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REPORTAGEM DO ARRÊT SUR IMAGES
França: "Révolution Permanente, uma imprensa militante em ascensão"
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Tradução do artigo escrito por Tony Le Pennec publicado pelo site francês de análise crítica midiática Arrêt sur Images em 22 de janeiro de 2020.

Com seus jornalistas presentes massivamente nos piquetes de greve e, antes, nas manifestações dos Coletes Amarelos, o site de notícias ligado ao NPA (Novo Partido Anticapitalista), Révolution Permanente, soube construir o espaço que o coloca como primeira escolha no universo das mídias militantes.

O diário é explicitamente de extrema-esquerda e impulsionado por uma das correntes dentro do NPA. Sua audiência cresceu enormemente com o movimento dos Coletes Amarelos que, no entanto, expressam uma grande desconfiança em relação ao conjunto dos partidos políticos. Aí está o paradoxo do Révolution Pérmanente (RP), site criado em 2015 pela Corrente Comunista Revolucionária (CCR, uma das tendências do NPA, que se declara como parte da "Fração Trotskista - Quarta Internacional"). Muito presente nas redes sociais com vídeos curtos e lives, esse reivindicado site de notícias militante publica também diversos artigos de atualidade e de análise de movimentos de luta. E reproduz alguns artigos de mídias anticapitalistas "irmãs" como os da rede La Izquierda Diario, da América Latina.

Révolution Permanente: os grevistas não conseguem mais viver sem ele

Sendo os redatores todos voluntários, o site se distingue de outras mídias também ligadas a partidos políticos pelo gosto assumido pelas "reportagens de campo" e por um estilo e um conteúdo profissional sobre as lutas sociais, se distanciando das notícias do NPA. "Queremos ser uma mídia de verdade, não apenas um site de um partido", explica ao Arrêt sur images (ASI) Flora Carpentier, membra do comitê de redação do Révolution Permanente. Após ter coberto amplamente os Coletes Amarelos, o Révolution Permanente agora escreve abundantemente sobre o movimento social atual contra a reforma da previdência. "Temos um comitê de redação de cerca de 20 pessoas", detalha Flora Carpentier. "Dois ou três se reúnem a cada dia para definir a linha e escolher os assuntos. Geralmente, publicamos apenas de terça a sábado, mas no contexto atual, estamos publicando diariamente". Os membros da Corrente Comunista Revolucionária, trabalhadores ou estudantes, escrevem a partir dos locais de luta que os concernem diretamente (por exemplo, um estudante escrevendo sobre a ocupação de sua faculdade, um trabalhador sobre o piquete de greve de sua empresa) como também escrevem sobre um outro local (um estudante indo entrevistar trabalhadores em greve, por exemplo).

Entrevista de Nadia, grevista da RATP (Révolution Permanente - 20 janvier 2020)

"Jornalistas do Révolution Permanente estão no piquete de greve conosco todos os dias", explica ao ASI Mehdy, sindicalista da CGT [Confederação Geral do trabalho] da garagem de ônibus da RATP [Companhia Autônoma de Transportes Parisienses] de Ivry-sur-Seine. "Eles escrevem bem, eles são confiáveis, deveria ter mais como eles". O ativista da CGT, um dos líderes do movimento da garagem de Ivry, explica que descobriu o site com o movimento contra a reforma da previdência, e não consegue mais ficar sem ele. "Nós mesmos ficamos sabendo do que está acontecendo nos outros locais de trabalho graças ao Révolution Pérmanente. Por consequência, podemos transmitir as informações nas Assembleias Gerais e contar aos nossos colegas o que acontece nos outros lugares, para continuar a estimulá-los". Em Ivry, o Révolution Permanente filmou o grande embate entre os trabalhadores em greve tentando bloquear a garagem e as forças de segurança vindo os retirar do local, no dia 9 de dezembro de 2019.

Sobre a mesma garagem, o diário militante publicou no dia 8 de janeiro uma longa reportagem contando o cotidiano do piquete de greve. É claro que tratam das reivindicações, mas também dos vínculos que se criam nas lutas, da transmissão do espírito sindical entre os velhos e jovens, do cuscuz feito por um grevista que era cozinheiro com o objetivo de atrair o máximo de pessoas ao piquete.

A eficácia do "escândalo midiático" do Révolution Permanente

Antes do início do movimento social, o site noticiava as desgraças de Ahmed Berrahal, maquinista e militante da CGT na RATP. Como membro da comissão de saúde, segurança e condições de trabalho, ele tinha avaliado os ônibus que saiam da garagem de Belliard, no 18o arrondissement, e constatou que 70% dos veículos não estavam em conformidade aos padrões de segurança. Uma avaliação à qual a direção da RATP respondeu… convocando o trabalhador e ameaçando de demiti-lo. "Tinha falado de minha situação no Facebook", conta Berrahal ao ASI. "Flora Carpentier viu e falou comigo sobre o assunto. Nesse momento, eu não conhecia o RP. Mas, depois dos artigos que eles fizeram sobre mim e sobre o estado dos ônibus, grandes mídias vieram até nós ou falaram da situação [France3, L’Humanité, Ouest-France, BFMTV, por exemplo]. O primeiro adjunto da prefeitura de Paris foi obrigado a reagir". Por fim, chegando a correr o risco de ser demitido, deram apenas um dia de suspensão a Ahmed Berrahal. "É graças ao escândalo midiático provocado pelo RP que a RATP não pode mais me sancionar", disse o sindicalizado, que se tornou um seguidor incondicional do site depois disso.

"Os jornalistas do Révolution Permanente estão no piquete conosco desde às 4h da manhã, sem serem pagos, eles são quase mais motivados que nós!", continua Berrahal. "Foram eles também que nos aconselharam de fazer um fundo de greve [online] para a nossa garagem, nos asseguram que eles iriam compartilhá-la. Desde então, nós arrecadamos 50.000 euros!".

