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VISITA OFICIAL DE BOLSONARO A TRUMP
Bolsonaro aprofundará acordos de submissão nacional em visita oficial a imperialista Trump
Redação

Bolsonaro viajou aos Estados Unidos neste domingo, em visita oficial ao presidente Donald Trump. Trata-se de uma viagem ansiosamente antecipada pelo Planalto, pelas afinidades ideológicas do clã bolsonarista com o atual inquilino da Casa Branca, mas também por acordos comerciais ambicionados pelo Brasil. Entre os ministros que o acompanham estão Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).

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Bolsonaro ficará hospedado na Blair House, residência utilizada pelo governo norte-americano para receber chefes de Estado em visitas oficiais.

Estão previstos encontros do ultradireitista brasileiro com os chamados "formadores de opinião" (os ideológos da extrema direita organizada no The Movement, dirigida por Steve Bannon e do qual é parte o guru Olavo de Carvalho); com empresários; com Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), primeiro apoiador da tentativa de golpe de Estado impulsionado pelos EUA na Venezuela; e finalmente com Donald Trump, na terça-feira.

A viagem se dá em meio a um tímido desempenho econômico brasileiro, com o resultado de crescimento do PIB de apenas 1,1% em 2018 (quase o mesmo índice de 2017), e o aumento do desemprego, que se combina com a consolidação do consenso internacional de que este ano será de desaceleração mundial (a OCDE divulgou recentemente um relatório no qual reduziu a projeção de crescimento dos principais países do mundo), fazendo com que a previsão do mercado para o crescimento da economia brasileira em 2019 baixasse de 2,48% para 2,28%.

Ao contrário do propagandeado pelos capitalistas, a nefasta reforma trabalhista apenas facilitou a degradação das condições de vida das massas e aumento a taxa de demissões.

Esses dados e projeções tornam mais aflitiva a expectativa de Bolsonaro pelo encontro com Trump e magnatas norte-americanos, uma vez que o ultradireitista brasileiro precisa dar respostas rápidas na área econômica, que possibilitem a diminuição do desemprego galopante, uma das principais promessas de campanha de Bolsonaro.

As boa vontade de Trump pode ser contrariada, entretanto, pela proximidade de Bolsonaro com Steve Bannon, ex-chefe de campanha de Trump que caiu em desgraça tanto para o atual presidente quanto para todo o establishment político.

Além disso, turbulências políticas ainda afetam o governo, com o tema do assassinato de Marielle Franco, um crime de Estado, voltando a ganhar o primeiro plano da política após a prisão dos executores Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, fato que voltou a colocar em cena as possíveis relações da família Bolsonaro com as milícias cariocas. Ainda no front político, Bolsonaro vem tendo rusgas com Olavo de Carvalho, seu guru filosófico, em função da pasta da Educação, em que Vélez Rodríguez foi obrigado por membros militares do ministério a demitir pupilos olavistas. Olavo chegou a dizer que se "o governo seguir assim, não dura mais de seis meses".

No âmbito do autoritarismo judiciário, há divisões manifestas entre a Lava Jato e o Supremo Tribunal Federal (STF), que através do pedido da Procuradora-Geral da República Raquel Dodge vetou a "Fundação Lava Jato" (que seria financiada por um acordo entre o MPF, a Petrobrás e o Departamento de Justiça dos EUA) e também decidiu que os crimes de Caixa 2 são da alçada da Justiça Eleitoral, e não das instâncias Federais, irritando os procuradores de Curitiba vinculados a Sérgio Moro.

O Ministro da Justiça e da Segurança Pública, por sua vez, abre mais uma frente de atuação tratando de imprimir às cadeias de comando policiais a tutela da Lava Jato. Moro é um dos membros da comitiva à Casa Branca, com interesses de maior colaboração entre os dois países na área "de combate ao crime" (traduzido em outros termos mais pedestres, na área de ingerência das multinacionais norte-americanas, eternamente poupadas pela Lava Jato, na economia brasileira).

