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ELEIÇÕES 2018
Finanças elegem entre os ataques de Bolsonaro e os de Haddad
Matheus Correia

Em recente matéria do The Economist, revista liberal britânica, nos é colocada uma análise sobre um possível governo Bolsonaro desastroso para o país e a América Latina. Outros jornais e revistas, importantes representantes do mercado financeiro, também estão debatendo sobre as eleições. Como se posiciona as distintas alas do mercado financeiro?

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É certo que há uma grande preocupação acerca das próximas eleições presidenciáveis para a burguesia internacional. O Brasil é um dos principais países da América Latina em termos econômicos e geopolíticos, um dos principais parceiros comerciais da China. Com a economia em queda e o cenário político em crise, as eleições são uma aposta quanto à futura rentabilidade do país.

Nestas eleições manipuladas pelo autoritarismo judicial, com a tutela das Forças Armadas, não podemos descartar qualquer tipo de fraude para dar seguimento ao golpe institucional, que já impediu a população de votar em quem quiser. Qualquer análise política, entretanto, deve passar pela descarada oferta, por parte do PT, de um pacto de unificação com os golpistas e os mercados, para apresentar-se como mal menor contra o odioso Bolsonaro. As finanças tomaram nota das promessas de Haddad em prol do ajuste fiscal e da reforma da previdência.

O príncipe perfeito da burguesia, Geraldo Alckmin, não emplacou e não estará no segundo turno da disputa eleitoral. Longe de um cenário perfeito, PT x PSDB, que poderiam dar uma cara legítima ao regime em frangalhos, novos presidenciáveis passam a ser cogitados pelo mercado.

O próprio PSDB, a partir da última declaração de Tasso Jereissati, já reconhece que talvez o tiro do golpe institucional tenha saído pela culatra para seu partido, movimento que junto à carta de FHC dá a ideia de aproximação ao diálogo com o pacto proposto pelo PT para reescrever o regime à direita, aceitando o legado do golpe.

Como comentado nesse artigo, o The Economist aponta Jair Bolsonaro como um possível governo desastroso para o Brasil e a América Latina, enquanto ressaltam em Haddad qualidades como um “prefeito de êxito”.

No artigo do The Economist apontam : “A América Latina já experimentou antes misturando políticas autoritárias e economia liberal. Augusto Pinochet, um governante brutal do Chile entre 1973 e 1990, foi aconselhado pelo livre mercado “Chicago Boys”. Eles ajudaram a estabelecer o terreno para a prosperidade relativa de hoje no Chile, mas a um custo humano e social terrível.”

O candidato dos sonhos não emplacou, mas com certeza o economista de Bolsonaro, Paulo Guedes, é um dos favoritos do mercado. Educado em economia pela Universidade de Chicago, um dos maiores antros liberais, o economista de Bolsonaro com certeza desperta a atração dos investidores internacionais, ao mesmo tempo que Bolsonaro desperta a incerteza quanto ao futuro político no país.

O problema principal, de forma geral para os analistas do mercado financeiro não é em si as posições reacionárias de Bolsonaro acerca da ditadura militar, dos LGBTs, mulheres ou negros. Mas na verdade a capacidade, ou melhor, a potencialidade do candidato do PSL em aguçar ainda mais a instabilidade política e com seu minúsculo partido não ter governabilidade no congresso. Não deixando que seu “Chicago Boy” implemente as reformas que o mercado deseja.

Não tão frontalmente quanto o The Economist, o Financial Times publicou até a história de vida de Bolsonaro para tentar entender seus posicionamentos políticos atuais, que aparecem ainda muitas vezes enquanto confusos ou dispersos. Apontam a contradição do candidato ter elogiado o governo de Hugo Chaves, ao mesmo tempo que tem um discurso anti-esquerda muito forte.

