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ECONOMIA
Mercado acena que "apenas" a reforma da previdência não basta
Redação

Na manhã da última terça-feira (29), uma reunião no Palácio do Planalto entre Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados), Davi Alcolumbre (presidente do Senado), Dias Toffoli (presidente do STF) e os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia) e o general da reserva Augusto Heleno demonstrou a conformação de um pacto de trégua momentânea nas disputas entre distintas frações do regime golpista, num esforço conjunto de avanço para a aprovação da reforma da Previdência.

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O pacto firmado entre Bolsonaro, o Congresso e o STF não significa, no entanto, um cessar nos confrontos entre os diferentes fatores de poder para determinar qual será o projeto de governo bonapartista predominante. As manifestações do núcleo duro bolsonarista no último 26 de maio, ainda que numericamente inferiores ao peso dos atos do 15M que levaram mais de 1 milhão às ruas no país inteiro, foram o bastante, ao menos, para garantir certo capital político ao projeto de bonapartismo imperial que Bolsonaro tenta implementar, buscando conceder mais poderes ao Executivo por sobre as outras alas do regime e alcançar certa independência dos outros fatores de poder para avançar em sua agenda reacionária – como o pacote “anti-crime” de Moro e a recém aprovada MP 870, uma das promessas de sua campanha eleitoral, que reduz o número de ministérios de 29 para 22 . Para que a MP da Reforma Administrativa fosse aprovada, inclusive, Bolsonaro se viu obrigado a recuar em outras questões importantes para sua própria base aliada, como a retirada da COAF na alçada do superministro da Justiça Sérgio Moro, numa demonstração de que o Congresso e o STF também não largarão tão facilmente o osso em tentar moderar os fatores mais reacionários de governo de Bolsonaro, mantendo a disputa por sua parcela de poder dentro do regime golpista degradado e buscando avançar em seu projeto de autoritarismo institucional.

Ainda que farpas continuarão sendo trocadas entre as distintas alas do regime em mutação, o acordo entre Bolsonaro, o centrão e o STF expressa um rearranjo na dinâmica das disputas internas do governo, para confrontos menos abertos e mais velados, no intuito de reafirmar uma convergência estratégica para a aprovação da reforma da Previdência – secundarizada há muitos meses em meio à agenda de ataques, a desagrado do mercado financeiro internacional. Não à toa, observou-se uma alta eufórica nas ações da Bovespa logo após a conformação do pacto em Brasília.

Apesar das divergências em relação ao projeto de bonapartismo a ser levado adiante pelo governo e qual seria a melhor forma de aplicar os ataques, um ponto central unifica todos estes setores: a continuidade da subordinação do país aos interesses imperialistas e a manutenção da taxa de lucro dos grandes capitalistas, para que a crise econômica seja paga por nós, com nossas vidas. Ainda assim, nesta semana analistas econômicos burgueses, como o economista-chefe do Itaú Unibanco, apontaram que apenas a reforma da Previdência não será suficiente para recuperar a economia brasileira em contínua recessão, ao contrário do que aponta o governo, sendo necessária a aprovação de uma série de outras medidas e ataques neoliberais para atingir o reequilíbrio fiscal, como a revisão das regras de reajuste do salário mínimo e maior controle dos gastos com o funcionalismo público. Tudo isto enquanto a sacrossanta dívida pública, o principal mecanismo de saque das riquezas nacionais pelo imperialismo, segue sendo paga religiosamente. Deixam claro que não bastará nos fazer trabalhar até morrer (e morrer de trabalhar, em condições de trabalho cada vez mais precárias e degradantes), mas que pretendem
avançar em sua agenda de ataques e descarregar ainda mais a crise sobre as costas dos trabalhadores e da juventude.

Se fica evidente o pacto entre os de cima para acabar com o nosso futuro, se faz urgente também a necessidade de massificarmos a nossa luta para golpear com um só punho este governo reacionário. Se publicamente Bolsonaro chantageia a juventude ao dizer que se a reforma da Previdência passa, o governo pode recuar nos cortes à educação no país, é necessário combater a tentativa de dividir a nossa mobilização. É o contrário do que defendem as direções burocráticas encasteladas no alto do movimento operário e estudantil, que, embora dirigidas majoritariamente pelos mesmos setores políticos (PT e PCdoB) vêm continuamente atuando para separar ao máximo as duas pautas, como lutas distintas contra os cortes na educação e contra a reforma da Previdência. Fazem isto para evitar a massificação dos atos que podem incendiar o país e escapar de seu controle, o que inviabilizaria sua estratégia de negociar com o centrão uma reforma da Previdência “justa” e desidratada, desgastando o governo Bolsonaro e apostando numa frente ampla democrática que abraça até mesmo setores golpistas para disputar as eleições em 2022, enquanto rifam os nossos direitos e nossas vidas.

A disposição de luta de centenas de milhares de jovens que foram às ruas em defesa da educação pública no último 15 de maio pode impor uma derrota estratégica a este pacto recém desenhado no governo, se aliada com a força da classe trabalhadora, unificando nossas demandas nos atos do próximo 30M e também como preparação de uma forte greve geral no dia 14 de junho. Para que não nos tornemos reféns da política das direções traidoras, que preferem rifar nossa luta e negociar nossos direitos para a manutenção de seus próprios privilégios, é fundamental se colocar de pé a articulação de um comando nacional de delegados eleitos pela base, revogáveis a qualquer momento, a partir das assembleias em cada local de trabalho e de estudo no país. Só assim, tomando a luta em nossas próprias mãos e apostando na auto-organização dos trabalhadores e estudantes, poderemos decidir qual o conteúdo da nossa luta e impor uma derrota estratégica ao recente pacto firmado entre Bolsonaro, o centrão e o STF.

 
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