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FRANÇA
Crise política na França: “Isto é o que acontece quando o povo tem fome”
Anália Micheloud

Assim um dos manifestantes expressou sua revolta hoje me Paris. Porém, para Macron, que comentou sobre os protestos na conferência de imprensa do G20, os manifestantes são “violentos” e os ameaçou de levá-los à justiça. Afirmou que “não permitirá a violência”, mesmo que as forças policiais tenham detido no dia de hoje mais de 250 pessoas e ferido quase uma centena.

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A jornada deste sábado está sendo um ponto de inflexão na França. Rodovias, aeroportos, avenidas e prefeituras foram bloqueadas pelos “coletes amarelos”. A imagens transmitidas a partir da “Place de l´Étoile” (Praça da Estrela) na região do Arco do Triunfo repletas de fumaça dos gases lacrimogênios lançados pela polícia simbolizam a enorme crise política que está se agudizando no país.

Participando da Cúpula do G20 em Buenos Aires, Emmanuel Macron teria acordado uma conferência de imprensa na qual se referiu apenas aos protestos e à repressão em Paris. Como era de se esperar, reduziu este grande processo de protesto social a “grupos violentos” a quem ameaçou “serem levados à justiça”. “Os culpados desta violência não querem nenhuma melhora, querem o caos”, afirmou. E ainda acrescentou que: “Nunca permitirei a violência”. Declarações paradoxais diante da brutalidade policial que observamos hoje em Paris.

Um dos manifestantes declarou para a rede de televisão BFM TV: “isto é o que acontece quando o povo tem fome”, explicando de forma contundente a razões sociais profundas por trás dos protestos. A alta dos preços dos combustíveis se transformou num pontapé para um processo de mobilização de massas que atualmente pede a renúncia de Macron.

O governo ainda que tentou aprovar a reforma trabalhista antioperária no ano passado, e pagou um preço alto com o desgaste de sua imagem presidencial diante das ruas repletas de trabalhadores em cada dia de jornada de luta contra a chamada “loi du travail” (lei do trabalho).

E neste ano, num primeiro momento com a mobilização dos estudantes contra a reforma universitária e, em seguida, com a enorme luta dos ferroviários, a taxa de aprovação de Macron caiu para menos de 25%, a mais baixa desde que ele assumiu a presidência. Sob um contexto de muita insatisfação das massas, com cerca de 9% de desemprego, o descontentamento social está instalado nas ruas, não somente de Paris, mas também em toda a França. Cidades como Toulouse, Marselha, Nantes e Nice, entre outras, também tiveram protestos e bloqueios, nos quais os manifestantes foram reprimidos, sobretudo em Toulouse.

No entanto, as manifestações que estão ocorrendo em Paris mostram uma grande disposição de luta. Um exemplo disto é que, apesar da repressão brutal, o número de manifestantes não diminuiu com o avançar com o tempo, pelo contrário, o movimento cresceu, um fato que foi reconhecido pelos números do próprio Ministério do Interior. As imagens dos veículos incendiados, as barricadas, a polícia detendo mais de 250 pessoas (até o fechamento desta matéria), ferindo pelo menos uma centena de manifestantes, não amedrontaram aos “coletes amarelos” que saíram às ruas com ainda mais força, enquanto as centrais sindicais faziam uma marcha absolutamente folclórica e distante da raiva popular.

O governo de Macron está cada vez mais debilitado diante do estrondo social que está ocorrendo, uma situação que expressa uma enorme crise do regime político, a nível de Estado. A crise de governabilidade na França extrapola ao governo de Macron, mesmo que o próprio governo em si, já faça parte desta crise. Lembramos que por sua vez, o governo anterior de François Hollande havia concluído seu mandato com apenas 12% de aprovação, a taxa mais baixa de um presidente durante a V República. Hollande foi golpeado principalmente pela luta do movimento operário contra a reforma trabalhista e os ataques terroristas. E ainda, destacamos que o próprio Macron chegou a presidência com um partido armado para a ocasião (“A República em Marcha”) ganhando uma votação frente a ultradireitista Marine Le Pen. Esta eleição já expressava a falta de representatividade dos partidos tradicionais na França, sobretudo, o colapso do Partido Socialista.

Mesmo que estejamos por ver como irá se desenrolar o movimento dos “coletes amarelos”, que não possui dirigentes claros, apenas vozes autoproclamadas. Um movimento com forte componente espontâneo apesar de uma clara disposição para a luta e do começo de uma união com o movimento operário organizado, como os ferroviários. O que está evidente é que a luta de classes explodiu na cara do governo francês, sendo assim, sua única resposta é a repressão.

 
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