O Estado segue insistindo na via da repressão e punição para o combate às drogas. Se já não estivesse mais do que comprovado a ineficácia da política de guerra às drogas, a Prefeitura de SP quer inovar na inutilidade de seus métodos, com um projeto de política municipal de álcool e drogas que inclui a cobrança de multa para o consumo de drogas ilícitas, como se já não houvesse a criminalização e penalização do usuário.
Ainda na gestão Doria, o prefeito tucano prometeu acabar com a concentração de usuários de droga na chamada Cracolândia, organizando uma série de truculentas operações policiais junto ao governador de então, Geraldo Alckmin, inclusive com a demolição de casas com pessoas ainda dentro, e que tiveram como único efeito a dispersão momentâneo dos usuários por outras áreas.
O atual prefeito Bruno Covas, sucessor de Doria, deu continuidade às ações dando aval para a atuação cotidiana e truculenta da GCM na área, que controla até a entrada de pessoas na região da Cracolândia com abordagens arbitrárias e autoritárias.
Em entrevista publicada no El País dia 27/02, de forma inconsciente o prefeito Bruno Covas expressou todo o higienismo presente nas gestões Doria-Covas. Quando perguntado sobre o que menos o agradava na atuação enquanto prefeito, respondeu: “A que menos me agrada é a dificuldade de lidar com contradições da vontade da população. A população quer mais serviços públicos, mas menos impostos. Quer que tire o morador de rua da frente dela, mas quer respeito aos direitos humanos. Então você tem alguns conflitos que você tem que administrar e é o mais difícil porque são insolúveis. Isso é o mais difícil de lidar”.
Diferente do pensamento demonstrado pelo prefeito, ninguém deseja que os moradores de rua sejam tirados da vista das pessoas, o que se deseja é uma solução para essas pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social- sem acesso à moradia, à alimentação, à emprego, à dignidade humana-, produzida pelo capitalismo. Solução essa que passa por acolhimento, pela oferta dessas condições de dignidade, o que em nada se contrapõe à defesa dos direitos humanos, pelo contrário, é a exigência do cumprimento dos direitos humanos nos quais os moradores de rua estão inclusos, apesar de na fala do prefeito estarem excluídos até da categoria “população de São Paulo”.
Esse é o higienismo incrustado no DNA tucano ,e principalmente, nas gestões Doria-Covas, que quer “eliminar” da vista das pessoas, dos cidadãos de bem, o morador de rua e o usuário de droga. Tanto a questão dos moradores de rua, quanto dos usuários de drogas, são complexas questões sociais que tem de ser tratadas dentro da esfera da assistência social e da saúde pública. Bem diferente do higienismo, repressão e penalização que Covas oferece como resposta.
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