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FIM DE GREVE NA UFRJ
Uma volta às aulas conturbada na UFRJ
Jean Barroso
Artur Lins
Estudante de História/UFRJ
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Após mais de três meses da greve que se encerrou no dia 8 deste mês, os estudantes grevistas da UFRJ voltaram às aulas semana passada. O retorno promete ser conturbado, já que durante estes mais de 100 dias, o governo Dilma aumentou o valor dos cortes na educação, e nesta semana anunciou outro corte de 26 bilhões, que afeta diretamente os funcionalismo público congelando aumentos até agosto de 2016 e cancelando concursos até 2017.

O MEC sequer recebeu os estudantes. Na última semana da greve, na reunião do MEC com o ANDES (Sindicato nacional dos professores das IFE), uma representante dos estudantes da UFRJ pôde estar para ouvir o representante do MEC afirmar que se a pauta fosse a revogação destes cortes, a nossa greve duraria até 2099. O ministro da educação Janine Ribeiro não estava nesta reunião, como aliás não esteve em nenhuma das reuniões com nenhuma das categorias em greve.

Com esta situação crítica, se a Universidade não tivesse parado, e com isso economizado em contas de luz e água e manutenção, talvez a UFRJ hoje estivesse vivendo o drama da UFRRJ, aonde não houve greve estudantil nem docente, que acaba de anunciar que não pagará empresas terceirizadas, bolsistas e fornecedores. O que não descarta que mesmo assim serviços estruturais da UFRJ possam faltar até o final do ano, já que segundo o Reitor Roberto Leher, a universidade tem um déficit orçamentário de 300 milhões para 2015.

Apesar de estudantes e professores terem terminado sua greve, os servidores da UFRJ continuam na luta, e sua greve merece todo nosso apoio.

Para conseguir efetivamente “se esconder” da greve nacional das universidades federais enquanto o governo atravessa uma grande crise política e de representatividade, o governo Dilma contou com o apoio de parte dos professores , e dos representantes do PT no movimento de trabalhadores e no movimento estudantil. Esse é o caso da burocracia sindical da CUT e da CTB, que hoje está na direção do SINTUFRJ (sindicato dos técnicos da UFRJ), e que apesar de estarem em greve contra medidas deste governo, convocou a última passeata “em defesa da democracia” (ou seja, em defesa do mesmo governo). Também foi notório o papel da UNE, que atuou país afora traindo e enterrando a organização e a mobilização independente dos estudantes, pois está atrelada ao governo federal, e durante a nossa greve posava ao lado de Katia Abreu, notória representante do interesse dos latifundiários do país.

A miséria do “possível”

Os estudantes saem dessa greve sem nada do governo federal. O MEC afirmou que não seria cortado da assistência estudantil, uma demagogia já que desde o começo do ano, a cada corte as bolsas atrasaram ou deixaram de ser pagas, e além disso, a assistência estudantil depende dos outros repasses, a começar pela verba de investimento que sofreu um corte de 1 bi durante a greve. Esta verba deveria ser destinada para construir novos bandejões ou ampliar o alojamento, que no caso da UFRJ é extremamente precarizado, aonde estudantes são obrigados à dividir quartos minúsculos e muitos acampam nos corredores.

Do Reitor Roberto Leher, os estudantes receberam o compromisso por escrito de que as obras relacionadas à permanência seriam entregues e que não haveria corte na assistência estudantil. Entre estas obras estão a entrega da ala feminina do alojamento até novembro deste ano, 3 restaurantes universitário na Praia Vermelha, Macaé e no novo pólo de Santa Cruz da Serra até dezembro, reinício das obras do alojamento estudantil do CCMN, para 2016, junto com o reinício das obras do CCJE (faculdade de Educação e demais blocos em seguida) para o mesmo prazo, e pólo de Xerém deverá ser transferido para Santa Cruz da Serra até dezembro, e mais 14 bolsas auxílio emergencial deverão ser ofertadas
Parte ou metade destes compromissos, como bandejão para a PV e término da reforma do alojamento, são obras inacabadas da antiga gestão. O bandejão da PV, por exemplo, deveria ter sido entregue no começo deste ano. Além disso, no documento e em suas declarações públicas, Leher não diz em nenhum momento de onde sairão estes recursos já que o orçamento da universidade, segundo ele mesmo, tem um déficit de 300 milhões. Neste mesmo documento, o Reitor também se compromete a fazer uma audiência pública para discutir o orçamento da universidade para 2016.

