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OFERTA ASSASSINA
Pela caça, uma recompensa: deputado do PSL oferece 10 mil por assassinato na tribuna (ES)
Mateus Castor
Cientista Social (USP), professor e estudante de História

De sua boca saiu a seguinte declaração sobre um assassinato ocorrido no Espírito Santo: “Quero ver quem vai correr atrás para prender esse vagabundo. [Eu tiro] 10 mil reais aqui do meu bolso para quem mandar matar esse vagabundo, isso não merece tá vivo não. (...) Não vale dar onde ele está localizado não, tem que entregar o cara morto, aí eu pago”, disse.

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Na tarde desta quarta feira, o deputado do PSL, capitão Assumção, pensou estar no faroeste americano há três séculos atrás, ou no Brasil durante a escravidão sob o regime imperial. De sua boca saiu a seguinte declaração sobre um assassinato ocorrido no Espírito Santo:

“Quero ver quem vai correr atrás para prender esse vagabundo. [Eu tiro] 10 mil reais aqui do meu bolso para quem mandar matar esse vagabundo, isso não merece tá vivo não. (...) Não vale dar onde ele está localizado não, tem que entregar o cara morto, aí eu pago”, disse.

Pisoteando até mesmo qualquer processo da justiça brasileira - que sabemos, já é arbitrária a depender da classe e da cor, o capitão conclama uma corrida sangrenta do “suspeito” e pelo mantra direitista de “bandido bom é bandido morto”. No país onde diariamente jovens são assassinados pela polícia; onde estar trabalhando com uma furadeira ou com um guarda chuva na mão pode ser o passaporte para a morte; há muitos potenciais “suspeitos” inocentes que são constantemente mortos. Este chamado à caça, com recompensa e tudo, expressa o mais podre da extrema-direita e sua sede assassina, que tem os negros como um dos principais alvos.

O esquema de recompensa é semelhante ao mostrado no filme Bacurau. Pior, trata-se de uma apologia descarada ao para-militarismo mercenário de “civis” - muitos policiais sem farda - que aterrorizam a população mais pobre, substituindo o 6 do crime pela meia-dúzia da milícia.

O deputado, que inclusive já foi preso por fazer “greve” no Espírito Santo para ter melhores condições em sua profissão em 2017, ou seja, matar pobres e negros e proteger a propriedade dos “cidadãos de bem” das classes altas mostra que os bons costumes da extrema-direita baseiam-se na retomada à séculos passados tanto nos valores e costumes como na violência repressiva mais bárbara.

O bolsonarismo se inspira muito na tradição da extrema-direita norte americana, Bolsonaro já esteve no Texas e seus filhos não deixam de demonstrar sua admiração pela mitologia regional racista do sul dos EUA, onde é marcado seu passado escravista, mercenários, pistoleiros e caçadores de recompensa de bandidos, escravos ou poderia ser também de “vagabundos” como afirma o deputado do PSL. Não satisfeito, reafirmou sua posição quando questionado.

O Brasil e seu passado de capitães do mato, empreitadas privadas de mercenários contra os quilombos e povos indígenas através de milícias, como eram os bandeirantes - romantizados pelo estado brasileiro como heróis - que massacraram Palmares e atacaram Canudos, aparece em nossas mentes quando olhamos tal declaração.

Em seu discurso de pouco mais de 1 minuto, defendeu uma política de genocídio de que era necessário matar todos os “vagabundos” porque eles eram o desperdício de impostos do “cidadão” e que supostamente cometeram crimes para serem recompensados por uma “vida boa na cadeia”. Em média, cerca de 40% dos presos no Brasil mal foram julgados.

No Brasil, dados de violência social são comparáveis, se não maiores, à guerras no Oriente Médio, somente neste ano a polícia militar matou mais de 881 - nenhuma em área de milícia - pessoas no Rio de Janeiro, entre crianças, trabalhadores metralhados, assassinados trabalhando ou pelo infortúnio de ser considerado um bandido por seu “perfil”. Essa “oferta” para um corpo morto pode se enquadrar em qualquer suspeito que se encaixa no perfil de um “vagabundo” para a extrema-direita, que jamais estaria de farda forjando flagrante ou apagando provas de seus crimes, muito menos de terno e grava explorando milhões de trabalhadores enquanto engorda seus bolsos ou parasitando o Estado.

São 10 mil para uma mercadoria bem específica que é a mais barata do mercado, que majoritariamente ocupa as posições de trabalho mais precárias e salários menores e hoje é ainda mais prejudicada pelos ataques do governo contra direitos trabalhistas e a informalidade: a carne negra. Cujo preço barato, além de garantir maiores taxas de lucro, é a base de todo um mercado da morte desde a indústria bélica como a Taurus como empresas de segurança privada e de tecnologia de “segurança”, além de outras coisas como especulação imobiliária.

Fontes:

https://tvuol.uol.com.br/video/deputado-oferece-r-10-mil-para-quem-matar-suspeito-de-assassinar-jovem-04028C9B366EE4B16326

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/17/cnj-registra-pelo-menos-812-mil-presos-no-pais-415percent-nao-tem-condenacao.ghtml

https://g1.globo.com/economia/noticia/negros-ganham-r-12-mil-a-menos-que-brancos-em-media-no-brasil-trabalhadores-relatam-dificuldades-e-racismo-velado.ghtml

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/08/20/policias-mataram-881-pessoas-em-6-meses-no-rj-nenhuma-em-area-de-milicia.htm

 
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