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CRISE E REFORMA PREVIDENCIA
Maia e Guedes em atrito sobre previdência e administração da “usina de crises”
Ricardo Sanchez

Guedes saiu ao ataque da Câmara por ter diminuído, muito ligeiramente, a reforma da Previdência. Uma diminuição que ainda trucida o direito a aposentadoria de milhões de brasileiros que ainda teriam que viver até a idade mínima de 65 anos e ainda teriam as aposentadorias cortadas em seu valor. Maia imediatamente foi à TV e ao twitter acusar Guedes e o governo como uma permanente “usina de crises”. Como localizar essa nova crise em meio as diversas crises políticas nacionais e neste dia marcado pela paralisação nacional contra a reforma da previdência?

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Nova crise se instalou no Plano Piloto de Brasília. Agora ela tocou personagens que vinham de carícias políticas e de harmonia em uma agenda de privatizações e ataque aos direitos trabalhistas. A crise agora opõe os pesos pesados dos interesses patronais Paulo Guedes e Rodrigo Maia. Trata-se de mais uma das intermináveis modalidades de atritos e conflitos direita X extrema-direita que dominam o cenário nacional, mesmo com o potencial mostrado em um dia de paralisação nacional.

As repetidas e somadas crises colocam renovada oportunidade para que os trabalhadores entrem em cena e possam derrubar toda reforma da previdência. Para ver esse potencial é importante entender a crise, como ela se situa em meio ao “MoroGate” e, localizar o potencial e os limites mostrados pela luta de classes num dia como hoje, que ainda está em andamento com manifestações tomando as ruas de várias capitais enquanto escrevemos esta primeira análise.

Guedes e a psicologia infantil de seres que tudo podem

Guedes hoje ofereceu uma aula do funcionamento da psicologia de um burguês típico, mais especificamente de um banqueiro. Uma modalidade especial de patrões ainda mais treinados que os outros a só cortar pessoas, que mais que outros são treinados a encarar o mundo com um balancete de créditos e débitos. E em seu balancete uma reforma que arranca direitos e entrega aos donos da dívida R$900 bilhões no lugar de seus R$ 1,2 trilhão é absurda.

Em um ataque irascível, saiu distribuindo insultos à Câmara por mexer em sua reforma da Previdência. Como burguês acostumado a demitir a seu bel-prazer, quis demonstrar isso aos jornalistas. Guedes afirmou: “"Eles [parlamentares] mostraram que não há compromisso com as novas gerações. O compromisso com os servidores públicos do Legislativo foi maior do que o com as novas gerações”.

Nada mais longe da verdade que Guedes se importar com as novas gerações, já que a essência de sua proposta significa impor o fim do direito a se aposentar, e nem tampouco é verdadeiro atribuir aos deputados “um compromisso com os servidores”. Os deputados querem é mais que o direito dos professores, enfermeiros e outras categorias estaduais e municipais se explodam. Mas seus cálculos políticos colocaram eles em rota de colisão com Guedes.

A reação de Maia e sua relocalização mais forte na luta de frações do golpismo

Maia foi imediatamente à TV e ao twitter afirmar que "O governo é uma usina de crises". Ele destacou: "Vamos aprovar a reforma da Previdência. Nós blindamos a reforma das crises que são geradas todos os dias pelo governo. Cada dia um ministério gerando uma crise. Hoje infelizmente foi meu amigo Paulo Guedes, numa crise desnecessária, num momento em que o Parlamento assumiu a responsabilidade pela reforma."

Maia não somente buscou oferecer a Câmara como fonte de “moderação”, um papel nunca antes exercido, e que antes estaria mais destinado ao judiciário ou aos militares. Quis imediatamente transformar a crise com Guedes em mais um exemplo de como age o Palácio do Planalto: irracional, inegociável, e irresponsável com proposta tão crucial ao mercado. Aproveitou os conflitos para relocalizar a Câmara e ele mesmo de maneira mais forte na luta de frações dentro do golpismo.

A nova crise se instala enquanto não foi apagado o incêndio do “MoroGate” e sua comprovação da atuação partidária e golpista da Lava Jato. Se insere também enquanto uma pugna silenciosa entre a ala “ideológica” e os militares custou o cargo do outrora poderoso General Santos Cruz.

A reforma da previdência é para todo o capital mais concentrado a “razão de ser” do governo Bolsonaro. Maia sabe disso. Maia sabe também que a paz e harmonia que ele, o Botafogo das planilhas da Odebrecht, goza no momento é somente momentânea. Ela existe tão e somente enquanto ele for útil para aumentar os lucros capitalistas e tão e somente quanto mais ele oferecer paz se o Planalto oferecer conflito. Ele quer ter o poder de servir aos interesses capitalistas, somado ao poder de barganha de um Eduardo Cunha e ao mesmo tempo que se oferecer como fonte de conciliação.