Desde que assumiu, Leher está seguindo à risca a institucionalidade: pagou parte dos terceirizados diretamente na conta quando a empresa deu o calote, como manda a lei que define a UFRJ como “contratante solidária” e por isso responsável pela situação destes trabalhadores, um gesto diferente da antiga ou de qualquer gestão universitária país afora, no que limita a institucionalidade permitida dentro de um estatuto que, segundo diz o próprio Leher (e nós mesmos) é herdeiro da ditadura militar, aonde as decisões são tomadas por uma casta burocrática de professores, eleitos por um grupo bastante restrito da própria categoria docente, que detém 70% dos votos em todas instâncias de decisão.

Esta burocracia universitária é um “posto avançado” do governo Federal para aplicar os cortes deste ano. Não é à toa que foi em base à meritocracia da universidade que um grupo de professores “eméritos” pediu intervenção do MEC nas greves dos três setores da UFRJ. A falta de democracia nas universidades é funcional para que os poucos negros, estudantes de baixa-renda, e filhos de trabalhadores que passaram o filtro social do vestibular, tivessem nestes doze anos seus sonhos barrados nas tomadas de decisões, tendo apenas 15% de poder nestas.

Se o Reitor Roberto Leher quisesse fazer da UFRJ um exemplo nacional de luta contra os cortes na educação, deveria ter começado abrindo o livro de contas para que uma comissão de representantes de professores, servidores (efetivos e terceirizados) e com maioria de estudantes, eleitos em assembléias, decidissem democraticamente para aonde vai o orçamento da UFRJ. Também teria servido de exemplo para as universidades de todo o país a incorporação de todos os terceirizados, com plenos direitos como servidores da UFRJ, sem a necessidade de um concurso público já que já exercem a função.

Sem ter usado sua posição institucional conquistada a serviço da luta dos estudantes, servidores, e professores grevistas, ficou impossível que esta Reitoria servisse para impulsionar esta luta que não se limita ao estreito horizonte institucional.

Para que a UFRJ fosse esse exemplo também era necessário erguer um movimento estudantil amplamente democrático contra os cortes na universidade pública. O primeiro passo elementar neste sentido teria sido dado pelo DCE da UFRJ se tivesse preparado este movimento desde o início do ano, quando os cortes já tinham sido anunciados, afetando bolsistas e terceirizados, e havia indignação ativa entre os estudantes. Mas o DCE não construiu seriamente nenhuma assembleia até o momento de decretar a greve, desperdiçando a força desta indignação que chegou a virar uma ocupação de reitoria em certo momento. Isto poderia ter sido corrigido durante a greve, se tivesse fortalecido as assembléias de base nos cursos e formado um comando de greve verdadeiramente representativo e democrático, no entanto sua política foi chamar assembléias gerais durante a greve, aonde por dinâmica própria destas assembléias, poucos falam e participam.

Mas organizar esta força seria uma contradição para parte da gestão do DCE da UFRJ, que também é composta pelo Movimento Correnteza (PCR) que faz parte da diretoria do SINTUFRJ e faz parte da convocação dos atos “em defesa da democracia” (em defesa do Governo Dilma). Não querem desgaste nenhum para o governo federal porque de alguma maneira pensam que neste governo que está cortando direitos trabalhistas, sucateando os serviços públicos e arrochando a população, teria alguma coisa de “progressista” ou “popular” a se salvar.

Os outros setores que compõe a mesma gestão, que são RUA (Insurgência), Não Vou Me Adaptar (PSTU) e Coletivo Marxista, não são minimamente conseqüentes quando falam em “greve geral contra o ajuste fiscal”, a greve geral não passa de uma propaganda abstrata enquanto não houver um amplo movimento ativamente antigovernista que se coloque como alternativa contra os ajustes do PT e da direita tradicional, e como mínimo para isto se concretizar os estudantes da UFRJ deveriam assumir para si esta política, por meio das assembléias locais e do seu comando de greve. Da mesma forma, o movimento RUA (Insurgência) só confunde os estudantes ao ser parte da convocação dos atos em defesa do Governo Dilma, mesmo que se esforcem para dizer que “marcham separado” dos governistas. Por isso na UFRJ se faz necessário erguer um novo movimento estudantil, nada rotineiro, que não vacile e se coloque como alternativa tanto à oposição de direita como do governo que sucateia o ensino público, defendendo como perspectiva a transformação radical desta universidade para colocá-la à serviço da maioria da população.

 
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