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Impeachment nos Estados Unidos: Trump pode ser destituído?
Claudia Cinatti
Buenos Aires | @ClaudiaCinatti

A Câmara de Representantes do Congresso norte americano, de maioria democrata, acabou de aprovar uma resolução que estabelece o mapa da rota que as investigações seguirão de agora em diante, que culminarão, ou não, no julgamento político (impeachment) contra o presidente Trump.

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Estas investigacões já estão em curso há mais de um mês, mas o que muda é que as audiências nas quais dezenas de funcionários e outras testemunhas deram declarações que vinham ocorrendo a portas fechadas, serão de agora em diante mais públicas, o que inclui a transmissão pela televisão. Ou seja, em duas semanas quando sejam retomados os testemunhos, o impeachment se transformará em uma espécie de reality show, que tanto republicanos, quanto democratas aproveitarão para as suas respectivas campanhas eleitorais.

Com as eleições de 2020 na mira, o presidente já reagiu pelo twitter denunciando “a pior caça às bruxas da história”, e continua em turnê consolidando o núcleo duro da sua base eleitoral, tem na carteira um novo pacote de redução de impostos e outras medidas de estímulo frente aos sinais cada vez mais evidentes de desaceleração econômica.

Legalmente a votação não tem nenhum significado legal, nem tampouco era necessária. No entanto, tanto sua motivação como seus resultados e consequências precisam ser lidas em chave política.

O principal elemento de análise é que para além das tendências à fragmentação dos dois grandes partidos tradicionais, e das lideranças polarizantes, como a do próprio Trump, a grande política norteamericana segue dominada por um bipartidarismo blindado: todos os democratas, menos dois, votaram à favor da resolução. Todos os republicanos, menos um, votaram contra.

Disto surgem duas conclusões. A primeira é que os democratas conseguiram uma conquista tática, que não poderão transformar em um processo sério que culmine no fim antecipado da administração de Trump. Isso se dá porque a Câmara de Representantes pode começar as investigações e votar o pedido de juízo político, mas o Senado é a instituição encarregada de executá-la, onde a maioria é dos republicanos.

A segunda conclusão é que Trump alinhou seu partido quase se fissuras atrás de sua liderança, apesar de ser muito questionado pela establishment conservador em âmbitos que vai da política exterior até as tendências protecionistas e a falta de estratégia para liderar o império e o mundo ocidental. Até agora, as pesquisas de opinião indicam que na hora de ganhar a presidência, o “populismo” trumpista ainda paga.

Em síntese, a votação habilita a utilização das audiências e do processo como se fossem spots de campanha eleitoral, mas afasta a possibilidade de que Trump seja submetido a um julgamento político e eventualmente destituído.

Nancy Pelosi que lidera a oposição democrata e é uma veterana de muita experiência, sempre soube que o impeachment era um sonho impossível. Nestes anos resistiu com êxito aos impulsos destituintes de alas rebeldes de seu partido, até que as evidências contra Trump na esteira do caso com o presidente da Ucrânia, e a pressão do “estado profundo”, ou seja, as agências de inteligências e setores de militares, se tornaram insustentáveis. Particularmente após algumas decisões que encontraram resistência, como a retirada das tropas da Síria.

O que inclinou a balança à favor do impeachment foi a denúncia de um informante secreto (literalmente um “dedo duro”) de que Trump havia pressionado o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, por telefone, para que investigasse o filho de Joe Biden, o vice-presidente de Obama e atual pré-candidato democrata. Em troca deste favor, Trump liberaria uns 400 bilhões de dólares em no sentido de ajuda militar financeira para a Ucrânia, considerara um ativo na política anti-rússia do imperialismo norteamericano.

Frente às evidências inocultáveis, Trump terminou admitindo a ligação e a pressão, assessorado pelo seu advogado Rudolph Giuliani, o relembrado prefeito pró-polícia de Nova York pela sua famosa “tolerância zero” (e que se diga de passagem, um amigo de Sérgio Massa).

Outro elemento de peso que fez com que os democratas finalmente se jogassem em impulsionar o impeachment são as pesquisas de opinião, segundo às quais passou de ser completamente impopular para colher um apoio de 48% em média, com uma tendência ascendente inclusive nos seis “swing states” que foram chave para o triunfo de Trump de 2016.

O caso ucraniano respinga em democratas e republicanos igualmente. É tão certa a extorsão de Trump como são os negócios turvos da família de Joe Biden, que demonstrou antecipadamente os efeitos com uma queda significativa nas duas preferências nas primárias democratas frente aos seus rivais da ala esquerda do partido, Elizabeth Warren e Bernie Sanders.

Existem apenas dois precedentes na história recente de um impeachment contra um presidente nos Estados Unidos: a renúncia de Nixon em 1974 antes que se iniciasse o julgamento político pelo escândalo de Watergate, com o fundo da derrota iminente na guerra do Vietnã. O julgamento político contra Bill Clinton em 1998 so qual resultou finalmente absolvido.

O impeachment contra Trump é até agora o ponto mais alto de uma guerra civil de baixa intensidade que enfrenta setores do aparato estatal (o “estado profundo” intangível para os votantes) as classes dominantes e seus partidos.
Estas divisiões da classe dominante dão como resultado governos com bases eleitorais estreitas, que se sustentam na polarização política e na fratura social, que aprofunda suas raízes no esgotamento da hegemonia neoliberal e a crise capitalista de 2008.

A promessa de capitalizar eleitoralmente a curto prazo perde brilho frente ao risco de expor a obscena podridão da classe política da principal potência imperialista, que será transmitida ao vivo pelos grandes canais de televisão nos Estados Unidos e no mundo.

São estas divisões dos de cima que facilitam as ações dos de baixo. Não apenas no Equador, Chile, Sudão ou Argélia, mas nos próprios países centrais. Na França vimos isso com os “coletes amarelos” E nos Estados Unidos com a imponente greve de seis semanas dos trabalhadores da General Motors e agora com a luta de milhares de professores em Chicago.

 
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