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INCÊNDIO NO MUSEU NACIONAL DO RJ
A tragédia do Museu Nacional: conheça parte do acervo perdido e que jamais será recuperado
Luiz Henrique
Professor da rede estadual em Resende, RJ

O dia dois de Setembro de 2018 ficará para sempre marcado como o dia de uma das maiores tragédias que jamais se abateram sobre a ciência brasileira. O incêndio que destruiu o Museu Nacional constitui um verdadeiro crime contra conhecimento e a memória, e foi fruto de muitos anos de descaso e ataques a ciência nacional. No entanto, agora que Inês já é morta, as ditas autoridades cinicamente colocam-se a lamentar a perda do acervo de 20 milhões de itens, como se fossem nada mais do que curiosidades que podem ser obtidas em qualquer esquina.

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Talvez o comentário que melhor exemplifique essa linha de pensamento tenha vindo do bispo obscurantista, intolerante, proselitista e anticientífico que hoje ocupa o cargo de prefeito na cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. De um modo tacanho e ignorante, do jeito que só só uma mente doutrinada por um pensamento religioso-medieval é capaz, falhou miseravelmente em denotar qualquer apreço ao patrimônio cientifico ali perdido, declarando que “É um dever nacional reconstruí-lo das cinzas, recompor cada detalhe eternizado em pinturas e fotos e ainda que não seja o original continuará a ser para sempre a lembrança da família imperial que nos deu a independência, o império...”

O que o político-pastor não foi capaz de entender, bem como uma boa parte dos políticos que se pronunciaram diante da tragédia, era que a riqueza do museu não estava apenas no valor material do seu acervo histórico inigualável, mas também em todas as possibilidades de pesquisas que ele proporcionava.

O Museu Nacional era uma das maiores instituições de pesquisa do Brasil, e recebia materiais para análise e estudos do mundo todo. Haviam pelo menos cinco departamentos que funcionavam no palácio: Antropologia, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Invertebrados e, por fim, Vertebrados. Apenas Botânica estava em outro prédio.

Em cada um desses departamentos haviam materiais coletados de expedições no Brasil inteiro, e até mesmo de fora, esperando para serem analisados e resultarem na rica produção científica que sempre que sempre marcou a história da instituição.

Abaixo seguem algumas linhas de estudo que estavam sendo desenvolvidas e que foram destruídas, juntamente com suas respectivas coleções:

• O estudo da ocupação humana no continente americano, bem como das migrações internas que ocorreram em diversos períodos no território nacional, desenvolvida pelo Setor de Antropologia Biológica (SABMN). A coleção de ossos do SABMN era a maior do seu tipo no Brasil.

• A Biblioteca Francisca Keller, talvez a biblioteca mais importante de antropologia do país, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (PPGAS). O PPGAS, quem sempre obteve nota máxima na CAPES, era uma referência na área no continente sul-americano.

• O setor de arqueologia, também um dos mais importantes do país, que além do acervo inigualável e famoso, com peças inclusive do Egito, desenvolvia estudos relacionados aos povos do sambaqui, que habitaram o litoral do Brasil em um período anterior aos povos indígenas, da qual muito pouco se sabe.

• A pesquisa em línguas indígenas desenvolvida pelo setor de linguística, com inúmeros materiais inéditos.

• A riquíssima coleção de etnografia, que incluía diversos materiais da África e Oceania, também uma das mais importantes em sua área no Brasil.

• Uma das maiores coleções entomológicas da América Latina, com cinco milhões de espécimes. O setor de entomologia reunia algumas das maiores autoridades do Brasil em sistemática, morfologia, ecologia e biodiversidade.

• Os laboratórios de pesquisa em geologia sedimentar e ambiental, que analisavam desde processos erosivos até a contaminação do solo com materiais tóxicos. Havia neles uma coleção de amostra de sedimentos do mundo inteiro, inclusive da antártica.

• As coleções de rochas meteóricas, que incluía inclusive o famoso “bendegó”, um imenso meteorito que ficava na entrada da exposição do museu, bom como a de mineralogia e petrografia, que desde o incêndio no Museu do Museu da Terra, era principal referência da área no Rio de Janeiro.

• A pesquisa em palinologia, o estudo dos fósseis de pólens. É a partir deste trabalho que são desenvolvidas novas metodologias para encontrar petróleo. E também havia uma coleção palinológica importante no museu.

• De maneira bem resumida, os setores de paleontologia do Museu Nacional, (paleovertebrados, paleoinvertebrados e paleobotânica), formavam, junto com o DNPM na Urca, a maior e mais importante coleção paleontológica do Brasil, e principal centro de formação de pesquisadores nesta área.

• A pesquisa em biodiversidade de invertebrados marinhos e aracnologia, de excelência, com ênfase no mar profundo, além de um dos principais polos de educação ambiental.

• A imensa e importantíssima pesquisa em vertebrados, que contavam com 90.000 exemplares de anfíbios, 30.000 de répteis, 40.000 de peixes, 100.000 de mamíferos e 60.000 de aves, entre os quais encontravam-se milhares de “tipos” (indivíduos usados para “representar” as espécies). Ou seja, uma coleção de importância mundial.

Diante de tudo o que foi perdido e que jamais poderá ser recuperado, talvez as melhores palavras tenham sido de um senhor que, ao ser entrevistado pela Rede Globo (a mesma emissora que apoiou o golpe, usado entre outras coisas para aprovar “a PEC do fim do mundo”), diante de um Museu Nacional ainda em chamas disse: “Eu não sou religioso, mas amaldiçoados sejam os culpados por esta tragédia”. O que torna esta tragédia toda mais absurda é saber que bastavam onze segundos de pagamento da fraudulenta, ilegítima e ilegal dívida pública para cobrir o orçamento do Museu Nacional. E também por uma Petrobrás 100% estatal, sobre controle dos trabalhadores, para termos saúde, educação e cultura!

 
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