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HADDAD E O PT
Haddad fala mais em pacto com direita golpista do que em combate à extrema-direita
Redação

Conheça as citações em que Haddad mostra estar convicto da necessidade de um pacto de unificação com a direita golpista para vencer Bolsonaro nas urnas. É impossível enfrentar a extrema direita aliado com os próprios agentes do golpe institucional.

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Com a chance de ter um presidente que defende a tortura, o fim do décimo terceiro e todo o reacionarismo contra as mulheres, com ataque aos direitos trabalhistas, contra os LGBTs e os negros, com Bolsonaro, não há dúvidas que muitos votarão em Haddad seguindo a estratégia do mal menor. Nós do Esquerda Diário fazemos dura oposição ao Bolsonaro, à extrema-direita, aos patrões e ao golpe institucional, com completa independência do PT.

Abaixo selecionamos alguns exemplos dos passos de Haddad na tentativa de formar um pacto com estes golpistas, mostrando como isso vai contra a possibilidade de qualquer combate consequente contra a extrema-direita:

1. Disposição para governar com a direita golpista

Em diversos anúncios públicos, Fernando Haddad tem feito todo o esforço possível para convencer a imprensa, os partidos e os empresários de que seu governo será de pacificação e, nas suas palavras, de “construção de consenso” com o Congresso Nacional e com qualquer partido de direita que não seja base de apoio de Bolsonaro e realizasse uma "autocrítica" sobre o apoio dado ao impeachment de Dilma Rousef.

No ato eleitoral que ocorreu na Avenida Paulista no dia 16, por exemplo, Haddad acenou ao PSDB, dizendo que:

"Tem muitas pessoas que apoiaram o golpe de 2016 e estão revendo sua posição. O próprio PSDB já fez uma autocrítica de que não deveria ter participado do governo Temer. A autocrítica do PSDB é muito importante, pois isso constrói possibilidades de diálogo após as eleições."

Fontes: Terra, O Globo

Na sabatina promovida pelo portal UOL, a Folha de São Paulo e o SBT, Haddad foi além e afirmou que também conseguiria manter boa relação com o centrão no Congresso Nacional. O mesmo Congresso que aprovou o golpe contra Dilma Rousseff e inúmeros ataques contra os trabalhadores como a reforma trabalhista, a terceirização irrestrita e a Emenda Constitucional 95, conhecida como a PEC do Fim do Mundo:

“Eu penso que o Congresso Nacional já está devidamente consciente das tarefas das tarefas que nós devemos cumprir. O país precisa de paz.”

E em seguida Haddad deixa claro que sua estratégia não será confiar na mobilização contra os golpistas, mas nos velhos acordos que o PT sempre levou adiante com essa direita golpista:

“Você está falando com uma pessoa que não tem nada de sectário. Você está falando com uma pessoa que vai construir um amplo campo de apoio democrático popular com um projeto comum”

Veja a sabatina de Haddad no UOL

Ao invés de se colocar ao lado daqueles que repudiam o golpe institucional e todos os ataques levados adiante pela extrema direita, Haddad sinaliza para o mercado financeiro, para o Centrão e inclusive para os golpistas do PSDB, que está aberto a construir um amplo campo de apoio para governar. Em 2016 ele inclusive chegou a afirmar que a palavra “golpe” seria dura demais para explicar o que aconteceu em 2016. (leia aqui).

E esta aliança, obviamente, os golpistas só vão aceitarão se for para dar com o chicote no lombo dos trabalhadores.

Haddad junto com o Senador Eunício de Oliveira, na campanha atual. O senador votou a favor do golpe em 2016

Essa tentativa de pacto é necessariamente precária e instável, já que a extrema direita manterá sua força independente do resultado da eleição, e a pressão por ajustes duros exercida pelo judiciário golpista e as Forças Armadas darão lugar a um choque rápido de um eventual governo do PT com sua base eleitoral. No horizonte se encontram cenários convulsivos da luta de classes.

2. Haddad também é candidato das reformas

Em texto de autoria própria publicado no jornal Valor Econômico, Haddad mandou uma de suas cartas de intenções deixando claro aos capitalistas que também é candidato das reformas. No texto, o candidato diz que:

“Não existe direita reformista e esquerda antirreformista. Isso é uma ilusão. Os governos têm tentado fazer reformas.”

