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LUCRO DOS BANQUEIROS
Enquanto Bolsonaro nos afoga com reforma da previdência, lucro dos bancos sobre 20% em 2019
Rafael Barros

Enquanto Bolsonaro avança com a reforma da previdência, o Future-se e diversos ataques à juventude e aos trabalhadores, principais bancos do país tem alta de 20,4% nos lucros no primeiro semestre de 2019. Quem vai pagar por essa crise, eles ou nós?

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Os principais bancos do país (Banco do Brasil, Itaú, Santander e Bradesco) tiveram uma alta em seus lucros líquidos no primeiro semestre de 2019 de nada mais nada menos que R$ 42 bilhões. Em comparação com o mesmo período de 2018, a alta representa um total de 20,4%, na soma dos quatro bancos. Os dados exibem de forma bem clara as contradições de uma sociedade que, enquanto para milhões se destina o roubo das aposentadorias, com a nefasta reforma do Governo, o trabalho precário das empresas tipo Rappi, e o desemprego que já afeta mais de 14 milhões de brasileiros, para outros, os poucos banqueiros que comandam o setor no país, o que está reservado é uma alta em seus lucros, às custas de nossas vidas e nosso suor

Analisemos a situação de forma mais fria. Durante todo o ano, os índices de crescimento econômico indicavam, semana a semana, mês a mês, quedas na previsão de crescimento da economia brasileira. Mês a mês, os índices de desemprego sobem. Hoje cerca de 30% da juventude no Brasil estão sem emprego. Os que não estão, vivem realidades como a de Thiago Dias, jovem trabalhador da Rappi que morreu trabalhando, fazendo entregas, e teve socorro ignorado pela empresa. Somados os desempregados, aqueles que estão nas situações de sub-emprego (trabalham até no máximo 10 horas por semana) e os no estado de desalento (deixaram de buscar emprego), estamos quase atingindo 70 milhões de brasileiros.

Junto a este cenário, o governo Bolsonaro desde o início do ano colocou na mesa a principal medida a ser aprovada: a reforma da previdência, que irá subir a idade mínima para 65 anos (homens) e 62 (mulheres), obrigando a todos que quiserem receber os valores integrais de sua aposentadoria, contribuir para a previdência por pelo menos 40 anos. Arrancando pensão de viúvas e filhos que perderam seus pais, aposentadorias por invalidez (grande parte delas, frutos de acidentes de trabalho, inclusive). Uma reforma não só cruel, mas brutal, mesmo com os pontos de destaque que foram retirados nas votações em primeiro e segundo turno na Câmara de Deputados. Uma reforma que contou com a pressão dos chefes de estado das principais potências mundiais, como dos norte-americanos – agradecidos pela subserviência de Bolsonaro e seus filhos à Trump –, e das potencias da União Europeia (esta que acirrou mais ainda a pressão por ajustes com o acordo entre Mercosul e UE). Além de claro, a pressão que as potencias imperialistas exigem pelas privatizações e outros pacotes de ajustes, que melhorem ainda mais as condições dos empresários para a entrada de forma avassaladora do capital estrangeiro na economia brasileira.

A Reforma da previdência, segundo os dados divulgados, vai limpar cerca de 900 bilhões de gastos públicos em aposentadoria. Gastos estes que, curiosamente, serão destinados para a Dívida Pública brasileira, como manda o figurino e a Lei de Responsabilidade Fiscal, que destina hoje pelo menos – e que se marque o pelo menos, já que as intenções de Bolsonaro e Guedes são de subir esses números – 40% do superávit primário brasileiro para seguir pagando uma dívida completamente ilegal, ilegítima e fraudulenta, alimentando o bolso e o lucro de banqueiros como estes que tiveram crescimento de 20% em 2019. Vale lembrar que Itaú, Santander e Bradesco fazem parte do seleto grupo de 12 bancos e instituições financeiras que tem direito de compra e venda dos título da Dívida Pública, os tais “credores” desses montantes que chegam à média de R$ 1 trilhão gastos por ano no Brasil.

