No dia em que se completaram 228 anos da Revolução Haitiana, que segue inspirando oprimidos e insurretos internacionalmente e que foi retomada na mesa, e aos 79 anos do assassinato de Trotski pelo stalinismo, as ideias do revolucionário russo foram pensadas à luz dos desafios do marxismo revolucionário no século XXI.
A mesa foi mediada por Vitória Camargo, estudante de Ciências Sociais do IFCH e militante da juventude Faísca.
A debatedora Diana Assunção, historiadora e dirigente do MRT, iniciou o debate retomando o legado de León Trotski a partir da experiência da Revolução Russa, dos desafios do marxismo revolucionário na época imperialista, como novidade histórica à qual Lenin e Trotski buscaram responder, e da contribuição de Trotski com a Teoria da Revolução Permanente.
A crise econômica internacional ganha novos contornos com as previsões de nova recessão mundial e a continuidade da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. Diante disso, aprofunda-se a crise da hegemonia burguesa, caracterizada por Diana a partir do conceito de “crise orgânica” de Gramsci e do qual Bolsonaro é expressão. Diana retomou a importância do trotskismo em combate à negação contra-revolucionária do marxismo que significou o stalinismo, com sua teoria do “socialismo em um só país”, e reivindicando a obra de Wendy Goldman que estudou a vida das mulheres e dos setores oprimidos na União Soviética. Conquistas fundamentais como o direito ao aborto e a descriminalização da homossexualidade pela Revolução de Outubro foram revogadas pelo Termidor stalinista.
As experiências da FIT-U na Argentina, como lugar de maior avanço internacional do trotskismo, foram reivindicadas e, diante da devastação ambiental que é expressão da barbárie capitalista, Diana concluiu sua fala com um discurso de Trotski à juventude na Conferência de Copenhague, pela qual o socialismo seria a passagem do reino da necessidade ao reino da liberdade em direção a uma espécie mais feliz.
Por sua vez, Fábio Querido, professor do Departamento de Sociologia do IFCH, valeu-se da perspectiva de Walter Benjamin para traçar a história dos vencidos, reivindicando o pensamento de Trotski, com centralidade na política contra todo determinismo e economicismo, para a construção de perspectivas revolucionárias em países semicolonias como o Brasil, com a noção de desenvolvimento desigual e combinado, e o papel reacionário da burguesia nacional, subserviente à burguesia imperialista. Com isso, traçou uma comparação e um contraponto com as teses de Caio Prado e do PCB brasileiro e refletiu sobre organizações trotskistas brasileiras como a Polop.
Além disso, reivindicou as contribuições de Trotski na temática da arte e o Manifesto da Fiari. O tema da liberdade da arte contra toda dirigência política e apontando à sua libertação foi marcado. Querido também definiu o trotskismo como uma teoria viva.
O debate remarcou a importância e atualidade de León Trotski diante das perseguições e falsificações empreendidas internacionalmente contra seu legado, como expressam a série encomendada por Putin na Netflix, dizeres de Olavo de Carvalho e da extrema direita brasileira.
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