Em todas suas entrevistas, Haddad deixa claro que não é contra nenhum tipo de reforma contra os trabalhadores, apenas tenta passar a impressão de que suas reformas serão mais “suaves” que as de Temer. Por exemplo, na Sabatina da Folha, UOL e SBT, Haddad é perguntado sobre como seria a sua reforma da previdência, e dá sua opinião:

“Os regimes próprios de previdência deveriam ser o objeto inicial [da reforma], porque os governadores e os prefeitos não vão conseguir pagar as suas folhas. Agora, todas as variáveis, idade mínima, alíquota de contribuição, abre-se uma mesa de negociação como nós fizemos em 2003 e em 2012. Tem dissensões, mas nós [PT] conseguimos hegemonia para aprovar duas reformas da previdência em diálogo com a sociedade.”

Nem mesmo na reforma da Previdência de Temer o candidato do PT deixou de encontrar utilidade: "Essa reforma do Temer, o primeiro relatório que está na Câmara, tem coisas úteis. Os regimes próprios de Previdência deveriam ser o objeto inicial da reforma." Fonte: Folha de SP Um escândalo.

Haddad mostra na sabatina que será o candidato que levará os direitos dos trabalhadores para o açougue da mesa de negociações com a direita golpista. Os votos que receber, o apoio de quem teme pelas reacionárias reformas de Bolsonaro, virarão moeda de negociação para Haddad e o PT negociarem com o Centrão e o PSDB, os governadores e prefeitos, o ataque aos direitos dos trabalhadores.

E além disso, em um eventual governo de Haddad, o PT deverá ter a maior bancada do Congresso, segundo a pesquisa, ou seja, em um governo de “consensos” com a direita para nos atacar com reformas “suaves” comparadas com as de Paulo Guedes mas muito duras contra os trabalhadores que sofrem com a crise, Haddad poderá contar que não serão os seus deputados do PT que estarão a obstruir o funcionamento do Congresso Nacional golpista votando contra as reformas.

Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress - (2012) Haddad e Lula buscando apoio de Maluf para a eleição da prefeitura de São Paulo em 2012. Na época, Maluf era do PP, partido que também abrigava Jair Bolsonaro.

Leia também: O PT quer transformar nosso ódio a Bolsonaro em pacto com os golpistas

3. Um candidato que já provou seu valor para o mercado financeiro

Outra prova que Haddad é mestre em construir consensos com os capitalistas contra os trabalhadores foram seus atos enquanto homem de Lula. Sua primeira cartada foi nada menos do que ser peça fundamental a redação da Lei que regulamenta as Parcerias Públicos Privadas em todo o país, isso já em 2003-2004, quando integrava o Ministério do Planejamento sob o comando de Guido Mantega. Fonte: Carta Maior

Então, a Lei que permite que os hospitais da maioria das capitais do país não tenham insumos para atender a demanda dos pacientes, muitas vezes não tenham profissionais o suficiente, filas intermináveis e até cenas de pacientes deitados no chão esperando pelo atendimento: esta lei foi redigida por Haddad. Enquanto isso, a verba pública que poderia ser gasta com estes atendimentos escoa pelo ralo, indo direto para os empresários contratados para o serviço, que não prestam contas a ninguém.

E já à frente do Ministério da Educação, Haddad não abriu mão da sua aptidão para as “parcerias privadas” com os empresários. Se por um lado expandiu de maneira precária e sem nenhuma estrutura as vagas nas Universidades através do REUNI, com o PROUNI Haddad concedeu renúncias fiscais bilionárias para as faculdades particulares, comprando as vagas ociosas destas instituições. Só em 2016, por exemplo, a renúncia com o PROUNI foi de 1,27 bilhões de reais.

Quantas Universidades não poderiam ter sido construídas com este valor ao longo de todos estes anos? Já o FIES é o mais cruel de todos, porque sofreu cortes brutais com alterações de regras ao longo dos anos fazendo com que estudantes tivessem que largar os cursos no meio ficando com dívidas monstruosas. Longe de ser de esquerda, a gestão de Haddad na educação fortaleceu tubarões como o monopólio educacional Kroton-Anhanguera que se fortaleceram através do financiamento público.

Haddad em carreata com Renan Calheiros em 2018. Renan foi presidente do Senado em 2016, tendo colocado o impeachment em pauta e votado a favor.

