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ELEIÇÕES ARGENTINAS
Em meio à polarização e rebeliões na América Latina: uma importantíssima eleição da Frente de Esquerda
Lucho Aguilar
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Em uma eleição muito polarizada que confirmou o “voto de castigo” contra o macrismo, a Frente de Esquerda Unidade faz 580 mil votos para a presidência e quase 800 mil para cargos legislativos. Uma votação importante para a preparação do que está por vir: uma nova experiência com um governo peronista e as rebeliões contra o ajuste que perpassa a América Latina.

Se as “eleições prévias” foram para muitos uma surpresa, as eleições deste domingo serviram de confirmação. As expectativas de acabar com as dificuldades que a coalização “Cambiemos” deixa, foram canalizadas para a Frente de Todos, ainda que tenha sido em vistas do “mal menor.” Um outro fato importante foi a enorme polarização entre o peronismo e macrismo, tal fato se deve muito aos grandes meios de comunicação. As duas forças foram responsáveis por quase 90% dos votos.

Com uma campanha militante e criativa que alcançou milhões em todo o país, a frente de Esquerda Unidade deu uma forte luta para conseguir seu espaço político. O resultado, com um leve retrocesso à presidência e um leve crescimento nas categorias de deputados e deputadas, visto de conjunto confirma o apoio político de um setor significativo da classe trabalhadora, mulheres e juventude a uma alternativa política explicitamente anticapitalista.

A votação se faz importante não apenas pelas dificuldades inerentes à eleição. É importante porque a esquerda se mantém com uma voz firme na política nacional. E assim o faz em um cenário econômico e político cada vez mais em convulsão e com fortes mudanças.

Por um lado, porque o novo governo peronista terá que administrar um país em crise, onde amplos setores votaram na fórmula Fernandez-Fernandez com a expectativa de melhorar a situação. Durante a campanha, Alberto Fernández insistiu que os tempos que se aproximam são “difíceis” e prepara um pacto social com empresários e cúpulas sindicais para aplicar seus planos de governo. Um pacto no qual o macrismo se somará como “oposição construtiva”. Como analisamos em outra nota, esse caminho está cheio de tensões. A Frente de Esquerda seguirá nas ruas, junto a todas e todos que têm ilusões de recuperar o perdido.

Por outro lado, porque entre agosto e outubro começou a mudar profundamente a situação política no nosso continente. Porto Rico, Honduras, Equador e agora o Chile mostram que na América Latina são milhões os que repudiam o plano de ajustes. Já não há “vento favorável” para a nossa região e as rebeliões populares contra as consequências mais brutais do capitalismo se espalham.

Essas revoltas que são recentes e não têm o protagonismo da classe trabalhadora com seus métodos e programas, não acabaram por expressar um crescimento de votos à esquerda, mas marcam o início de um novo ciclo político que temos de nos preparar.

Por isso, essas centenas de milhares de votos na Frente de Esquerda Unidade têm uma grande importância para os tempos que se aproximam.

Uma importantíssima votação em uma eleição difícil

Em um clima de polarização e votos de castigo no governo, a fórmula presidencial Del Caño-Del Plá arrecadou cerca de 580 mil votos, projetando-se como uma quarta força nacional. Nesse mesmo marco, é importante destacar a votação que tiveram Christan Castillo e Gabriel Solano nas eleições bonarense e portenha, respectivamente.

Miriam Bregman e a FIT-U lutaram contra a polarização que também vimos na cidade de Buenos Aires. Em uma grande eleição, a FIT-U arrecadou mais de 120 mil votos a deputadas/os e está muito perto de conquistar uma cadeira no Congresso, o que se verificará num exame mais detalhado. Já está confirmado que Alejandra Barry, do PTS-FIT, conquistou uma cadeira como legisladora portenha. Na província de Buenos Aires, Néstor Pitrola também esteve, com os resultados provisórios, muito perto de reforçar as cadeiras que a esquerda hoje tem no Congresso.

