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REFORMA DA PREVIDÊNCIA
A Reforma vai significar o assassinato no chão da fábrica com o fim da aposentadoria especial
Redação

Na última semana a Reforma da Previdência foi aprovada em 1º turno sob liderança de Maia na Câmara. O texto ataca o direito à aposentadoria especial de trabalhadores das indústrias, no país onde um trabalhador sofre acidente a cada 48 segundos. Um operário metalúrgico enviou anonimamente seu relato ao Esquerda Diário, confira.

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“Essa reforma será para nós trabalhadores da indústria um ataque sem precedentes. Um trabalhador de fábrica, independente do ramo, encontra no seu dia a dia uma quantidade enorme de riscos, que vão se acumulando e após muitos anos de trabalho trazem à maioria doenças, para muitos elas são graves e ainda tem aqueles que perdem a vida trabalhando, vítimas de acidentes fatais.”

Até agora, para trabalhadores das indústrias estava previsto direito à aposentadoria especial para atividades enquadradas como periculosas. Para atividades com grau alto era permitido aposentar com 15 anos de contribuição, para grau médio com 20 anos e para grau baixo com 25, sem fator previdenciário. Numa situação comum na indústria, um trabalhador que entra em atividade aos 20 anos de idade poderia se aposentar aos 45, sendo que nessa idade muitos já sofreram ao menos um acidente de trabalho ou se afastaram por problemas de saúde. Com a nova regra os trabalhadores terão que trabalhar até os 60 anos. Se estiver exposto a grau médio de periculosidade deverá ter 20 anos de trabalho e 58 anos de idade, para grau alto 20 anos de trabalho e 55 anos de idade. Um escândalo, como o operário metalúrgico segue relatando abaixo.

“A aposentadoria especial vem para responder isso, e ainda chega tarde em muitos casos. Pense que um trabalhador que se expôs ao longo de 15 a 20 anos a produtos químicos como o Nitol (ácido nítrico mais álcool), que afetam o sistema respiratório, as plaquetas sanguíneas ou mesmo a produtos cancerígenos (como o ácido sulfúrico), esse trabalhador, que estava a 3 anos de se aposentar não conseguirá aguentar mais 14 anos nessa situação, como a Reforma está impondo, ele vai desenvolver mais doenças ou vai morrer trabalhando."

Os riscos na indústria são muitos, por exemplo, tem os riscos sonoros. O barulho é insuportável, mesmo com o protetor auricular, o som passa e está muitas vezes acima dos 85 dB, que é considerado já como trauma auditivo. Quanto mais tempo exposto a esse barulho insalubre, mais chances de perder a audição, parcial ou completamente. São perdas irreversíveis, para a vida toda. Como um trabalhador desse conseguirá impedir isso se for obrigado a trabalhar além do que já estava previsto bem mais que uma década? Esses trabalhadores vão ficar surdos.

Penso também nos operadores de forno, dos diferentes tipos. Eles são expostos todos os dias a temperaturas de 700 a 1200ºC, que provocam desidratação intensa, pelo suor, que também afeta a circulação de ar nas partes vitais do corpo, no cérebro e coração. Eles estão ali também expostos às queimaduras de todos os graus, como essas pessoas poderão aguentar isso por muitos anos a mais? É desumano.

Isso para citar alguns exemplos dos riscos que antes eram enquadrados na aposentadoria especial. E que já exigia a força dos trabalhadores e organização para ser garantido como direito, muitas vezes dependendo da enorme burocracia juŕidica para essa comprovação. Fora que sabemos que os acidentes em muitos casos são abafados ou inevitáveis, em especial em fábricas pequenas ou menos conhecidas. É uma hipocrisia, porque em muitos casos os EPIs sequer são usuais, porque não permitem trabalhar direito, como é exigido. A Reforma vai significar o assassinato no chão da fábrica, sem aposentadoria especial, mais riscos e acidentes de trabalho.”

Encerrada a votação em primeiro turno na Câmara, sob a liderança do Rodrigo Maia (DEM), os deputados mostraram que estão a serviço dos grandes empresários e das multinacionais que buscam melhores condições para elevar seus lucros arrancando o sangue dos trabalhadores. As diversas emendas e demagogias de partidos como PSB e PDT não serviram para diminuir em nada os danos a categorias que serão mais afetadas, como a de professores e mesmo trabalhadores rurais, além das mulheres. Os trabalhadores industriais também entram nesse grupo dos que terão uma aumento mínimo de dez anos no tempo de trabalho antes previsto, o que significará de fato adoecer trabalhando ou morrer antes do direito elementar de descanso após um trabalho exaustivo. E para aumentar o absurdo, trabalharão mais recebendo menos, graças às novas regras que preveem uma média de todos os salários já registrados e a redução percentual do último salário em relação ao tempo de trabalho. O texto aprovado ainda terá que passar pelo senado.

Em resumo, a Reforma garante a redução do valor da aposentadoria integral e parcial, aumenta o tempo mínimo de contribuição e a idade mínima para aposentadoria. Com ela a aposentadoria também deixa de ser um direito constitucional. E manteve os latifundiários exportadores agrícolas isentos de pagar sua parcela de contribuição ao INSS, que em 10 anos deixou de pagar R$83 bilhões para os cofres públicos. Os militares e os políticos também passaram longe de ter seus privilégios e regalias questionados, o suposto “combate aos privilégios” é uma grande mentira de Bolsonaro e das mídias, como a Globo.

As emendas e medidas de diálogo com os defensores da Reforma da Previdência, ainda mais depois de aprovada em primeira instância, por fora de um plano concreto de luta real e que organize a força dos trabalhadores e da juventude, como faz o PT e PCdoB, com as centrais sindicais que dirigem, CUT e CTB, não têm nenhum significado concreto. É por isso que viemos expressando no Esquerda Diário que a única possibilidade real de barrar a reforma da previdência é a partir de um plano de lutas construído com o conjunto dos trabalhadores em cada local de trabalho, e junto também à juventude, em cada local de estudo, e que unisse o ódio de tantos jovens contra os cortes na educação com o ódio a essa reforma e a esse governo Bolsonaro que quer arrancar nosso futuro.

 
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