Se não bastasse tudo isso, durante a prefeitura de São Paulo, Haddad manteve a tradição de repressão aos moradores de rua, mantendo a retirada de seus pertences no inverno de 2016, quando 5 moradores de rua morreram por causa do frio. Naquele momento Haddad disse que o objetivo era evitar a "refavelização" das praças e locais públicos. Fonte: Diário do Centro do Mundo

4. Um governo do PT não seria um "mar de rosas" para os movimentos sociais

Bolsonaro é o principal porta-voz da direita dura que quer criminalizar e reprimir todo tipo de protesto social, inclusive os mais pacíficos. Bolsonaro também quer censurar a liberdade de expressão e reescrever os livros de história para defender a repressão da Ditadura. Em um governo seu, as violações das liberdades políticas só aumentariam e teríamos que nos preparar para combater essa repressão.

Mas tudo isso não significa que a relação do PT (especialmente Haddad) com os movimentos sociais seja um "mar de rosas". Especificamente hoje o PT aparece se apoiando sobre os movimentos que existem para sua própria estratégia eleitoral, mas quando no governo, este partido já mostrou que também é capaz de reprimir a liberdade de manifestação e de expressão.

Foi em 2016, um pouco antes de sofrer o golpe, que Dilma decretou a Lei antiterrorista, usada hoje para perseguir e condenar participantes de manifestações como se fossem terroristas, como o caso dos 23 no Rio de Janeiro. Com esta, o PT deu as armas para a extrema direita nos reprimir.

Mas além de fornecer as armas, o PT também já as usou e pode usar de novo. Fez uso da Garantia da Lei e Ordem (GLO) durante operações em comunidades do Rio, na Rio+20, na visita do Papa e durante a Copa do Mundo. Foi no governo do PT também, que o exército invadiu e ocupou o Complexo da Maré no Rio de Janeiro.

E é claro, em 2013, frente as gigantes manifestações que ocorreram em junho, Haddad se articulou com Alckmin para jogar bomba em cima da juventude.

FOTO: Vanessa Carvalho/ Brazil Photo Press/ Estadão Conteúdo (2013) - Alckmin e Haddad juntos para reprimir os protestos de junho de 2013

Por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana

O PT quer transformar nosso ódio contra Bolsonaro, o autoritarismo judicial e a politização das Forças Armadas em um pacto de unificação com os golpistas. Não podemos permitir isso.

Ciro Gomes não é nenhuma alternativa ao combate à extrema direita, defendendo uma reforma da previdência, o pagamento da dívida pública, e negando a legalização do aborto junto à Motoserra de Ouro, Kátia Abreu

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Não podemos enfrentar seriamente a extrema direita com o voto, muito menos o voto num suposta "mal menor" que já teoriza a necessidade de uma amplo arco de alianças com a direita golpista que nos trouxe até aqui. Precisamos questionar o conjunto dos ataques de um regime político que deixa 28 milhões de pessoas sem emprego: propomos uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Uma Assembleia que possa votar livremente pelo não pagamento da dívida pública; pela reestatização sob gestão dos trabalhadores e controle popular de todas grandes empresas estratégicas como a Petrobras, a Eletrobras, os serviços de água e transporte, que passem a ter licitações públicas transparentes e controladas pela população; pela anulação de todas as leis reacionárias votadas pelos governos anteriores e a aprovação do aborto legal, seguro e gratuito; pela eleição por voto direto de todos os juízes e políticos, que passem a ganhar como uma professora e sejam revogáveis se traírem o mandato popular. Que todos os casos de corrupção sejam julgados por júri popular, assim como a abolição do Senado e a unificação em Câmara Única do Legislativo e do Executivo.

Essa é uma proposta emergencial que fazemos, pois cremos que no marco de uma luta como essa, estas consignas ditas "utópicas" nos marcos da "democracia capitalista" se tornarão amplamente populares, e consideráveis setores da classe trabalhadora perceberão que o poder real na sociedade capitalista não está no voto que damos a cada dois anos, mas sim no poder econômico e militar da burguesia, que condiciona qualquer governo de “mal menor” e que tem inúmeros mecanismos para impedir que qualquer medida realmente favorável aos interesses da maioria da população seja executada.

Será uma experiência que permitirá avançar na compreensão da necessidade de lutar por um governo dos trabalhadores que rompa com o capitalismo, exproprie a burguesia e socialize os meios de produção sob controle democrático dos próprios trabalhadores, que é a perspectiva estratégica pela qual nós socialistas revolucionários lutamos.

 
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