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ELEIÇÕES NA ARGENTINA
Argentina: Algo se move na transição, um ensaio sobre o que vem pela frente
Redação

A novidade está nas ruas. Enquanto os de cima discutem quem pagará o custo político da crise, os de baixo lutam em Chubut, os movimentos sociais e outras organizações, atuam como caixa de ressonância que antecipa as contradições da situação.

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A esquerda argentina lançou uma grande campanha preparando as medidas de emergência para uma saída para a classe trabalhadora.

Durante a campanha eleitoral em direção às Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO), a esquerda argentina antecipou o que estava por vir. O pior da crise não havia passado, e sob o domínio do Fundo Monetário Internacional e do Capital financeiro, o caminho dos saques ainda será longo.

Os dias que se seguiram após a eleição confirmaram esse prognóstico. A crise de uma dívida impagável que agora está parcialmente consolidada, e a brusca derrota virtual do Governo Macri, nas primeiras eleições, foram acompanhadas de dias de fúria, desvalorização da moeda, e fuga de capitais.

O presidente atual e o seu adversário ao cargo, com suas idas e vindas desta semana, disputam o pouco que resta até as eleições de outubro, mas acima de tudo, quem fará o trabalho sujo de descarregar a crise nas costas dos trabalhadores. Enquanto Macri busca não ser De la Rúa, e no seu discurso tenta manter parte do poder para o futuro, Alberto Fernández parece dizer que “quanto pior, melhor” para que seja o atual presidente que tome a maior quantidade de medidas impopulares possíveis e, que comece, em dezembro, o seu mandato denunciando a “herança recebida”.

Neste trajeto, ambos concordam em algo fundamental: que esta crise será paga pelo povo trabalhador. Por isso a “transição razoável do dólar à $60”, é um negócio fabuloso para especuladores e banqueiros, ao mesmo tempo em que golpeia duramente a realidade dos trabalhadores.

Segundo um estudo da consultora Focus Market, desde as PASO os preços dos alimentos subiram 23%. Mesmo nos produtos para os quais o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) foi aplicado, houve aumento de mais de 17%. Ao mesmo tempo, a recessão segue golpeando os empregos, com milhares de demissões.

Uma lenta impaciência

Por quase dois anos, todas as alas do peronismo e das cúpulas sindicais vem pedindo paciência sob o lema “há 2019”. A expectativa de mudança eleitoral foi a desculpa para deixar passar tarifaços, demissões e redução dos salários.

Hoje estamos assistindo as últimas cenas desse filme. Apesar da crise de magnitude elevada, que golpeia a grande maioria da população, dirigentes sindicais como Héctor Daer da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) ou Pablo Moyano de Caminhoneiros, não se cansam na insistência de rechaçarem a possibilidade de chamarem uma paralização nacional. Manter a “governabilidade” ou não “entorpecer” o processo eleitoral, eis os argumentos que estão na ordem do dia.

Porém algo está começando a mudar. Nos últimos dias, multidões, mobilizações dos movimentos sociais e desempregados, lutas provinciais da magnitude de Chubut com paralizações, piquetes e marchas massivas como a de 30 mil pessoas em Comodoro Rivadavia, a briga contra as demissões de Ran Bat ou Mielcitas, assim como a paralisação nacional de CTERA nesta quinta-feira (05), que saiu tarde devido à pressão das bases e sem anúncio de continuidade, começaram a ser parte do cenário. Ao mesmo tempo, numerosos grêmios (como os trabalhadores petroleiros que estão paralisados), começaram a aumentar a demanda pela reabertura de articulação diante dos impactos da inflação.

Estes processos atuam como caixa de ressonância de uma situação que expressa a contradição entre milhões, que nas eleições do PASO utilizaram o “voto crítico” para rechaçar o ajuste e a situação que segue aumentando a inflações e o desemprego. Antecipa um choque que se dará ainda com mais força, quando assumir o Governo de Alberto Fernández, que em sua campanha eleitoral gerou expectativas que não poderá cumprir.

Hoje, como sempre, são as burocracias sindicais (quase todas alinhada com a Frente de Todos), as que se encarregam de dividir as lutas e se negam a unificar as reivindicações do povo trabalhador em uma paralisação nacional efetiva e um plano de lutas. Em outros casos, como temos refletido desde o Esquerda Diário (da Argentina), são diretamente os governadores e burocratas alinhados com Alberto Fernández, os que organizam os provocadores para afundar as lutas, como em Chubut.

A aposta da esquerda e do sindicalismo combativo é o inverso disso tudo. Sob outra orientação, surgiu nesta quinta-feira um símbolo de luta: a aliança nas ruas entre os professores que cortaram a rodovia do Obelisco em apoio a luta de Chubut, e os movimentos sociais e de desempregados que acampam por suas demandas, em frente ao Ministério de Desenvolvimento Social.

A rejeição aos pedidos de paciência, enquanto seguimos sofrendo com os ajustes, o apoio a todas a lutas, a unidade entre empregados e desempregados, efetivos e temporários, trabalhadores e estudantes, mostram-nos outro caminho: de unidade entre todas as lutas para que triunfe e se desenvolva a força necessária para impor as centrais sindicais uma paralisação nacional efetiva e um plano de lutas até a derrota dos ajustes.

São eles ou nós

Alberto Fernández se antecipou esta quinta-feira desde Madrid: “Sair será difícil. Com a dívida faremos o que sempre fizemos. Cumprir e honrar as dívidas, porém não nos pediram que a paguemos às custas de mais deterioração de nossa gente, os argentinos já possuem muitos problemas”

Limpando essa demagogia, a verdade permanece. O candidato da Frente de Todos se compromete a seguir pagando aos donos do capital financeiro uma dívida que não somente é ilegal e ilegítima, como também impagável.

A verdade é que são eles ou nós. A crise será paga pelos especuladores financeiros, os latifundiários e os grandes empresários ou será paga às custas do suor da classe trabalhadora. Alberto já deu claros indícios: nas últimas semanas não parou de fazer gestos para os poderosos, como quando falou amigavelmente em um evento do Grupo Clarin.

Porque em troca da renegociação dos termos para o pagamento da dívida, o próximo Governo exigirá mais ajustes e ataques para que possa “honrar” tal compromisso. Os exemplos da Grécia e os desastres do FMI em todo o mundo, são provas suficientes disso tudo.

Por isso a esquerda acompanha todas as lutas em curso, ao mesmo tempo em que diz a verdade de maneira clara e sem rodeios. Em cada confronto e em cada campanha é necessário multiplicar as forças de luta, como também as de construção de uma alternativa política dos trabalhadores que projete uma saída de fundo.

Com centenas de milhares de panfletos em todo o país, e um vídeo de Nicolás del Caño, o Partido dos Trabalhadores ao Socialismo (PTS) e a Frente de Esquerda e da Unidade dos Trabalhadores, buscam chegar em milhões de pessoas, para colocar as medidas de emergência necessárias para evitar que uma vez mais, uma crise termine em um grande saque contra os trabalhadores. Sem a demagogia dos políticos do regime capitalista, para isso nos preparemos desde hoje.

Tradução Alexandre Tubman

 
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