barros
Calvin de Oliveira
Estudante de Geografia da UFF - Niterói

O dia de hoje(8) marca 1 ano de 10 sonhos interrompidos, vítimas de um incêndio no Ninho do Urubu, CT do Flamengo, tirando, os então jogadores da base do clube das suas famílias precocemente. Depois de 365 dias, ficam lembranças e cicatrizes, onde a sede do lucro fala mais alto que as vidas perdidas e fecha as portas para o desejo de justiça de familiares.

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Pablo Henrique da Silva Matos, 14 anos. Athila Souza Paixão, 14 anos. Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, 15 anos. Bernardo Pisetta, 14 anos. Christian Esmério, 15 anos. Gedson Santos, 14 anos. Jorge Eduardo Santos, 15 anos. Rykelmo de Souza Viana, 17 anos. Samuel Thomas Rosa, 15 anos. Vitor Isaías, 15 anos.

Hoje se completa um ano do incêndio no Ninho do Urubu, que matou estes 10 jovens, sonhadores, jogadores das categorias de base do Flamengo. Um ano do dia em que a sede de lucro de um clube, que deixou jovens da periferia de diversos lugares do país, jovens negros, jovens que sonhavam com um futuro no esporte mais querido do país, sem sonho algum. Que arrancou, fruto do descaso de alguns, a esperança de 10 famílias, no futuro de seus filhos.

Os garotos vivam no Centro de Treinamento do Flamengo, em “alojamentos” ultra precários, sem condições mínimas de sobrevivência. Eram conteinners, improvisados como dormitórios, que contrastavam com as luxuosas instalações dos jogadores profissionais a apenas alguns metros de distância.

O incêncio começou nas primeiras horas da madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019, às 5h17. Rapidamente, o alojamento onde dormiam e vivam os jovens jogadores, foi completamente tomado pelo fogo. Apenas 3 jovens conseguiram sair, e sobreviveram.

Imagens das câmeras de segurança do Ninho do Urubu, no ano passado, no momento em que as chamas tomavam o dormitório dos garotos da base

Horas após o incêndio, as notícias foram se acumulando. O “alojamento” onde vivam os garotos, não tinham alvará para funcionamento, nem garantias de segurança para que pudessem viver ali. As instalações do ar-condicionado indicado como ponto de início do fogo indicavam que não havia manutenção a tempos nos aparelhos. A prefeitura do Rio, dias depois, divulgou que o Flamengo já havia recebido quase 30 autos de infração por não ter os alvarás necessários.

Nos dias que seguiram, as tristes imagens dos jovens sobreviventes, dos familiares e amigos sofrendo a morte de seus filhos e amigos, contrastava com a dor de milhões de amantes do futebol, e dos que se indignaram pelo descaso, ao ver o futuro ser arrancado de forma tão cruel. Semanas antes, estes mesmos meninos, gravam vídeos nos dormitórios, se divertindo, cantando o hino do Flamengo, e sonhando com um futuro brilhante como profissionais. O descaso do Flamengo, cortou esses sonhos pela raiz.

Hoje, um ano depois de uma tragédia que deixou muito clara que a sede de lucro de alguns é maior do que o valor das vidas de outros, as famílias dos jovens ainda buscam justiça. Após a tragédia o Flamengo se recusou a aceitar a decisão da Justiça do Rio de Janeiro, em pagar indenizações às famílias. Em fevereiro de 2019 o clube recorreu à decisão que deliberava uma penhora de R$ 100 milhões para indenizar as famílias. A decisão do clube foi de negociar individualmente com cada família, tentando, cinicamente, precificar quanto valeriam as vidas desses jovens caso se tornassem profissionais, para reduzir os valores que pagariam as famílias.

A indignação dos familiares, e de torcedores de todos os clubes do país, cresceu, ao ver os milionários lucros do Flamengo com vendas de jogadores (no último período arrecadaram quase R$ 500 mi em vendas de jogadores para o exterior), e por outro lado, o descaso e constante recusa em aceitar valores determinados judicialmente como indenização para as famílias.

“O flamengo gasta 200 milhões contratando jogadores, e eu vou chorar a vida inteira pelo meu filho”. Essa frase, que representa bem a indignação que gera todo esse cenário é de Cristiano Esmério, pai de Christian, dada ao El País, no ano passado.

Ontem na Alerj, aconteceu a CPI dos Incêndios. Nela estavam pais de alguns dos meninos do Ninho, além do CEO do Flamengo, Reinaldo Belotti, e Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo. O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, também havia sido convocado, mas não compareceu à CPI. Os representantes do clube só estiveram lá pois houve grande repercussão na mídia de que nenhum deles estaria presente. A CPI estava marcada para as 11h da manhã, e os representantes e ex-representantes do clube chegaram apenas cerca de 13h. Eduardo Bandeira de Mello saiu de Brasília após a péssima repercussão na imprensa da ausência de dirigentes do rubro-negro.

Familiares do garoto Pablo, uma das vítimas fatais do incêndio no Ninho, ontem em CPI na Alerj

Ali também se ouviram algumas fortes declarações de familiares, que corretamente sem pudor, deixaram transparecer sua indignação com a postura do clube, que constantemente mostra não ter nenhum lado humano.

“Eu fiquei sabendo que meu filho morreu através da mídia”, foi o que disse o pai de Pablo, um dos meninos mortos no incêndio, na tarde de ontem (7), na CPI. “Amanhã faz um ano (...) e eu nunca recebi um bom dia, um boa tarde (...) Eu tenho um ano, vai fazer amanhã, que eu não sei o que é uma noite de sono(...)”

Que a sede de lucro de alguns pare de passar por cima do sonho de muitos. Aos amantes do futebol, e aos amantes da vida, os 10 meninos do Ninho nunca serão esquecido! Que seja feita a justiça por suas mortes!

 
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