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CAMPINA GRANDE
Lançamento da biografia de Rosa Luxemburgo em Campina Grande (PB) aborda debates estratégicos
Shimenny Wanderley
Campina Grande

Nessa quinta-feira, 04 de abril, realizou-se em Campina Grande (PB) uma importante atividade de lançamento da biografia de Rosa Luxemburgo, “Pensamento e Ação”, escrito pelo comunista alemão Paul Frölich, traduzida pela primeira vez em português pelas edições Boitempo e Iskra, com uma conferência da Professora Maíra Machado.

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Esta atividade foi realizada na Sala Fábio Freitas no Hall das Placas do Centro de Humanidades (CH) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), reunindo aproximadamente 45 pessoas, fechando o ciclo de lançamentos desta obra no Nordeste, que contou também com eventos em Natal (RN) no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), assim como na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em Recife (PE) e na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em João Pessoa (PB).

Confira os debates pelo Nordeste de lançamento da biografia “Rosa Luxemburgo: Pensamento e Ação”

Nessa quinta-feira, 04 de abril, realizou-se em Campina Grande (PB) uma importante atividade de lançamento da biografia de Rosa Luxemburgo, “Pensamento e Ação”, escrito pelo comunista alemão Paul Frölich, traduzida pela primeira vez em português pelas edições Boitempo e Iskra, com uma conferência da Professora Maíra Machado.

Na UFCG, a professora Maíra Machado, da rede pública de Santo André (SP), que é militante do Pão e Rosas e foi candidata a deputada estadual pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) em filiação democrática no PSOL, foi a convidada para realizar a conferência, a atividade contou com a coordenação do professor Gonzalo Adrián Rojas, professor de Ciência Política na Unidade Académica de Ciências Sociais e nos Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais e de Ciência Política na UFCG, também militante do MRT e um dos fundadores do Esquerda Diário Nordeste.

Depois de uma breve apresentação por parte do coordenador da atividade que destacou a importância de Rosa Luxemburgo e seu assassinato no marco da Revolução Alemã, a exposição de Maíra Machado tratou dos principais momentos da vida de Rosa Luxemburgo, enquanto militante e dirigente operária que travou batalhas políticas contra grandes nomes da socialdemocracia alemã, como Eduard Bernstein e Karl Kautsky, abordando o debate de estratégias.

Maíra, completou sua apresentação explicando que além de professora em Santo André, no ABC Paulista, é atualmente diretora da APEOESP pela oposição.

Inicia sua exposição afirmando que conhecer a história de Rosa é uma tarefa militante! Em seguida, no momento em que o governo quer comemorar o golpe de 64 para poder seguir atacando a maioria da população de nosso país, Maíra fez uma homenagem à todos os mortos, torturados e perseguidos na ditadura militar brasileira. Também em memória de Marielle Franco, a quem definiu como um símbolo contra a ordem social que vivemos, mulher negra, lésbica, de esquerda, expondo que sua morte é umas das feridas abertas do golpe institucional e que é preciso continuar lutando por justiça à Marielle.

Apresentou que Rosa foi assassinada depois de uma caçada brutal, que tinha como centro acabar com o “bolchevismo” e o “Spartakismo” que expressavam a chama viva da revolução. A obra e o pensamento de Rosa Luxemburgo, foi difamada e falsificada, e por muitos anos pouco se sabia daquela enorme personalidade, a Rosa Vermelha, da mulher que amava o perigo e dedicou sua vida à revolução. Esse ano completam 100 anos do assassinato da maior dirigente socialista mulher que o mundo já conheceu!

O assassinato de Rosa e Karl Liebknecht foi arquitetado e conclamado pela burguesia alemã e também pela social democracia, que já há muitos anos capitulava ao parlamentarismo, ao horror da guerra e ao nacionalismo. O corpo de Rosa foi jogado em um canal, mas por muito tempo nos bairros proletários da Alemanha, trabalhadores e trabalhadoras acreditavam que ela estava viva e que voltaria para assumir a liderança do movimento revolucionário quando fosse possível. Sobre Karl Liebknetch recomendamos esta matéria de minha autoria escrita aos 100 anos de seu assassinato.

Com esse livro se pretende resgatar a verdadeira história de Rosa Luxemburgo, superando a falsificação stalinista e reformista, entendendo seus erros e acertos e quem era a mulher que já no fim do século 19, com apenas 15 anos, resolveu entregar sua vida, energia e alegria para a causa revolucionária.

Rosa não era apenas uma pensadora da causa socialista, também era uma mulher de partido, durante sua vida construiu 3 grandes partidos operários que tinham o sentido claro de atuar para o triunfo da luta contra o capitalismo e enfrentou grandes figuras reconhecidas do marxismo daquela época, lutou por suas posições e morreu por elas.