Bolsonaro, filho ilegítimo do golpe institucional no Brasil, foi colocado no poder, a partir das eleições manipuladas de cabo a rabo em 2018 (com direito a prisão arbitrária de Lula, líder das pesquisas até então, e sua proscrição pelo STF e TSE), para levar a cabo um projeto que visa garantir exatamente o interesse destes setores. Não só, e nem em primeiro lugar, claro, aos bancos nacionais, mas especialmente aos banqueiros internacionais, como Merryl Lynch, Goldman Sachs, BGT Pactual, entre outros – que por acaso também são credores da Dívida Pública brasileira. Um projeto que inclui as 132 privatizações de estatais de Paulo Guedes, assim como uma reforma tributária, que incluía a Reforma Trabalhista de Temer e seu aprofundamento, como vemos com Bolsonaro atacando as normas de segurança e saúde do trabalho, e permitindo o trabalho aos fins de semana. Que incluía avançar ainda mais em trabalhos terceirizados, com a Lei da Terceirização Irrestrita, que teve a aplicação aprovada neste ano pela autoritária “bancada” de ministros do STF. Basicamente, um projeto recheado de ataques à juventude e aos trabalhadores, que vem de todos os lados, com o objetivo de fazer com que sejamos nós que paguemos pela crise criada pelos capitalistas, e abrindo espaço para a entrada das potências imperialistas na economia brasileira com tudo, num modelo de Brasil “fazenda do mundo”, sustentando os interesses econômicos dessas potencias que disputam novos mercados entre si, para se relocalizar frente a crise e salvar, ou avançar em suas posições no mercado internacional.

Sim, o dado de crescimento dos bancos é muito alarmante. Para aqueles que viram conscientemente o processo do golpe institucional, não é surpreendente. Afinal, este golpe, conduzido pelas forças reacionárias e autoritárias do judiciário, com Sergio Moro e Dental Dallagnol à frente da Lava-Jato, e com auxílio do STF, serviu para acelerar os ataques que o PT não era capaz de aplicar em seu governo. Aumentar o nível de submissão do país à Dívida Pública – que também vale lembrar, era paga religiosamente pelos governos Lula e Dilma, chegando ao montante total de cerca de R$ 13 trilhões de 2003 a 2016 – e ao empresariado internacional.

Os ataques aprovados até agora não são suficientes, nem para os bancos nacionais, nem para os internacionais

Desde a aprovação em primeiro turno, o discurso messiânico de que a grande salvação da economia brasileira residia na Reforma da Previdência, foi caindo por terra pouco a pouco, e se transformando num discurso de que era necessário incrementar este ataque com outros, e seguir as privatizações e ajustes fiscais para solucionar a crise para os capitalistas.

Esse movimento se vê nestes próprios bancos, em seus negócios mais imediatos. Como mostram as informações da Agência Estado, os quatro bancos tem planos de demissões, fechamentos de agências, e, como sabemos, contam com a MP da Liberdade Econômica para autorizar o trabalho em agências bancárias em sábados e domingos. O BB tem um plano de fechar 284 agências, e demitir cerca de 2,3 mil funcionários (números ainda não oficiais mas que circulam nos bastidores do governo). O Itaú já fechou no primeiro trimestre cerca de 200 agências, rifando milhares de empregos, e ainda tem planos de abrir neste ano um PDV (Plano de Demissão Voluntária) que acabaria com 6,9 mil empregos.

Não só nos próprios bancos, mas, como colocado anteriormente, o projeto de ataques, impulsionado por Bolsonaro e seu governo – agora melhor localizado inclusive para intensificar seu autoritarismo e repressão, depois de ter aprovado a reforma em dois turnos – é de seguir avançando contra nós, jovens e trabalhadores, com as privatizações, Reforma Tributária, e claro, os ataques ideológicos como o absurdo Future-se, de Weintraub, que quer entregar as pesquisas do Ensino Superior na mão das OSs (Organizações Sociais), atrelando os gastos públicos da educação ao interesse das empresas privadas, e colocando estas verbas na Bolsa de Valores, subordinando nossa educação ainda mais aos interesses do imperialismo.

Aos que se indignam com todos esses ataques e com esse projeto do golpismo institucional, existe uma saída: apostar na unidade entre estudantes e trabalhadores, organizados desde as bases, para responder nas ruas

Viemos colocando aqui no Esquerda Diário, desde os atos do 15M, que aquelas manifestações eram a demonstração de que a força do movimento estudantil poderia apresentar um caminho para se enfrentar e vencer Bolsonaro. E que para isso era necessário colocar toda aquela força, demonstrada com assembleias massivas em todo o país, e mais de 1 milhão de pessoas nas ruas no dia 15, a serviço de se ligar com a classe trabalhadora, e unificar a luta contra os ataques à educação com a luta contra a reforma da previdência.

