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ROSA LUXEMBURGO
O incômodo de uma biografia militante
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Resposta ao artigo de Guilherme Magalhães, na Folha de São Paulo, sobre a biografia "Rosa Luxemburgo - Pensamento e Ação", de Paul Frölich, da Boitempo Editorial e das Edições Iskra.

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O jornalista Guilherme Magalhães usou seu espaço na Folha de São Paulo para publicar uma pobre nota sobre o livro "Rosa Luxemburgo - Pensamento e Ação", de Paul Frölich, da Boitempo Editorial e das Edições Iskra.

Ele define o livro como uma "hagiografia", seria uma biografia onde o biografado não comete erros. Mas depois ele mesmo critica o autor por... criticar os erros de Rosa (!?). Não surpreende que Magalhães sequer comente os grandes feitos de Rosa Luxemburgo como ter combatido à morte o oportunismo e o reformismo nas fileiras do Partido Social Democrata Alemão, antes de Lenin como aponta Frölich várias e várias vezes ao longo do livro.

O que quer demonstrar e que vai contra sua tese da "hagiografia" são justamente os pontos do livro no qual Rosa é criticada por Frölich, como por exemplo o debate em torno do tema do campo - reduzido a uma frase tão simplória que parece que o jornalista nem sabe do que está falando.

No final das contas, já expressando desespero, a "análise" da tal "hagiografia" termina com uma denúncia de "machismo" por parte de Magalhães contra Frölich quando este se indaga sobre os motivos pelos quais Rosa teria se equivocado em determinados temas da revolução e ressalta a grandeza da figura de Lenin - que, é inegável, tirou conclusões mais radicais de problemas que Rosa viu inclusive antes que ele.

A confusão é grande, mas o que está por trás dela é evidente: uma biografia militante que traz uma visão sobre os acertos e erros de Rosa Luxemburgo apresentado-a como parte da mesma ala de Lenin e Trotsky incomoda bastante, principalmente reformistas que pra alimentar seu ceticismo se apoiam em uma suposta "neutralidade" na história.

Mas não existe neutralidade na história. Ao longo dos processos, Trotsky e Lenin divergiram do esquerdismo de Frölich, em acordo com Rosa Luxemburgo, quando por exemplo da participação nas eleições na Alemanha. Mas também Frölich convergiu com Lenin e Trotsky nos temas candentes da Revolução Russa, como o tema do campo, da auto-determinação e da relação entre a Assembleia Constituinte e os sovietes.

Estes pontos estão largamente retratados no livro supostamente "hagiográfico". Não suficientemente raso, o jornalista termina dizendo que Rosa teria feito uma profecia contra os sovietes - nada mais falso. Rosa combateu a burocratização do SPD, muito antes que Lênin, mas junto com Lênin defendeu os sovietes em toda linha.

É por tudo isso que com todos os limites da época e da falta de documentos que surgem posteriormente a esta biografia, temos agora para o público brasileiro uma obra que sem esconder a paixão pela biografada, aponta erros e acertos, além de fazer uma grande homenagem a sua figura militante da maior dirigente socialista mulher que a história da humanidade já conheceu - que é o que mais pode servir de combustível para os grandes debates que a esquerda precisa fazer hoje para enfrentar o governo Bolsonaro no Brasil sem repetir os erros do PT.

 
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