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CONUNE
A UNE não pode usar a força dos estudantes para negociar a reforma da previdência com Maia
Vitória Camargo

Ao fim do primeiro semestre do governo Bolsonaro, não restam dúvidas de que a juventude brasileira é nesta crise uma expressão da resistência dos explorados e oprimidos, de quem Bolsonaro, o Congresso e os capitalistas querem até a última gota de suor. Mas e agora? Como vencer? A energia de um movimento estudantil que se colocou na linha de frente da luta contra essa extrema direita reacionária, racista, machista e LGBTfóbica, disposta a tudo para resguardar os lucros do imperialismo e dos grandes empresários, será canalizada às negociações para trabalharmos até morrer? A atual política da UNE, dirigida pelo PT e PCdoB, segue animadamente as centrais sindicais, sem nenhum plano de luta pós-14, e dá aval à Reforma da Previdência “alternativa” do Congresso.

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Os resultados da PNAD da última semana confirmam o que vem sendo sentido no cotidiano massacrante dos jovens brasileiros: das 47,3 milhões de pessoas na faixa de 15 a 29 anos, 23% não estudam nem trabalham. Isto é, uma a cada 4 pessoas nessa idade faz parte da juventude “nem-nem”, dado que se aprofunda (28,4%) quando se tratam das jovens mulheres, responsáveis pelo trabalho doméstico. Quanto aos que escapam dessa estatística, encontram empregos precários, terceirizados, intermitentes e via aplicativos, como o Rappi, com suas longas, perigosas e mal pagas jornadas de trabalho. Os negros, que se enfrentam cotidianamente com o recrudescimento da repressão policial, os LGBTs e as mulheres pagam duplamente pela crise dos capitalistas.

Não só a Reforma Trabalhista não gerou empregos, como as chances dessa juventude conseguir se aposentar diminuem a cada dia, sob articulação do Congresso de Maia e Alcolumbre, do governo e dos grandes capitalistas. A “reforma da Previdência alternativa” à de Guedes, dos 900 bilhões “economizados”, isto é, sugados, embora retire algumas medidas impopulares, significa a destruição das aposentadorias de milhões e tem seguido nas últimas semanas a pleno vapor o plano para resguardar os lucros dos banqueiros imperialistas e grandes empresários. Foi a esse serviço que se deram as manipulações da Lava Jato e do autoritarismo judiciário nas eleições de 2018 e no golpe institucional, confirmadas pela The Intercept. Nesse cenário, com os cortes na educação, ameaçada pelos privatistas e obscurantistas de cima, o movimento estudantil vem sendo o setor mais contundente de oposição a Bolsonaro. Ninguém pode dizer que os estudantes não querem lutar.

O último dia 14 poderia ter sido mais expressivo não fosse o papel divisionista das centrais e da UNE. Embora, ainda assim, algumas categorias, como metroviários, em distintas capitais e estados do país tenham mostrado sua força e a juventude tenha mais uma vez encabeçado atos, essas direções de última hora impediram setores como rodoviários de parar e mostraram mais uma vez ao lado de quem estão nas negociações para “desidratar” a Reforma contra nosso futuro, a começar pela UGT e Força Sindical. São os mesmos que desde o início fizeram de tudo para separar a luta em defesa da educação da luta contra a Reforma da Previdência nos dias 15 e 30 de Maio e orientaram os trabalhadores a “ficarem em casa” no 14 para não serem contagiados pelo espírito da juventude nas ruas.

Ao contrário de querer dar continuidade à luta, ainda mais em um momento em que se escancara a farsa golpista pró-imperialista que levou Bolsonaro ao poder, dirigentes como Vagner Freitas da CUT insinuam que a Reforma cujo relatório foi apresentado por Samuel Moreira do PSDB, com pontos modificados, deveria ser comemorada.

O PT, que dirige a CUT, também está na direção da UNE, com o PCdoB. Na capa do site da maior entidade estudantil da América Latina, a única menção à Reforma da Previdência remete a Fevereiro deste ano; no corpo da página, a Abril. O Congresso da UNE, por sua vez, que teve sua data alterada seguidamente, como mais um elemento que impede ampla participação estudantil em um processo repleto de manobras burocráticas, está chamando um “ato da educação” no dia 12 de Julho, que se coloca em “defesa da aposentadoria” como nota de rodapé.

Isso porque há uma divisão de tarefas em curso: os mesmos partidos à frente das entidades que discursam (timidamente) contra a Reforma dão seu aval, formalizado em mais de uma carta, à Reforma articulada pelo Congresso a partir dos governos do PT e PCdoB nos estados do Nordeste. Clamam inclusive pelo ataque às aposentadorias no âmbito dos estados.