Ao mesmo tempo, questionam se Haddad conseguiria se livrar da tutela de Lula dentro das grades, para fazer um governo mais pró-reformas, como vem sinalizando no último período. O candidato petista chegou a dizer em sabatina do UOL que a diferença entre os programas econômicos de Bolsonaro e do PSDB, com o do PT, é que "o plano deles leva a uma retomada mais lenta do que no nosso entendimento”. Ou seja, na sede de pactuação com o regime golpista, Haddad confessa que o que o separa dos programas neoliberais do PSDB são matizes.

Em um podcast John Wheatley do Financial Times coloca "Haddad é uma pessoa séria. Embora o PT seja um partido que queira desfazer algumas reformas de Temer, é um partido grande e Haddad quer a reforma da previdência, então os mercados poderiam conseguir a pessoa que querem da forma mais inesperada. Haddad é um moderado que dirigiu SP entre 2012 e 2016, é uma pessoa de centro-esquerda, responsável fiscalmente, fez Parcerias Público-Privadas e reformas bem vindas às classes abastadas. Economicamente, Haddad quer retornar à década de 2000, quando o boom das commodities permitiu a entrega de concessões e um governo "gastador". Será difícil Haddad lidar com um Congresso hostil ao PT, especialmente depois do impeachment de Dilma, e seria um desafio bem grande tentar administrar um país tão dividido e com um Congresso tão conservador."

É difícil prever quais as próximas sinalizações do imperialismo acerca das eleições presidenciáveis e depende também do quanto o próprio Haddad consegue conquistar a confiança dos financistas de que pode ser o príncipe prometido das reformas. Contudo isso é a visão de uma ala do mercado financeiro.

A Bloomberg, agência de dados do mercado financeiro, em matéria colocou que na verdade o que está em disputa é como vai responder o ciclo de commodities internacionais. Enxergam que de fato o que fez com que Lula tivesse um legado de “bom presidente” é em decorrência do ciclo favorável do mercado de commodities.

Segundo uma matéria de opinião com Henrique Bredda, da Alaska (gestora do investidor Luis Alves de Barros), ele comenta “"Não olhe para a economia para tentar prever o retorno das ações do Brasil". “É tudo sobre commodities. Achamos que as commodities vão subir muito ”. Quanto a quem vencerá a eleição, ele diz: "Não importa".

Em um artigo da InfoMoney, sobre o encontro de Henrique Bredda com Bolsonaro, ele diz que “tivemos (alguns investidores renomados) excelentes impressões até agora. Desmistificou muita bobagem que temos lido por aí. Podem descartar 80-90% do que andam escrevendo”.

E finalizam o artigo dizendo “muitas dúvidas foram esclarecidas para o gestor - enquanto o mercado em geral parece mais tranquilo sobre a possibilidade de Bolsonaro ser eleito presidente”.

Em outra reportagem da Bloomberg, Monica de Bolle, pesquisadora da Johns Hopkins, coloca que “Com Bolsonaro fora da campanha desde que foi esfaqueadopor um fanático em 6 de setembro, seu companheiro de chapa, general Hamilton Mourão, assumiu protagonismo, e sobretudo porque os vice-presidentes frequentemente assumem a presidência no Brasil. O presidente Michel temer é o terceiro a assumir desde 1985, quando o país voltou à democracia... “Tenho certeza de que Bolsonaro tem as mesmas opiniões que Mourão”.

Em pesquisa da XP Investimentos no dia 5 de Julho, 49% dos investidores acreditam que a moeda brasileira se valorizaria frente ao dólar, atrás apenas das projeções com Alckmin, em que 85% acreditavam na valorização do real. Enquanto as expectativas com Haddad seriam as mais negativas possíveis. Entretanto, de lá para cá a novidade é que os mercados começaram a olhar para Haddad como um moderado que poderia aplicar os ajustes requeridos pelas finanças, com algum fator de previsibilidade.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, os sinais de Haddad são esperados. “A esquerda não é uma coisa só, nem o PT, e Haddad é dos mais moderados.” Esperando uma sinalização de Haddad mais a direita, como ele vem apontando recentemente. Ao mesmo tempo declara: “Na eventualidade de Bolsonaro ser escolhido, a situação é mais incerta. Nós já sabemos o que é o populismo de esquerda. Uma coisa é o palanque, outra quando realmente decidem fazer as coisas. O populismo de direita é uma incognita”.

