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NEM COM O GOVERNO, NEM COM A DIREITA
Como lutar contra os ajustes em uma perspectiva classista?
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Setembro foi marcado por um importante ato de milhares no dia 18/9 seguido de um Encontro com cerca de 1000, ambos da CSP-Conlutas, que nós do MRT fazemos parte, e pelas entidades do Espaço de Unidade de Ação. Novos atos no dia 23/9, encabeçados pelo MTST que, junto a outros setores chama agora uma “Frente Povo Sem Medo”. No entanto, falta ainda avançar para a construção de um verdadeiro pólo que possa fazer diferença na luta de classes contra os ajustes.

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O ato do dia 18/9 foi um passo na construção de uma alternativa de independência de classe frente o governo e a direita

A presença de milhares de trabalhadores e jovens nesta manifestação mostrou que há espaço para construir uma alternativa nas lutas. As consignas unitárias mostravam uma posição de diferenciação com o governo, mas também com a oposição de direita, e chamavam a construir uma alternativa classista dos trabalhadores e da juventude. Felizmente o caráter classista da manifestação não foi manchado pela presença da CGTB que na última hora rompeu com a marcha justamente porque não são do “campo dos trabalhadores”.

Lutamos para construir as forças e idéias para que a classe trabalhadora seja o sujeito principal na luta contra o governo e a direita. Ao mesmo tempo que rechaçamos a direita tradicional, denunciamos Dilma (e Lula) e dos 12 anos de PT, que estão com a direita no seu próprio governo e sempre a fortalecendo e defendendo os empresários, motivo pelo qual a maioria deles ainda não defende o impeachment.

MTST e maioria da direção do PSOL prestam desserviço à construção de uma alternativa independente

O ato de 18/9 poderia ter sido bem maior. Por que não foi? Porque a maioria da direção do PSOL não convocou o ato, diferente do que fez diante do ato governista do dia 20 de agosto. Mesmo as correntes do PSOL que convocaram a marcha do dia 18 não construíram efetivamente em suas bases. Com exceção dos Deputados Estaduais Carlos Giannazi e Babá, mais nenhum parlamentar do PSOL esteve presente. Em parte, isso se deu por uma política seguidista em relação ao MTST, que insiste em cobrir pela esquerda a política petista de defesa do governo. Fazem críticas às medidas de ajuste do governo, mas o centro da denúncia é contra Levy, Cunha e os “golpistas” como se Dilma não fosse responsável.

Na última semana, correntes do PSOL deram um passo a mais nesta política de conciliação com setores governistas conformando junto com CUT, UNE e outras entidades governistas uma frente chama “Frente Povo sem Medo”, num momento em que a CUT está diretamente sendo o braço direito do governo pra implementar o Plano de Proteção ao Emprego (que protege de fato os empresários) e também um momento em que a CUT estava traindo a greve dos Correios e outras. O PCdoB, através da CTB, também se diz “contra o ajuste” mas aprova todos os ajustes no parlamento. O problema não seria fazer frente única para a ação com entidades que não são anti-governistas, mas o que não se pode é fazer uma frente permanente como esta que não se conforma em função da luta de classes, mas por objetivos oportunistas das direções governistas.

Consideramos um erro grave essa política que até agora nenhuma corrente do PSOL se pronunciou contra. As correntes do PSOL deveriam rever essa política e se somar aos esforços pra construir uma alternativa dos trabalhadores capaz de enfrentar os ajustes na luta de classes. Isso daria muito mais força pra exigir que o MTST rompa definitivamente com o governo e traga a força de sua mobilização por moradia para o lado classista e independente.

Encontro do dia 19/9 ainda não armou os trabalhadores com um plano de luta efetivo

A importante marcha do dia 18 foi sucedida por um Encontro com cerca de mil pessoas. Não conseguiu expressar a quantidade de lutadores e lutadoras que saíram às ruas na sexta-feira, o que teria sido qualitativamente superior pra organização efetiva da luta. Ao mesmo tempo, consideramos que o Encontro terminou não votando as tarefas mais concretas que a luta de classes impunha no imediato.

Quando falamos em intervir na luta de classes nos espelhamos em exemplos concretos, como a atuação que tivemos na greve de 118 dias na USP ano passado, ou como estamos preparando na luta atual em curso, contra o desmonte da Universidade.