Ele, mais que qualquer um, sabe o que judiciário reserva aos presidentes da Câmara quando perdem sua utilidade como agentes do golpismo e da estabilidade dos negócios capitalistas.

A relocalização de Maia busca aproveitar a situação toda para erguer as forças golpistas do “centrão” e do Parlamento em detrimento do Executivo enquanto esse ainda sangra dos ferimentos de Moro e do judiciário.

Como que Maia, capitão de uma reforma sanguinária pode oferecer conciliação e maioria?

Infelizmente essa é a pergunta da realidade nacional mais fácil de responder. Maia costurou um acordo triplo envolvendo o centrão, os governadores e a burocracia sindical. Amarrou esses atores díspares todos com a corda do mercado financeiro.

Maia ofereceu ao mercado a maior reforma possível, e este reagiu timidamente mas positivamente quarta e quinta-feira. Hoje com os efeitos da greve geral e da declaração de Guedes, caíram as Bolsas. O presidente da Câmara também ofereceu aos governadores a tentativa de vincular os servidores estaduais ao imenso ataque em trâmite. Aos congressistas ofereceu que isso ocorreria em detrimento dos governadores, que terão que “virar votos” para isso. Um acordo que ninguém amou muito mas que quase ninguém (fora Guedes e espécimes similares) detestou.

Esse acordo, se jogado como planejado por Maia, permite a inclusão moderada e com algum condicionamento de aprovação nas Assembleias Estaduais. Assim o desgaste dos governadores ocorrerá mas não será excessivo, os deputados cederão mas sem sair tão mal na foto. Nem ao céu nem à terra, mas sempre à Bovespa.

Por sua vez Maia ofereceu neste mesmo acordo alguns gestos para capturar os governadores do PT e PCdoB, ávidos em atacar os servidores de seus estados, como já haviam deixado claro em carta que defendiam uma reforma da previdência. Para que os petistas não saiam tão mal em suas próprias fotos e ambições eleitorais, ele barganhou. Já que o que ele precisa é de derrota e não de humilhação, Maia costurou com Joice Hasselman (maior interlocutora do Centrão dentro do PSL de Bolsonaro) a entrega de R$ 1 bilhão para a educação, com o centrão e o relator tucano de reforma negociou a retirada do ataque ao BPC e aposentadoria rural e minimíssimas alterações nas regras de transição do funcionalismo. A mudança da reforma no que tange às mulheres foi ainda mais mínima, mantendo a idade mínima em 62 anos, alteraram somente os anos de contribuição necessários.

Feitas essas concessões a oposição retirou sua promessa de obstruir trabalhos legislativos e pode começar a testar um novo discurso. Já não seria a reforma de Bolsonaro e Guedes, mas outra.

Parte fundamental de conseguir oferecer esse discurso já estava realizado pela burocracia sindical que ou convocou a greve geral de hoje como “uma greve para ficar em casa”, como disse a CUT, encobrindo a traição de seus próprios governadores, ou partiu para seu boicote aberto como fizeram as alas mais à direita no espectro sindical. A UGT retirou sua presença na greve geral. E sem retirar sua presença, a Força Sindical, de Paulinho da Força (SDD-SP) que já havia declarado que não havia força para derrotar a reforma mas só para “sangrá-la”, agiu praticamente como se tivesse se retirado.

Apesar disso a greve de hoje mostrou disposição de luta, categorias impuseram paralisações parciais mesmo quando seus sindicatos traíram como aconteceu entre rodoviários em Curitiba e Recife, ou mesmo com os metroviários de São Paulo que mantiveram sua greve mesmo após as traições das burocracias sindicais de ferroviários e rodoviários. As paralisações mostram que há disposição de luta e muito potencial, ainda mais se considerarmos que a juventude foi às ruas aos milhões nos dias 15 e 30 de maio.

As provocações da mídia que chegaram ao extremo de culpar manifestantes pelo atropelamento que manifestantes sofreram em Niterói no Rio de Janeiro, ou a selvagem repressão feita pelas polícias tucanas em Porto Alegre e especialmente na USP onde ainda há diversos presos não obliteram esse potencial vivo. Mas potencial não é automaticamente realização.

Justamente graças a burocracia sindical que Maia e Guedes ainda podem se dar esse luxo da divergência pública. É por isso que mesmo em meio a greve geral muitos debates centrais na política nacional ainda são entre direita e extrema direita. Mas o potencial está aí. É preciso agir para torna-lo realidade. O regime político do golpismo é um regime não consolidado, em ponto de mutação, onde abundam divergências até mesmo de quanto trucidar o direito à aposentar-se. Em meio a tantas crises continuam se oferecendo renovadas oportunidades para que os trabalhadores a aproveitem e entrem em cena. Junto a juventude, e impondo um plano de luta que acabe com as negociatas e afirme decididamente que nos opomos a toda reforma da previdência é possível começar a transformar esse potencial em ação.

 
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