Veja mais: PT aceita reforma da previdência e as centrais não tem nenhum plano para derrotá-la

Certamente, não se trata de coincidência. Para a juventude, como Tábata Amaral do PDT é o exemplo mais categórico, a demagogia corre solta - mesmo que ela declare inclusive que há universidades das quais se pode cortar. Junto ao PDT, o PCdoB é aliado de Maia na Câmara. Enganam a juventude com vontade de lutar, enquanto vieram negociando com a corja em seus gabinetes. Junto ao PT, essa é a oposição“responsável” que tem como consenso que é necessário atacar as aposentadorias e mostram mais uma vez a falência de se colocar como alternativa para administrar o capitalismo em crise.

Essa foi a mesma oposição incapaz de barrar o golpe institucional, a prisão arbitrária de Lula e o fortalecimento de Bolsonaro, cuja base ganhou espaço nos anos de administração do Estado burguês pelos governos petistas, que triplicaram a terceirização que precariza o trabalho da juventude, recrudesceram as forças repressoras, com as UPPs, e cederam ao conservadorismo fundamentalista, rifando os direitos dos oprimidos. Agora querem entregar de bandeja a energia de lutadores, porque, como eles mesmos dizem, seguem “confiando nas instituições”. Assim, desmoralizam a classe trabalhadora e a juventude diante de cada ataque dos capitalistas, restando como saída depositar o voto nas próximas eleições.

É por isso que nós da Faísca viemos defendendo que é preciso tomar os rumos das lutas nas mãos, coordenando nacionalmente a partir de um comando de delegados eleitos nas assembleias. A força que veio se expressando pelo movimento estudantil não pode ser dissipada pela direção da UNE, como se a “missão estivesse cumprida” porque lutamos. Pelo contrário, justamente porque nos colocamos em luta, cada estudante que veio sendo parte dos atos e das paralisações deve enxergar claramente o papel de suas direções neste processo, que são um verdadeiro obstáculo para vencer. Porque, coordenada, unificada aos trabalhadores e massificada, pela base, essa força é capaz de vencer, derrotando a Reforma e os ataques à educação.

Foi por isso que escrevemos uma carta aos companheiros do PSOL, à sua juventude, aos parlamentares e a Boulos. Chamamos a que colocassem sua projeção a serviço de convocar a juventude que desperta às fábricas, aos transportes, às escolas e a cada local de trabalho para dialogar com os trabalhadores pela necessidade de unificação, de espaços de base e de chamar as centrais a romperem com as negociações para apostarem nessa aliança dos estudantes e trabalhadores, que pode ser imparável. Mais do que nunca, é necessário que esse partido deixe de compor frentes parlamentares com todos os que avalizam o avanço do ataque às aposentadorias, como PT, e tomem parte na denúncia à traição que está em andamento, exigindo um verdadeiro plano de lutas para que os dias 15, 30 e 14 não sigam servindo como golpes de efeito. Esse é o papel de uma verdadeira oposição de esquerda à UNE, em preparação para um Congresso que poderia ser histórico frente aos desafios contra a extrema direita e os patrões.

Um programa operário e popular arrancado com a força da luta

Colocamos isso porque acreditamos que uma estratégia centrada na luta de classes e na organização a partir de cada local de estudo e trabalho é capaz de superar as burocracias que freiam nossa força e arrancar um programa para que sejam os capitalistas a pagarem pela crise. Bolsonaro declarou abertamente que corta da educação e ataca a aposentadoria para pagar a dívida pública, um mecanismo de espoliação nacional para o imperialismo. Devemos levantar o não pagamento dessa dívida, junto a um plano para combater o desemprego, que afeta principalmente a juventude, com obras públicas e repartição das horas de trabalho, sem redução dos salários. Também a tarefa de defender a educação se liga à necessidade de voltar as universidades aos interesses dos trabalhadores e da maioria da juventude, que é barrada de estudar nas instituições públicas, por isso a importância de se colocar pelo fim do vestibular e pela estatização das universidades privadas.

É preciso defender a imediata liberdade de Lula, sem prestar nenhum apoio político ao PT, e que tudo o que The Intercept sabe seja revelado para a população, e não solto a conta-gotas. Além disso, no lugar de confiar em juízes privilegiados eleitos por ninguém para combater a farra da corrupção, que é intrínseca a esse sistema, cada juiz deve ser eleito e revogável, com júris populares para julgar os casos de corrupção.

Com o desenvolvimento da mobilização, um programa democrático radical, contra as privatizações e ajustes e anti-imperialista seria parte das tarefas para uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana. Nesse processo, a única saída na crise, capaz de apontar para uma vida que valha a pena ser vivida pela juventude e pela classe trabalhadora, é um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

São essas ideias marxistas anti-burocráticas, anticapitalistas e revolucionárias que defenderemos no CONUNE!

 
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