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CALOURADA USP
Calourada USP 2019 e o debate sobre os rumos do Movimento Estudantil
Redação

Com a extrema direita no poder a necessidade de retomar o papel combativo do Movimento Estudantil se faz mais urgente do que nunca.

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Nessa última semana tivemos a calourada na USP, a primeira após a eleição da extrema direita representada na dobradinha “BolsoDoria”, no marco de um avanço do autoritarismo judiciário que manipulou as eleições de 2018 com medidas como a prisão arbitrária do Lula.

Com a articulação de ataques no âmbito da moral e dos costumes, como o Escola Sem Partido, e ataques econômicos profundos como a Reforma da Previdência, a calourada foi marcada por um nível maior de politização dos ingressantes, os debates das mesas de diversos cursos foram em sua maioria pautados pelas diferentes visões sobre qual deve ser o caminho do movimento estudantil para se organizar frente ao novo governo e os ataques que estão por vir.

Nós, da Juventude Faísca e do Esquerda Diário, junto aos companheiros do MRT que atuam no Sindicato de trabalhadores da USP, o SINTUSP atuamos durante essa semana buscando discutir esses temas com o máximo de estudantes, buscando ouvir aquilo que pensavam. Acompanhamos as mesas de discussão nos cursos de Pedagogia, Letras e Ciências Sociais, e como parte da gestão Katendê do CAER, o centro acadêmico da Faculdade de Saúde Pública e Nutrição, batalhamos para expressar a nossa concepção de uma universidade que esteja a serviço dos trabalhadores e da maioria da população, em que o conhecimento possa ser compartilhado e combatendo o elitismo que é marca registrada da USP.

No curso de pedagogia o debate em relação ao Escola Sem Partido esteve no centro, com mesas tratando sobre Paulo Freire e o movimento da extrema direita em combater o suposto “marxismo cultural”, onde estiveram professoras das redes estadual – Maíra Machado – e municipal – Silvia Ferraro – além da professora da Faculdade de Educação Lisete Arelaro. Também uma mesa sobre o impacto do projeto sobre os setores oprimidos, com o destaque da intervenção de Adriano Favarin, trabalhador da Faculdade de Odontologia e Diretor do SINTUSP da Secretaria LGBT e de Diversidade Sexual.

Maíra, militante do grupo internacional de mulheres Pão e Rosas e do MRT, debateu com os ingressantes do curso de Pedagogia sobre como o Escola sem Partido, longe de ser uma “cortina de fumaça” para tirar o foco das discussões dos ataques econômicos, se articula com a Reforma da Previdência e vem no sentido de combater os professores e a aliança com a juventude e como as mulheres podem estar na linha de frente do combate, ligando a discussão ao 8M e a luta por justiça à Marielle. Esses dois setores quando unidos podem ter uma reação explosiva a esse projeto da extrema direita, tendo a juventude protagonizado os levantes das ocupações secundaristas em 2015/2016 que fizeram o então governador Geraldo Alckmin recuar na sua proposta de fechamento de uma série de salas e escolas, e as professoras municipais que estão em greve hoje contra o SAMPAPREV, a reforma da previdência a nível municipal.

A intervenção do Adriano Favarin debateu qual a estratégia devem adotar os setores oprimidos para impor uma saída para a crise onde sejam os capitalistas que paguem pela crise.

No curso de Letras tiveram debates sobre como as mulheres, os LGBTs, os negros, indígenas e todos os oprimidos, podem estar na linha de frente da luta contra todos os ataques, e qual o papel da universidade, dos estudantes e do todo movimento estudantil diante de todo avanço reacionário. Na nossa concepção, nós, estudantes, individualmente não temos força para dar combate aos ataques como o Escola Sem Partido, a Reforma da Previdência e tantos outros, mas nos organizando, sempre em unidade com os trabalhadores de dentro e de fora da universidade, para a construção de um forte plano de lutas, teremos força para ir por muito mais. Além disso, no curso de Letras, desde o Grupo de Estudos de Cultura e Marxismo, organizamos uma oficina com o tema “De Virginia Woolf a Carolina Maria de Jesus: gênero e classe na literatura” que reuniu dezenas de jovens para debater o papel das mulheres na literatura.