Para Berrahal, o "RP" é uma nova ferramenta que nos permite obter rapidamente as informações sobre o conjunto da luta. "Nos movimentos sociais anteriores, nós não sabíamos de fato o que ocorria nos outros lugares". Uma ferramenta cuja eficiência se mede segundo a exasperação que ela suscita nas direções das garagens e terminais da RATP: "Os gerentes não suportam mais ver o pessoal do RP todas as manhãs no piquete".

Enquanto o "RP" dá de bom grado a palavra aos trabalhadores sindicalizados, ele não é nada amistoso com suas direções. A atitude de Philippe Martinez, dirigente da CGT, em relação aos Coletes Amarelos foi duramente criticada pelo site. No movimento social atual, a escolha de Martinez de aceitar uma conferência de negociação com o governo foi objeto de uma resposta contundente. "Os grevistas não querem negociar, eles querem a retirada do projeto [de reforma da previdência], é isso", afirma Flora Carpentier. Da mesma forma, quando os ativistas invadiram a sede da CFDT e a direção da CGT condenou a ação, o RP, em artigo escrito por um militante da CGT, respondeu acusando a direção cegetista de "estar indo ao encontro do governo e da patronal". Nas lives, nas entrevistas ou nas reuniões organizadas pelo "RP", a palavra é dada aos sindicalizados da base, não às direções. "Não verão a gente convidar o Philippe Martinez, por exemplo", diz Flora Carpentier. "De toda forma, se a gente o convidar, será para questionar suas posições, o que eu imagino que ele não aceitaria!".

2 milhões de visitas mensais durante os Coletes Amarelos

Antes do movimento social atual, os Coletes Amarelos foram um outro momento de forte audiência para o Révolution Pérmanente.

Os Coletes Amarelos fizeram explodir as visitas do RP (Google Analytics - Révolution Permanente)

Em janeiro de 2019, o site reivindicava 2 milhões de visitas únicas nos últimos 30 dias, ultrapassando os maiores sites de extrema-esquerda franceses, Paris-lutte.info ou Lundi Matin. No entanto, não foi uma vitória imediata: os Coletes Amarelos reivindicam sua desconfiança em relação a todos os partidos políticos. Uma mídia ligada a um deles, mesmo entre os partidos revolucionários, necessariamente não saíria com o pé direito. Mas a filiação do RP não é necessariamente conhecida de todos. "Pessoalmente, foi em dezembro passado que, vendo uma live do Anasse Kazib [sobre o qual ASI fez uma reportagem recentemente], que eu tomei conhecimento que era uma mídia trotskista, ligada ao NPA", nos informa como exemplo Jérôme Rodrigues (a quem recebemos em nosso programa), um dos líderes dos Coletes Amarelos frequentemente entrevistado pelo Révolution Permanente. Por outro lado, segundo Flora Carpentier, "os Coletes Amarelos compreenderam que estávamos do lado dos oprimidos. Nos opomos às mídias tradicionais que tentaram sufocar o movimento". Esta visão não impede que o site siga firme com seus posicionamentos, os quais não necessariamente são compartilhados pelos Coletes Amarelos. "Nós trabalhamos pela construção de um partido revolucionário. E nós assumimos isso. Durante as eleições, fazemos campanha para o NPA".

Mesmo tendo descoberto a afiliação do Révolution Pérmanente, isso não incomoda Rodrigues: Quando me dão a palavra, eu a tomo". Sem medo de ser "cooptado"? "Esse movimento é incooptável", ri este que foi baleado com um tiro de LBD [Lançador de balas de defesa, em tradução livre] em janeiro de 2019, em uma manifestação dos Coletes Amarelos. Durante os atos, o Révolution Pérmanente posta vídeos nas redes sociais de diversas cidades da França. Vídeos das manifestações, da violência policial, de entrevistas com manifestantes, "Os vídeos nas redes sociais são muito populares. Nossa aposta é trazer pessoas, por essa via, para nossos artigos", explica Carpentier. Révolution Pérmanente se inspira também nos formatos que foram exitosos durante os Coletes Amarelos. "As lives de personalidades dos Coletes Amarelos foram uma ideia que nós retomamos para o movimento de greve atual". Por exemplo, com as lives de Anasse Kazib, o super carismático militante da Sud Rail e do NPA.

Live de Anasse Kazib no estilo "Coletes Amarelos", com um toque sindicalista (YouTube - 13 janvier 2020 - Révolution permanente)

O erro de Tolbiac, a retificação do hospital Salpêtrière

Jérôme Rodrigues e outros sindicalizados entrevistados pelo ASI evocam a confiabilidade do Révolution Permanente. Uma confiança que foi afetada em abril de 2018, quando RP reproduziu um boato de que havia um grave ferido durante uma evacuação da faculdade de Tolbiac pela polícia (sobre a qual, ASI comentava aqui) "Desde então, nós tomamos muito mais preucação", afirma Flora Carpentier. "Como todo mundo, não somos infalíveis, mas quando vemos, por exemplo, como a BFM trata o movimento de greve, eu diria que somos muito mais confiáveis".

No caso da fake news de Christophe Castaner [Ministro do Interior da França], quem, no dia 1o de maio de 2019, afirmou que os manifestantes haviam "atacado" o hospital Pitié Salpêtrière (o ASI comentou sobre o episódio, o RP foi, por exemplo, um dos primeiros a desmentir esta falsa versão, com vídeos de enfermeiros em apoio. Enquanto isso, as rádios e programas de TV tinham se metido de cabeça na versão ministerial.

Tradução: Lina Hamdan

 
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