Do ponto de vista internacional, Bolsonaro atuou no período recente como "capacho emérito" de Trump, na tentativa de aplicar um golpe de Estado na Venezuela, mediante a quebra das Forças Armadas e a postulação como presidente interino de um fantoche de Washington, Juan Guaidó. O governo brasileiro, ajoelhado como vassalo no altar de Trump, auxiliou no que pôde a provocação realizada pelos Estados Unidos e a Colômbia no dia 23 de fevereiro, tratando de fazer entrar à força em território venezuelano uma suposta "ajuda humanitária" cujo único objetivo consistia em fraturar o Exército para provocar a queda de Maduro. A demagogia de Bolsonaro foi, desde então, uma cópia das ordens vindas dos EUA: apoiando-se no justificado descontentamento das massas venezuelanas contra a catástrofe econômica e social imposta pela política autoritária de Maduro, busca avançar um programa ultraneoliberal que tornará a miséria dos trabalhadores da Venezuela ainda maior.

John Bolton, assessor de segurança nacional de Trump, louvou essa submissão e disse que Trump "é o Bolsonaro dos EUA", tamanhos os esforços do presidente tupiniquim em fazer suas vontades.

Fazendo a lição de casa como manda Washington, Bolsonaro busca colher agora os frutos podres do capachismo. A sede por acordos comerciais é enorme. A subserviência econômica e política não é amadora: Bolsonaro já prometeu entregar a base aérea de Alcântara a Trump, permitindo que os EUA lancem satélites, foguetes e mísseis a partir do Centro de Lançamentos no Maranhão, como parte de um acordo de salvaguardas tecnológicas (AST).

Outro tema a ser discutido é a relação comercial na área do agronegócio. O governo Trump tenta aumentar suas exportações de etanol e carne de porco, que também são produzidos no Brasil, além do trigo. Do outro lado, o Brasil quer reabrir o mercado norte-americano para a carne crua brasileira. O governo brasileiro já indicou aos americanos que não haverá indicação imediata sobre o etanol, mas poderia acenar com redução de barreiras no caso do trigo se obtiver uma contrapartida dos americanos.

Há uma tensão neste ponto. Se o Brasil se beneficiou, no ano passado, com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, ao vender mais soja para o mercado chinês, a conta agora pode ser alta para os exportadores brasileiros de commodities agropecuárias se os dois países se aproximarem. Isso deverá acontecer a partir do momento em que for fechado um acordo entre as duas potências que vai prever, entre outras coisas, a abertura da China para esses produtos vendidos pelos EUA.

Por esta razão, previamente à viagem de Bolsonaro, a bancada ruralista rosnou em uníssono contra as declarações do chanceler olavista Ernesto Araújo, que arremeteu contra as relações comerciais entre Brasil e China. Isso obrigou Bolsonaro a afirmar que "a China é o grande parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos vem em segundo lugar", um alerta aos EUA, já que para além das óbvias afinidades ideológicas da extrema direita com o trumpismo, os acordos comerciais entre Estados Unidos e China podem causar um prejuízo de R$30 bilhões ao agronegócio, que contribui com quase 25% do PIB nacional.

O Brasil também não deve contar com o apoio formal dos EUA para sua candidatura a membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A adesão vem sendo articulada e defendida por Paulo Guedes como um selo de confiança internacional no Brasil. Em contrapartida, como prêmio de consolação, os EUA designarão o Brasil como um aliado preferencial fora da OTAN.

O novo status facilitaria a transferência de tecnologia no momento em que a indústria aeroespacial brasileira tenta montar uma nova relação com os norte-americanos, após a entrega da Embraer à Boeing. Em termos de prestígio, no entanto, a condição de aliado preferencial fora da OTAN não acrescenta muito, já que mais de uma dúzia de países já ganharam o mesmo status, incluindo Argentina, Egito, Tailândia, Jordânia e Tunísia.

Trata-se de um momento chave da política brasileira, que combina uma situação de passividade de massas e uma tolerância relativa diante de Bolsonaro por parte de amplos setores que esperam alguma resposta da economia, por um lado, e por outro uma economia desacelerada que não tem perspectiva de crescimento suficiente, no curto prazo, para diminuir a taxa de desemprego, a ponto de setores de massas sentirem melhorias sólidas em sua situação.

Bolsonaro segue sendo servo de Trump e é o principal pilar da ofensiva recolonizadora dos EUA na América Latina. Seus acordos com os EUA são de submissão nacional. Repudiamos essa visita, um selo da cumplicidade de Bolsonaro com a ofensiva golpista de Trump no subcontinente.

 
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