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MEIO AMBIENTE
Peru: O exército e a polícia reprimem brutalmente a moradores de Matarani que lutam contra a mineração predatória
Cecilia Quiroz
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No porto de Matarani da Província de Islay – Arequipa, os pescadores, trabalhadores e moradores se juntaram há 50 dias aos protestos que exigem o cancelamento definitivo do mega projeto mineiro Tía Maria. Há um mês o governo enviou centenas de militares e polícias para esta região. Nestes últimos dias, a repressão se agudizou sem conseguir romper a disposição de luta dos moradores. Conversamos com pescadores da região.

No porto de Matarani da Provincia de Islay – Arequipa, os pescadores, trabalhadores e moradores se juntaram há 50 dias aos protestos que exigem o cancelamento definitivo do mega projeto mineiro Tia Maria, apesar da suspensão temporária da mesma. Há um mês o governo enviou centenas de militares e policiais a esta região com a finalidade de “garantir a ordem pública”, que não significa outra coisa que reprimir aos manifestantes e evitar os bloqueios desta cidade portuária. Nestes últimos dias, a repressão se agudizou sem conseguir romper com a disposição de luta do povo da região.

Matarani é o porto mais importante do sul do Peru, importantes empresas mineiras como Cerro Verde ou MMG Las Bambas exportam os minerais por lá. Por isso podemos afirmar que a região possui valor estratégico para a mineração. Por isso a paralisação na região vem gerando preocupação para o governo e grandes empresários da mineração. Por causa disso, funcionários de alto escalão da empresa mineira Cerro Verde disseram que se continuarem as paralisações eles seriam obrigados a parar suas atividades pois nos centros de produção já não há espaço para armazenar o mineral.

Isto levou a que os militares e policiais enviados à região pelo governo, nos últimos dias, reprimissem brutalmente à população utilizando helicópteros para sobrevoar as moradias e jogar gás lacrimogêneo, batendo em mulheres, crianças e idosos. Estes fatos não foram difundidos por nenhuma mídia nacional e mesmo assim há dezenas de registros fotográficos e filmagem nas redes sociais que mostram a brutalidade policial.

No sábado 31 de agosto, na província de Cocachacra (parte do Valle de Tambo) entrevistamos a Ernesto Valeriano, que é pescador em Matarani e veio junto com dezenas de pescadores, mulheres e trabalhadores da região participar de uma reunião macro regional para decidir as próximas medidas de luta contra o governo de Vizcarra para que cancelem definitivamente a licença ao mega projeto mineiro de Tia Maria.

Ernesto nos disse:

“Em Matarani estamos sendo reprimidos pela polícia. O abuso é enorme contra nossas esposas, mães de família e crianças. Nos últimos dias nossas casas foram bombardeadas com helicópteros, de onde jogaram gás lacrimogêneo; sobrevoaram a aproximadamente 10 metros de altura das nossas casas, fazendo com que as telhas voassem. Nossos filhos estão muito assustados pois nunca passamos por isso, o som dos helicópteros é muito forte. Não é justo que o governo nos imponha o que não queremos”

Em outro momento da entrevista, Ernesto colocou que:

“Em Matarani nós estamos contra o projeto Tia Maria pois a empresa disse que vai dessalinizar a agua do mar e nós vivemos da pesca, pescamos nas 5 milhas marítimas, mas se for vir a Southern para dessalinizar a água, 20% vai se converter em água doce e 80% vai virar água com salitre. A água que voltar pro mar não vai ter oxigênio e não vai servir para os peixes e mariscos, nós dependemos 100% da pesca artesanal. O senhor Vizcarra fala de diálogo, porém até o momento temos 48 dias (31 de agosto) de paralisação e ele não veio escutar nossos argumentos de oposição, só nos enviou a polícia para nos reprimir e assim nos obrigar a que retrocedamos. Porem, isso não vai acontecer aqui em Matarani e em todo o Valle de Tambo, pois vamos seguir lutando até fazer o governo retroceder”

Já durante a reunião, a delegação de Matarani foi apresentada e vários pescadores fizeram o uso da palavra. O mais comovedor discurso foi o do Presidente dos Pescadores e Armadores de Matarani – Mollendo, que apareceu com o rosto coberto com um lenço e disse:

“Boa tarde a este povo lutador do Valle de Tambo, de Matarani, de Mollendo, muitos de vocês se perguntarão: Quem é este senhor de rosto coberto? Pois senhores, temos que sair assim pois já não podemos nem falar, nem opinar, pois por qualquer coisa reprimem a nós e a nossas famílias. Mas lhes digo uma coisa senhores, atrás deste capuz tem um pescador, um homem trabalhador. Quem deveria cobrir o rosto são estes sem vergonha dos congressistas e do governo que fazem leis para que nós já não possamos nem nos pronunciar, não possamos nem reclamar. Querem que sejamos escravos deste governo e isso não podemos permitir.”

Em seguida destapou o rosto e as centenas de assistentes da reunião se colocaram a aplaudir e discutir contra Tia Maria e em solidariedade com os moradores de Matarani. O dirigente dos pescadores finalizou sua intervenção dizendo:

“A Southern e o governo não falam nada sobre os efeitos que vai causar o fato das águas que retornam da mina terminarem no mar, mas nós sabemos e vamos continuar até que o governo respeite nossa vontade”

 
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