No entanto, de lá até aqui, tivemos um recuo parcial nos cortes das federais, mas ao mesmo tempo, a aprovação da reforma na Câmara de Deputados (falta ainda o Senado para sancionar a PEC), e a entrada do projeto Future-se. Isso se deu, na nossa visão, pela estratégia levada a cabo pelas direções oficiais dos movimentos estudantil e operário, no caso a UNE, a CUT e a CTB (dirigidas por PT e PCdoB), principalmente. Partimos de colocar em todos os espaços que atuamos, tanto como MRT, como com a juventude marxista Faísca – Anticapitalista e Revolucionária, que não poderíamos separar as lutas dos estudantes da dos trabalhadores, exatamente pela relação estreita que tinham os ataques colocados em jogo com este projeto de país do golpe institucional. No entanto, a estratégia de UNE, CUT e CTB foi a consciente separação de nossas lutas, do início até agora, que ficou muito expressa nas convocações dos atos do 15M e do 30M, que não falavam de reforma da previdência, assim como a paralisação nacional do 14J, que não foi impulsionada pela UNE. Junto a isso, os deputados de PT e PCdoB, se apoiavam na chamada “obstrução parlamentar” para barrar a reforma, uma tática válida, mas se o tempo conquistado pelas obstruções for usado para algo. No caso, não foi usado para nada, ou pelo menos para nada além de dar tempo para os governadores de PT e PCdoB negociarem com Rodrigo Maia “melhores condições” na reforma, e pedirem também para que nela estivessem inclusos seus Estados e Municípios. E do lado das centrais sindicais, o tempo foi usado para negociar com Rodrigo Maia as condições para que caducasse a MP de Bolsonaro que acabava com o Imposto Sindical Obrigatório. Usaram o seu tempo para negociar seus interesses, enquanto entregavam nosso futuro a Bolsonaro, Maia, Moro e ao STF.

Vimos isso também no 57° Congresso da UNE, que começou no dia 10 de Junho, dia em que foi aprovada em primeiro turno a reforma da previdência na Câmara. E o que tomou conta das falas de PT e PCdoB na abertura do Congresso – que por sinal acontecia a alguns quilômetros da votação da reforma, em Brasília, na UnB – foi o silêncio completo frente a esse brutal ataque, que atinge aos trabalhadores, mas também a juventude, que ficara na certeza de que se aprovado até o fim, não irá ter o direito a se aposentar. Preferiram, dois dias depois, convocar uma manifestação “testemunhal” em frente aos ministérios.

Concretamente, a chave da questão, que nos leva até o momento atual, com uma manifestação nacional no dia 13 de Agosto, contra o Future-se, é uma discussão de qual estratégia necessitamos para vencer não só os ataques à educação, mas este projeto de conjunto. Como primeiro elemento, já colocamos a necessidade de unificar a luta dos estudantes e a luta dos trabalhadores. Junto a isso, colocamos a necessidade de que as entidades estudantis e de trabalhadores, UNE, CUT e CTB, convoquem já um plano de lutas real, para nos organizarmos desde as bases de cada universidade e local de trabalho, para vencer todos estes ataques e esse projeto de país.

E batalhamos também para construir o caminho dessa luta, e unificar todos os setores que querem construir um caminho alternativo à essa estratégia traidora e burocrática dessas direções. Por isso, durante o CONUNE, fizemos um chamado às forças da Oposição de Esquerda (PSOL, PCR e PCB) para fazermos durante o Congresso uma plenária unificada da oposição, que infelizmente não aconteceu.

Mas agora seguimos nosso chamado às entidades estudantis dirigidas pelas forças da oposição, nas universidades onde atuamos, como na USP, e também na UNICAMP, para que realizemos nestas universidades, plenárias unificadas em cada universidade, que reúnam todos os estudantes e todas as organizações que queiram se opor à essas burocracias de PT e PCdoB, para impulsionarmos a construção de um polo anti-burocrático capaz de exigir de UNE e das centrais sindicais a conformação deste plano de lutas, e da organização pela base. Para nós, a saída está numa estratégia que aposte na auto-organização dos estudantes e trabalhadores desde as bases, para superar os métodos e a estratégia destas burocracias, com uma resposta dada na luta de classes, para que sejam os capitalistas que paguem pela crise, e não nós, jovens e trabalhadores.

 
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