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"Olha lá, outro corpo caído na via do trem"
Redação

“o metrô informa a todos que estamos com velocidade reduzida e maior tempo de parada devido à presença de usuário na via”. Quando ouvirem essa mensagem pelos equipamentos sonoros dos trens e estações, lembrem que uma pessoa quis acabar com seu sofrimento tirando a própria vida, e que em algum lugar nós, trabalhadores do metrô, estamos nos desdobrando, mesmo em número reduzidos e cansados de tanto trabalhar, pra tentar salvar essa vida.

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Corre um arrepio sempre que escuto a seguinte mensagem sonora nas estações ou trens: “o metrô informa a todos que estamos com velocidade reduzida e maior tempo de parada devido à presença de usuário na via”.

É que muitas vezes a presença de usuário na via significa que alguém tentou se matar se jogando na frente de um trem.

Muitas vezes significa que em alguma estação companheiros de trabalho terão que lidar com a tarefa de tentar salvar uma vida a retirando debaixo do trem, - o que por si só já é uma situação bastante estressante - e às vezes com um quadro operativo defasado - como saiu aqui em outro texto nesse site - de apenas 3 funcionários quando são necessários 5 funcionários para realizar tal operação, como nos ensinaram em treinamento.

Acontece às vezes, mas fim de ano sempre é pior. Corrigindo, fim de ano é sempre pior, mas esse último parece que piorou ainda mais. É a crise, o desemprego, esse adoecimento geral - afinal, eu não lembro de outro ano em que enterramos tantos companheiros da categoria que tiraram a própria vida -; e não parece ser coincidência ser o primeiro ano de governo Bolsonaro.

No dia 24 de dezembro foi um senhor na estação jardim São Paulo que tentou se jogar na linha do trem, desistiu em cima da hora - foi o que disseram os outros usuários -, mas não a tempo de o trem não pega-lo. Morreu na plataforma e as duas únicas funcionárias, das três presentes na estação, não puderam fazer nada para salvá-lo. Era véspera de Natal.

Foi o primeiro ano de um governo de ultra direita, com posições declaradas contra os pobres, mulheres, negros e LGBTs. Um governo eleito para atacar a classe trabalhadora e fazer lucrar os patrões, eleito com um discurso anti-corrupção, mas que aprovou a reforma da previdência comprando votos de parlamentares, a mesma reforma que tirou qualquer perspectiva de futuro de pessoas como esse senhor que foi vítima do desespero na estação Jardim São Paulo, na véspera de natal.

Como disse, o alvo deste governo é a nossa classe, a mesma que se mata de trabalhar, chegando a literalmente morrer, em serviços de entregas - que os patrões e sua justiça ousam chamar de empreendedorismo -; por mais que o problema do Suicídio cruza todas as classes sociais, fruto da existência vazia que o capitalismo impõe a tantos de nós, é a classe trabalhadora que diante do desespero busca soluções tão drásticas como por fim ao seu sofrimento pulando na frente do trem.

Então quando ouvirem essa mensagem pelos equipamentos sonoros dos trens e estações, lembrem que uma pessoa quis acabar com seu sofrimento tirando a própria vida, e que em algum lugar nós, trabalhadores do metrô, estamos nos desdobrando, mesmo em número reduzidos e cansados de tanto trabalhar, pra tentar salvar essa vida.

 
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