Em muitas províncias a Frente de Esquerda fez muito boas votações para deputados, aproximando-se dos resultados de agosto. Valem como exemplo a votação ao dirigente ceramista Raúl Godoy em Neuquen, ao trabalhador de coleta de lixo Alejandro Vilca em Jujuy e a Gloria Sáez em Chubut. Nesta província, onde seus trabalhadores e trabalhadoras estão há mais de três meses em lutas, a esquerda recebeu uma importante votação em todas as categorias. Nicolás Del Caño havia denunciado no debate presidencial o governador Arcioni (FdT) por não pagar aos professores e estatais os seus respectivos salários, assim esses setores seguem em luta.

Em meio a um fenômeno que buscou castigar o Macri nas urnas apoiando a fórmula que poderia ganhar dele, a simpatia pela campanha e aos candidatos e candidatas da FIT-U chegaram muito mais longe.

Uma campanha militante, massiva e socialista

A FIT-U enfrentou os grandes aparatos políticos com a campanha mais massiva de sua história. Com criatividade e uma mensagem clara, chegou a milhões com um programa claramente anticapitalista, de classe.

Foi a única campanha que defendeu a agenda dos trabalhadores, das mulheres e da juventude. Que rechaçou qualquer pacto com o FMI; que disse que a dívida é um roubo e esse dinheiro tem de ir para as necessidades da população; que insistiu que há que cancelar as tarifas e rechaçar os privatizadores; que tem que nacionalizar o banco para acabar com a fuga de capitais; que as mulheres não têm que “esperar” para conquistar o direito ao aborto legal, seguro e gratuito; que há de se apoiar as mobilizações populares para que governe a classe trabalhadora e a crise que paguem os capitalistas.

Um dos momentos centrais foram os debates presidenciais. Milhões os acompanharam pela televisão e discutiram por todos os rincões do país. Del Caño aproveitou seu tempo para explicar a posição da esquerda sobre os mais diversos temas. Não apenas desmascarou o direitismo de Macri e as cumplicidades do peronismo ou reivindicou as rebeliões no Equador e no Chile. Utilizou a tribuna para dizer que o capitalismo não dá mais e deixar clara a perspectiva da Frente de Esquerda: “Nós somos socialistas, lutamos por um governo das trabalhadoras e trabalhadores, uma democracia mil vezes superior a esta. Cremos que apesar das restrições desta democracia tem de ser levantada uma medida para que o povo decida sobre tudo, porque a crise é gravíssima. Por isso propomos uma assembleia constituinte, livre e soberana”, disse Nico.

Apesar do tempo limitado, nunca a esquerda pode explicar tão massivamente suas ideias como nesses debates e nesta campanha da Frente de Esquerda.

No mais foi uma campanha militante e combativa. Nossos candidatos e candidatas perpassaram centenas de cidades. A militância da FIT-U seguiu apoiando cada luta, de agosto a outubro. Como sempre. Ainda que o peronismo chamou para “sair às ruas”, a esquerda esteve junto àqueles que resistem em Chubut, àqueles que ocupam suas fábricas para defender seus postos de trabalho, ao movimento dos desempregados que enfrentam a fome. Por isso terminou sua campanha no Consulado do Chile.

A simpatia que despertou as propostas da FIT-U, ajudaram a implantar comitês de apoio nas províncias e cidades de todo o país. a participação de milhares de lutadores classistas, mulheres e jovens há tem sido conquistas destes meses de campanha. Essa juventude, a mesma que se levanta em muitos países do mundo, são uma energia fundamental para as lutas que vêm contra os ajustes e o capitalismo.

A esquerda classistas e o que está por vir

Estamos orgulhosos e orgulhosas da campanha que fizemos e das centenas de milhares de votos que resistiram à polarização. De haver dado uma luta duríssima contra uma frente repleta de governadores cúmplices de Macri, dinossauros antidireitos e burocratas sindicais.

Isso é parte de uma luta muito maior. A de seguir construindo uma força política dos trabalhadores, das mulheres e da juventude. Que tenha uma forte militância nos locais d trabalho, de estudo, nos bairros. Que possa mobilizar milhares nas ruas. Que busque a cada dia como chegar com suas ideias socialistas a milhões. Mas acima de tudo, que se prepare para o que está por vir. Equador, Chile e as revoltas em outros países marcam a crise do capitalismo e o retorno da luta de classes. A tarefa de construir um partido da classe trabalhadora para que os capitalistas paguem pela crise, se faz mais vigente que nunca.

 
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