No curso de Ciências Sociais, o debate sobre como se organizar frente ao avanço da extrema direita contra nossos direitos democráticos e econômicos esteve na linha de frente. Marcello Pablito, trabalhador do bandejão, diretor do SINTUSP, e militante do MRT, esteve como um dos convidados na mesa “Povos do mundo em luta contra a extrema direita”, debatendo como a crise capitalista internacional provocou a ascensão de governos ultra direitistas como Trump e Bolsonaro, discutindo a luta negra internacionalmente, e as perspectivas de organização dos trabalhadores e da juventude no Brasil do golpe institucional diante da reforma da previdência e os ataques aos direitos democráticos. Desde a mesa Pablito também colocou como a universidade e a sociedade capitalista buscam promover uma divisão entre aqueles que pensam e aqueles que trabalham em nossa sociedade. Defendendo a necessidade que a esquerda, o movimento de trabalhadores e o movimento estudantil estejam na linha de frente de combater essa lógica absurdo que só está a serviço de manter todo o elitismo dessa universidade, que diz que lugar de pobre, trabalhador e negro é somente como empregado, e que não pode, portanto, ter voz na universidade em grandes debates, em uma lógica de separação do trabalho braçal do trabalho intelectual.

Na quarta-feira dessa semana foi o dia da calourada unificada organizada pelo DCE, em que a mesa principal teve como tema "O avanço do neoliberalismo na América Latina: perspectivas de resistência no governo BolsoDoria" contando com a presença de referentes políticos do PT, PSOL, PCdoB, PCB e PSTU. A discussão se pautou pela necessidade de se organizar contra todos os ataques da extrema direita nacional e internacional, em que as diferentes organizações apresentaram suas visões sobre o processo de fortalecimento e avanço dessa extrema direita, sobre a crise na Venezuela, o processo de golpe institucional de 2016, e quais saídas são possíveis hoje. Muito se disse sobre unidade e conformação de uma frente ampla, mas assim como algumas intervenções colocaram, não podemos nos aliar com setores do centrão, que apoiam a implementação da Reforma da Previdência ou que apoiaram o golpe. A unidade necessária para barrar toda a agenda de ataques que querem despejar sobre nossas costas é de todos os trabalhadores, da juventude, das mulheres, de todos os setores explorados e oprimidos.

Nesse dia o grupo internacional de mulheres Pão e Rosas organizou uma atividade para discutir quais caminhos devemos seguir para derrotar Bolsonaro, contando com a participação de uma trabalhadora da FFLCH-USP, Yuna Ribeiro e uma professora municipal em greve, Grazi Rodrigues

Alguns apontamentos para esse início de semestre

O que podemos perceber que ficou marcado nessa calourada foi a necessidade de nos organizarmos e de retomar um papel mais combativo do Movimento Estudantil, mas é importante debater ao redor de qual programa vai se dar essa organização. Para nós, que somos uma juventude anticapitalista e revolucionária, a universidade hoje está a serviço da burguesia, que busca avançar na privatização e elitização, às vezes se usando de um discurso ideológico de forma mais velada ou abertamente reacionário como o Ministro da Educação Vélez Rodrigues, que quer manter as universidades para elites privilegiadas, declaração essa que foi fortemente repudiada pelo Sindicato de Trabalhadores da USP. Mas sempre contando com uma estrutura de poder necessária para garantir que as decisões importantes de impacto na vida dos estudantes e professores sejam tomadas por um número restrito de burocratas que recebem cerca de 30.000 reais por mês e que estão sem dar aula a muitos anos.

