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MUSEU NACIONAL RIO DE JANEIRO
100 milhões de anos de memória destruídos
Redação

O Museu Nacional foi criado em 1818, no período da colonização portuguesa. Como integrante do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vinculada ao Ministério da Educação, era um museu universitário. Com perfil acadêmico e científico, suas atividades de pesquisa e ensino estavam voltadas sobretudo à produção e disseminação do conhecimento nas áreas de ciências naturais e antropológicas. Os seus duzentos anos de existência acompanhou o desenvolvimento da história do nosso país e permitiu a magnitude do seu acervo, que revelava não só a riqueza da cultura e história natural brasileira, mas também contava com obras raras e significativas da história de diversos outros povos e de todos os continentes.

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Sobre os mais de 100 milhões de anos de memória extintos no incêndio

Em entrevista os representantes do Museu estipulam que cerca de 90% de seu acervo e materiais foram consumidos definitivamente pelas chamas. Isso significa um ataque brutal à memória e à pesquisa científica, uma perda inestimável contra a humanidade. Entre os seus 20 milhões de itens faziam parte da exposição obras raras, muitas com milhares de anos e de reconhecimento internacional. Na área de Antropologia Biológica estava o crânio mais antigo que das Américas se tem conhecimento, a conhecida “Luzia”, encontrada na década de 1970, que possui cerca de 11 500 anos e aportou à pesquisas sobre imigrações para a América.

Na área de Arqueologia, além de materiais brasileiros, há ítens de culturas pré-colombianas, de culturas do Mediterrâneo e Egito antigo, sendo que deste último estava exposto o sarcófago de Sha-Amun-En-Su, de cerca de 750 a.C., oriundo de Tebas, presente dado a D. Pedro II em sua visita a região em 1876. Na área de etnologia estão diversos artefatos de culturas do Pacífico e indígenas brasileiras. Estas trazem em si parte da história de encontro de culturas que sofreram a dominação e extermínio da colonização portuguesa, bem como remonta ao encontro entre dos povos indígenas, naturalistas, militares e religiosos.

Na área Paleontologia estão ítens fósseis que remontam a 115 milhões de anos, quando o “sertão foi mar”. São oriundos da chamada bacia do Araripe, que engloba os principais depósitos fósseis do Brasil, na região do Ceará, Pernambuco e Piauí. Desta área estavam expostos os fósseis de tigre dente-de-sabre e preguiça gigante, além da réplica do titanossauro “Maxakalisaurus topai”, o primeiro dinossauro de grande porte montado no país, descoberto em Minas Gerais e que pode chegar a mais de 99 milhões de anos. O Museu contava também com a área de Geologia, com fósseis de meteoritos e outras amostras, além da área de Zoologia, com diversos ítens de animais vertebrados e invertebrados, como as coleções de conchas, corais e borboletas e o acervo de entomologia de mais de 5 milhões de exemplares. Tudo isso e muito mais queimado e retirado violentamente das mãos da atual e das próximas gerações, naquele que era um dos museus mais importantes do mundo.

Além destes ítens de exposições, estavam no museu universitário acervos como o da Seção de Memória e Arquivo (SEMEAR), com documentação que retrata o cotidiano do Museu Nacional em seus distintos contextos político, social e econômico da história brasileira, assim como materiais que revelavam suas relações com outras instituições de memória e museologia, nacionais e estrangeiras. Tratava-se de documentos que registraram os primórdios do trabalho científico no Brasil e sua relação com as transformações internas e internacionais.

“Se eles pudessem, nos queimavam junto com as paredes do museu”

As reportagens feitas ao vivo ontem, no momento em que as chamas avançaram no interior do Museu Nacional, mostraram ao mundo a dor e a revolta dos trabalhadores que chegaram a se arriscar entrando no prédio para tentar salvar algo. Os trabalhadores denunciaram as precárias condições e o verdadeiro descaso dos governos com a universidade, o Museu, a educação e a ciência. Um descaso que se faz sentir em todos os cantos do país, que já havia garantido a perda do Museu da Língua Portuguesa e que ameaça a maioria das instituições públicas.

A memória, cultura, pesquisa e educação, assim como outros serviços essenciais à população, estão sendo aniquilados pelos governos golpistas, como ilustra a retirada de 500 mil reais do orçamento do Museu no ano de 2018, que mal garantiu seu funcionamento mínimo com cerca de 50 mil reais. O histórico do descaso e enxugamento das áreas da educação e ciência no país, vem de anos atrás, que ganharam força através das políticas de ajustes empregadas já no governo de Dilma para garantir os lucros dos grandes empresários em meio a crise econômica. Esses ataque foram aprofundados pelos governos pós-golpe institucional de 2016, em especial com a aplicação da PEC do teto de gastos, enquanto hipocritamente os privilégios da casta política e do judiciário são garantidos e ampliados, além de que o principal compromisso desses parasitas é garantir os interesses das multinacionais e banqueiros, com o pagamento religioso da fraudulenta dívida pública que custa cerca de um trilhão de reais ao ano.

Se eles pudessem de fato queimavam todos os trabalhadores que defendem a memória, cultura, ciência junto às paredes do Museu. Se pudessem fariam o mesmo com todos que defendem o direito à vida e que denunciam sua rapina. Uma mostra está no brutal desemprego, nas ultra-exploradoras reforma trabalhista e Lei da terceirização irrestrita, além da reforma do Ensino Médio e do anseio pela reforma da previdência, enquanto os juízes que não trabalham e nem foram eleitos aumentam seus salários para 39 mil reais e fazem mil esquemas para manipular as eleições, impedindo até mesmo o elementar direito a se votar em quem quiser, com a prisão arbitrária de Lula.

Mas eles não podem queimar a classe trabalhadora e nem a juventude. O lamento pela perda inacreditável deve se transformar em ódio e força para combater os golpistas e seus projeto de país capitalista tão nocivo à humanidade.

 
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