Mesmo quando a esquerda não tem força de direção numa categoria, ela pode cercar de solidariedade a luta e fortalece-la para vencer, com a segurança de que isso também aponta pra construir uma ala de trabalhadores combativos e classistas em cada luta. Teria sido decisivo debater medidas concretas de solidariedade a greve dos Correios, que foi recentemente um importante enfrentamento contra o ajuste (queriam atacar o plano de saúde). A falta deste plano se expressou de forma bastante concreta no ato de Correios que ocorreu na última quinta-feira. Em um momento em que a CUT traía esta luta abertamente, e sabendo que a burocracia da CTB não poderia ser vista como uma aliada dos trabalhadores, teria sido fundamental uma grande presença da maioria da CSP-Conlutas e do Espaço de Unidade de Ação, coisa que nem de longe ocorreu, com a presença de apenas dois ou três representantes. Apenas o MRT esteve presente em peso. Se toda a esquerda prestasse uma solidariedade ativa, poderíamos fortalecer os piquetes, fundo de greve, as ações de rua e disputar a opinião pública junto aos ecetistas, colocando todas as nossas forças, como nós fizemos com o Esquerda Diário.

É nesse espírito que fomos a corrente que mais se solidarizou com a greve dos garis e, mais recentemente, com a greve de professores de SP ou com a dos Correios. Em todas essas greves, mesmo sendo uma corrente com menos peso que o PSOL o o PSTU, fizemos campanhas de solidariedade ativa superiores a estas organizações. Assim, a solidariedade a essas lutas ficou aquém das suas necessidades para conquistar ainda mais força para vencer.

A esquerda precisa colocar seu centro na luta de classes para enfrentar os ajustes

A esquerda não pode se contentar com fazer votações genéricas em Encontros e Congressos, e depois continuar atuando de forma sindicalista adaptada nos locais de trabalho e estudo. Precisamos de uma esquerda que faça a diferença na luta de classes contra os ajustes. Coloquemos todas as forças para transformar as greves em uma verdadeira batalha de classe, em uma causa nacional, que possa transcender e se for vitoriosa pode mudar a correlação de forças das próximas lutas e inclusive das lutas que estão em curso e com dificuldade de avançar, como a greve dos servidores públicos federais, que ultrapassa os 120 dias numa dura batalha com o governo.

Isso é o que chamamos de um pólo classista, que deve reunir os sindicatos, oposições e entidades dirigidos pela esquerda para atuar, exigindo que as grandes centrais sindicais rompam com o governo e se coloquem a serviço de um plano de luta pra enfrentar os ajustes.

O PSTU, principal organizador dos dias 18 e 19/9, vem pautando há meses o seu discurso pela defesa abstrata da “greve geral”. É claro que esse é um método fundamental da luta proletária, e ninguém duvida que se trate de uma palavra de ordem radical. Porém estando por fora de toda preparação séria “por baixo”, nas bases, ela se torna uma mera frase.

É que essa tarefa ultrapassa totalmente as forças da esquerda organizada, e depende muito mais das viragens muitas vezes abruptas da burocracia sindical da CUT, Força, CTB, e demais, – que no momento estão disciplinadas a ser linha auxiliar da aplicação do ajuste pelo empresariado e pelo governo.

O grande problema é que isso acaba tirando o foco das tarefas que a esquerda e a vanguarda da classe trabalhadora podem tomar nas suas mãos imediatamente. Num momento em que os trabalhadores estão sentindo na pele a violência dos ataques nas fábricas, com demissões e cortes de todo tipo, assim como outras categorias sentem os efeitos dos cortes de verbas, a esquerda não pode perder a chance de se mostrar como uma alternativa real, capaz de fazer diferença na vida da classe.

Essa seria a única forma de fazer emergir realmente um movimento que não seja “folclórico” e sim que seja capaz de derrotar os ajustes, e fazer real a perspectiva estratégica de um governo dos trabalhadores que exproprie os capitalistas. A construção dessa perspectiva passa também por relacionar a intervenção na luta de classes com o parlamentarismo revolucionário, com a que o PTS na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores tem feito na Argentina, aliando os dois terrenos de batalha e constituindo-se como um dos principais fenômenos da esquerda mundial.

Tarefas imediatas

Como MRT, depois do giro que demos em apoio aos ecetistas, estamos em meio a luta contra os ajustes na USP. Por que o PSTU e as correntes majoritárias do PSOL, que inclusive tem trabalho na universidade, não poderiam se lançar com força nessa luta, para que triunfe?

Por outro lado, por que não preparamos uma verdadeira campanha nacional contra as demissões que seguem pendendo sobre as cabeças dos 500 operários em lay-off na GM de São José dos Campos? Essa luta poderia partir da solidariedade aos trabalhadores da Eaton que foram reprimidos pela PM ontem e ser parte de uma batalha por unificar a luta contra as demissões em várias fábricas em todo o país.
Acreditamos que uma atuação distinta, em que a esquerda concentrasse todas as suas melhores energias, poderiam trazer os primeiros triunfos, capazes de abrir os olhos das grandes massas trabalhadoras para a possibilidade de resistir aos ajustes e passar à ofensiva contra os patrões e o governo.

 
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