Para nós, o Movimento Estudantil precisa se aliar com os trabalhadores de dentro e fora da universidade, lutando pela defesa e ampliação das cotas étnico-raciais, para que sejam proporcionais ao número de negros do Estado de São Paulo, e pelo acesso diferenciado aos indígenas. Mas entendendo que o questionamento do elitismo da universidade precisa se dar com uma luta que defenda também o fim do vestibular para que toda juventude negra e pobre tenha direito ao acesso à universidade. Lutando contra essa estrutura de poder que não nos representa, pelo fim do Conselho Universitário e da Reitoria e por uma Estatuinte Livre Soberana e Democrática, para implementar uma Gestão Tripartite – com trabalhadores, professores e maioria estudantil – e pela abertura do livro de contas para que possamos saber quanto dinheiro recebe hoje a Universidade, podendo decidir para onde serão destinadas as verbas e combatendo a mentira da falta de verba quando os membros do CO (Conselho Universitário) recebem altíssimos salários. Pelo fim da PEC da USP que congela os gastos na universidade, do congelamento de contratações e aumento da precarização do trabalho, ensino e aprendizagem.

Mas para além do pelo que lutar também precisamos discutir como se dará essa organização, qual estratégia deve seguir o ME. Bolsonaro e Dória já apresentaram seu plano de guerra, está na hora de mostrarmos o nosso! Por isso achamos fundamental que as nossas entidades estudantis – o DCE e os Centros Acadêmicos – estejam empenhados em construir um congresso de estudantes da USP como um espaço fundamental de reorganização do ME, algo que não acontece desde 2015, antes do golpe institucional, das greves gerais contra a reforma da previdência, da prisão arbitrária de Lula, do assassinato de Marielle, da eleição de Bolsonaro e de tantas outras coisas que já aconteceram em nosso país e precisam ser profundamente debatidas pelo conjunto dos estudantes.

Esse congresso precisa ser construído como um espaço democrático que permita um período de profundos debates com eleição de delegados pela base para que possamos elaborar um plano de lutas contra todos esses ataques. Essa não é a política levantada pela gestão Nossa Voz, composta pelo PT, UJS e Levante Popular da Juventude, que estão no nosso DCE e em CAs como o da Letras.

Ao invés de apostarem na força dos estudantes durante todo ano passado buscaram acordos por fora de debater como conjunto do movimento estudantil, com setores da burocracia acadêmica e da institucionalidade, que terceirizam postos de trabalho, demitem funcionário, contratam professores em regimes precários e perseguem os estudantes que buscam se organizar. Isso é um reflexo da estratégia que adota o PT a nível nacional, que os levou a fazer aliança com setores dos mais conservadores da política como Feliciano, Eduardo Cunha, Malafaia entre tantos outros, até mesmo colocando o depois golpista Michel Temer como vice presidente, abrindo espaço pro fortalecimento da direita no país.

O PSOL que dirige importantes CAs como o da Ciências Sociais e da Pedagogia pode colocar toda sua força a serviço de exigir do nosso DCE um congresso de estudantes da USP, que não acontece desde 2015 tendo eles mesmo sido gestão nos anos de 2016 e 2017, apostando na força dos estudantes em aliança aos trabalhadores e professores para que possamos vencer os ataques da extrema direita e do judiciário golpista dentro e fora da universidade.

Em uma forte unidade entre estudantes e trabalhadores, com as mulheres, LGBTs, e todos os oprimidos da linha de frente de uma forte mobilização, com um forte plano de lutas construído com cada estudante em cada universidade e escola, e cada trabalhador em seu local de trabalho - e nisso entra a importância das entidades estudantis e centrais sindicais saírem do imobilismo e começarem a construir a luta - vamos conseguir vencer todos os ataques do BolsoDoria e da extrema direita! Por isso defendemos a construção de um forte 8 de Março, onde as mulheres se coloquem a frente da luta pelos seus direitos! Assim como as professoras municipais em greve contra o SAMPAPREV mostram o caminho. Estudantes, trabalhadoras e trabalhadores, dizendo não as Reformas, não a censura. E aqui na USP, seguir na luta por uma universidade a serviço de quem a sustenta: os trabalhadores e do povo pobre.

 
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