Depois de uma apresentação geral da vida da revolucionária polonesa alemã, entrou no debate de estratégias, destacando primeiro sua luta política contra Eduard Bernstein que está sintetizada no livro “Reforma ou Revolução” de Rosa. Nessa batalha ela estava junto a Kautsky, e colocava em discussão quais deveriam ser os “fins” entre a reforma do capitalismo ou a revolução socialista. Já o segundo grande debate que Rosa vai levar adiante é “como” conquistar esse fim. Neste caso, o debate era de estratégias contra Kautsky, de como levar adiante os objetivos pelos quais se luta. Essa discussão está muito bem retratada no livro “Estratégia Socialista e Arte Militar” de Emilio Albamonte e Matias Maiello, que tentou expressar na sua apresentação e que em breve será lançado em português pelas Edições ISKRA.

A polêmica era, essencialmente, sobre como ligar os “combates isolados” como as eleições parlamentares, à atividade sindical, às greves (e hoje podemos incluir a atuação nos movimentos democráticos como o movimento de mulheres, o movimento negro, movimento estudantil) com o “objetivo da guerra” (a tomada do poder pelo proletariado). Este debate surge da contradição que atravessava a II Internacional entre o seu programa e a sua prática concreta. A ideia central de Kautsky era “evitar os combates decisivos”, acumular forças e desgastar o inimigo. Rosa definiu que isso era “nada mais que parlamentarismo”. Foi este debate que delimitou uma ala esquerda na socialdemocracia, antecipando a divisão que se produziu com a primeira guerra mundial em 1914 (chacina imperialista).

Frente as leituras de uma Rosa anti-partido, espontaneísta e democratista, Maíra expressou que Rosa não ataca a organização política, nem sindical, mas que está atacando os dirigentes dos sindicatos e do partido socialdemocrata.

Em 1917 Rosa foi expulsa da Socialdemocracia (pouco antes da revolução de Fevereiro), para depois integrar-se ao Partido Social Democrata Independente (junto a Kautsky) para só em dezembro de 1918 dar origem ao Partido Comunista Alemão (PCA). Isso porque, estrategicamente, Rosa apostava em permanecer no SPD expulsando a burocracia social-imperialista e não construir imediatamente um partido revolucionário previamente ao estouro da revolução alemã, fruto da catástrofe da derrota na I Guerra Mundial. Com o giro político de Rosa em 1918-1919, Trotsky enfatiza que ela rumava cada vez mais para a visão bolchevique do partido, e se tivesse tido mais tempo de vida provavelmente teria convergido completamente com ela.

Feita essa discussão, Maíra levantou a seguinte questão: O que tudo isso tem a ver com o que vivemos hoje? Qual é a atualidade destes debates ?

Diante das tarefas que temos de enfrentar após o golpe institucional que resultou na eleição de Bolsonaro, enfrentar o judiciário golpista e Sérgio Moro, enfrentar a ala militar do governo, enfrentar todo o obscurantismo, a batalha de Rosa contra o reformismo serve frontalmente. Realizou um balanço sintético dos 13 anos de governos petistas e as consequências da política de “conciliação de classes”, assim como apresentou os limites do PSOL, questionando o centro de gravidade da luta deste partido.

Sua conclusão foi muito clara, destacando a importância para aqueles que despertam para a vida política, conhecer a história dos grandes revolucionários, daqueles que deram sua vida para transformar a sociedade e lutar pelo comunismo, é preciso de estratégia, por isso resgatamos o legado de Rosa. Enfatizou que todas as lutas políticas de Rosa se deram enquanto os espaços de direção política, inclusive das organizações revolucionárias, eram vistos como uma tarefa quase exclusiva dos homens.

Rosa foi morta a coronhadas na cabeça, junto a seu companheiro de luta Karl Liebknecth, tentando assim apagar a perspectiva revolucionária, por isso retomamos o seu legado.

Após sua intervenção, de uns 50 minutos, foi aberto um interessante debate por mais de uma hora. Foi um grande momento que contou com peso de um importante setor da intelectualidade universitária, desde graduandos, pós-graduandos e professores de Campina Grande.

O evento foi transmitido ao vivo pelo Facebook na página do Esquerda Diário Nordeste e pode ser assistido aqui:

Ao final, os presentes se organizaram para enviar sua solidariedade à luta dos trabalhadores e trabalhadoras da RR Donnelley, cujas mais de 900 famílias foram descartadas pela empresa após declarar falência. Nenhuma família na rua!

 
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