Outro sócio investidor da Vision, gestora de recursos, Amaury Fonseca Junior aponta que “no geral os governos do PT foram positivos, mas tiveram o aspecto ruim de mudança de regras nas áreas do Petróleo e da energia”. Continua “No caso de Bolsonaro, há incerteza. A revista britânica The Economist afirma que será um governo catastrófico. Mas acho exagero. Vai depender do que ele apresentar. O que é necessário é que qualquer candidato tenha noção do quanto o país depende de capital estrangeiro para crescer. E, sem confiança, ele não virá”.

Podemos ver a divisão no Mercado, que antes bandeava quase que exclusivamente para Bolsonaro.

Incerteza do Mercado Financeiro quanto a quem aplica melhor os ajustes

A divisão de alas do mercado financeiro pró-Haddad e pró-Bolsonaro reflete a dúvida em saber o quanto cada um pode conseguir implementar os ataques à classe trabalhadora, como a reforma da previdência e a concretização da reforma trabalhista. Ao mesmo tempo, o quanto conseguirão abrir espaço para o capital financeiro no país.

Haddad já flerta com Luiz Carlos Trabuco, ex-presidente do Bradesco e Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas, para uma eventual pasta da Fazenda. Grandes nomes do empresariado brasileiro e que poderiam sinalizar ao mercado que Haddad é capaz de fazer as reformas. Marcos Lisboa, diretor do Insper também é cogitado e talvez seja o mais provável a ser escolhido.

O PT desde as últimas semanas tenta costurar um novo pacto nacional com os partidos golpistas, mostrando que deseja reescrever um regime em frangalhos mais à direita. Haddad é Lula? Essa é uma das grandes perguntas da burguesia, o quanto Haddad por ser o Lula mais pró mercado possível. O Lula elogiado como o maior presidente do país pelo ex-presidente do Itaú, Roberto Setubal, o Lula que diz que os banqueiros nunca ganharam tanto quanto em seus governos.

A incerteza quanto ao Haddad é o quanto ele terá que cumprir seus discursos para as massas de que não fará algumas reformas, em contraposição com o que vem acenando para o mercado. Em editorial, O Globo chega a dizer que seria “estelionato eleitoral se Haddad não aplicar as reformas que já está prometendo”, num curiosa inversão com a situação de Dilma em 2014, que havia prometido não atacar a população “nem que a vaca tussa”. E ela tossiu rápido, com o PT aplicando um forte ajuste contra os trabalhadores.

Contra esse pacto, a única forma de seguir lutando contra o golpe institucional, é exigir dos sindicatos e organizações populares que lutem por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Uma Assembleia que possa discutir o não pagamento da dívida pública, a revogação imediata e integral de todas as reformas do governo golpista de Temer e dos governos anteriores, a eleição dos juízes pelo voto popular bem como sua revogabilidade, o julgamento de todos os casos de corrupção por júri popular, o elementar direito ao aborto legal, seguro e gratuito e todas as medidas que possam fazer com que sejam os capitalistas que paguem pela crise, e que imponha a vontade das maiorias populares contra mais um pacto com golpistas e escravistas que pretende descarregar a crise sobre nossas costas. Somente a luta independente dos trabalhadores pode enfrentar o golpe, pois os de cima como o PT estão conciliando com os golpistas e capitalistas.

O enfrentamento à extrema-direita não se dará no voto, já que mesmo que Bolsonaro perca as eleições um governo do PT eleito estará subordinado não somente ao pacto com os golpistas que já está buscando mas também terá que lidar com 28% da base eleitoral de Bolsonaro e com os generais das Forças Armadas que exigem enormes ataques com os trabalhadores. Qualquer caminho de conciliação com golpistas vai levar a ataques duros aos trabalhadores e às mulheres e portanto nós precisamos nos organizar para que sejam os capitalistas que paguem pela crise!

 
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