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ELEIÇÕES 2018
A debandada do centrão gaúcho rumo a Bolsonaro
Thiago Flamé

O mal chamado centrão, junção de partidos fisiológicos que seria o grande trunfo eleitoral de Geraldo Alckmin, é na verdade um rejunte de siglas de direita, herdeiros do Arena e do PDS, que aderiram em peso à candidatura de Bolsonaro na terra de Ana Amélia. Sendo o PP o partido que mais denúncias de corrupção tem, escancara-se o falso moralismo anticorrupção da chapa militar de Bolsonaro.

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Chamado de centrão, esse bloco de partidos está muito mais alinhado à direita mais tradicional e conservadora e à extrema direita, como o caso de PP, partido mais importante até agora deste bloco, que pode futuramente contar com o reforço do MDB. Alckmin tem como único feito eleitoral até agora o de alinhar esses partidos à sua candidatura, junto a outros setores da direita como DEM. A vice da sua chapa, Ana Amélia, é do PP gaúcho. Esse apoio fisiológico lhe rendeu um grande tempo de TV, mas não mais do que isso. O apoio desses partidos escorre entre os dedos cada vez mais na medida em que sua candidatura se inviabiliza. No Nordeste o centrão migra para Haddad (o presidente do PP, Ciro Nogueira, senador do Piauí, chegou a chamar voto publicamente para Haddad), enquanto no Sul do país bloca cada vez mais abertamente com Bolsonaro.

A elite latifundiária e do agronegócio tem um grande peso no Rio Grande do Sul e o PP é um dos partidos que tradicionalmente representa esse setores. O entusiasmo do PP gaúcho por Bolsonaro é um índice da adesão do latifúndio e do agronegócio à chapa militar, lembrando que o vice Mourão foi comandante militar no sul. Na convenção estadual deste partido, 80% dos delegados se pronunciaram a favor de uma candidatura independente ao governo do estado. O candidato escolhido seria Heinze, um dos principais apoiadores de Bolsonaro no estado. Com o acordo nacional e a adesão a Alckmin e a Eduardo Leite o candidato a governador pelo PSDB no estado, Henize foi obrigado a trocar sua candidatura ao governo pelo Senado, mas isso não mudou suas simpatias.

Apesar de ter a vice na chapa de Alckmin, desde o início Heinze e a maioria do PP gaúcho estão com Bolsonaro e a declaração pública do apoio por parte do Heinze tornou aberta e escancarada um racha que já se dava de fato. Jair Soares, governador do RS pelo PDS (partido da ditadura que sucedeu a Arena) entre 1983 e 1987, um dos políticos mais tradicionais do atual PP (apesar de não ser mais uma figura eleitoral tem um peso político interno) apoia a candidatura de Bolsonaro publicamente desde o início.

Não é só por parte do PP que o centrão e a direita gaúcha aderem em peso a Bolsonaro. Outro partido do centrão coligado com o PSDB, o PRB, também está se bandeando pro lado de Bolsonaro. Daniel Guerra, prefeito de Caxias do Sul, a segunda maior cidade do estado, nunca escondeu sua simpatia pela extrema direita e nomeou membros do MBL local para cargos no seu governo, também declarou publicamente seu apoio a Bolsonaro. O DEM, mas está também coligado com Alckmin, no estado sulista está diretamente coligado com o PSL nas eleições proporcionais.

Não é nenhuma novidade o pensamento conservador, autoritário e escravista da elite agrária gaúcha. Mas esse setor vem ganhando cada vez mais peso nas elites dominantes do estado e, com peso eleitoral de Bolsonaro no estado, que passa dos 30% das intenções de voto, se sentem cada vez mais fortes para destilar abertamente suas visões retrógradas.

Na Expointer, importante feira do agronegócio realizada no estado no fim de agosto, Alckmin até agradou, mas quem encantou foi Jair Bolsonaro. Para essa elite ruralista e escravocrata, como o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, declarou ao jornal Zero Hora, as respostas do tucano Geraldo Alckmin foram mais aprofundadas, mas Bolsonaro teve recepção mais calorosa, porque disse o que os produtores queriam ouvir. Segundo ele, "nosso pessoal anda machucado com a relativização do direito de propriedade, que começou no governo Fernando Henrique e se aprofundou nas gestões do PT." É preciso lembrar, por exemplo, que foi durante o governo FHC que aconteceram massacres no campo como o de Eldorado dos Carajás, em que dezenove sem terra foram mortos pela PM em defesa do direito de propriedade. Se esse tipo de conduta assassina é hoje considerado como uma "relativização" do direito de propriedade, o que os grandes proprietários estão preparando é uma guerra civil no campo, um massacre contra os camponeses sem terra, indígenas e quilombolas.

Todo o discurso retrógrado do Bolsonaro acaricia os ouvidos e os bolsos de uma elite que parece querer voltar aos tempos da escravidão. Bolsonaro fala contra qualquer tipo de restrição ambiental, de terras para reservas indígenas ou quilombolas, chama o MST de terrorista, e defende o armamento dos proprietários rurais sem nenhuma restrição. Tudo o que os senhores do rastelo e do chicote querem ouvir.

Se já em 2016 vimos durante as ocupações das escolas pelos estudantes secundaristas ações proto-fascistas e grupos de extrema direita, inclusive armados, tentando expulsar os estudantes das escolas, temos que nos preparar para embates muito mais duros no próximo período.

 
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