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ELEIÇÕES
Panorama político de uma eleição controlada pela arbitrariedade da Lava Jato
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

A pesquisa CNT/MDA (Confederação Nacional do Transporte) foi divulgada nesta 4ª feira (7.ago.2018) com intenções de voto para presidente da República, governador e senador em São Paulo. A 2 meses do 1º turno das eleições presidenciais, Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin empatam, dentro da margem de erro, no estado de São Paulo.

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O caráter fraudulento e proscritivo dessas eleições está claro na leitura dos dados: mesmo na terra da FIESP e seus patos golpistas, quem tem a maior intenção de voto é Lula, preso arbitrariamente pela Lava Jato e o conjunto do poder Judiciário (STF, TSE, etc.), que escolhem a dedo quem será o novo presidente que aprofundará o golpismo e suas reformas, impedindo que a população tenha o direito de votar em quem quiser. Lula, por exemplo, não poderá participar do debate da Band por decisão autoritária do TRF4.

Quando Lula não é testado na pesquisa, Bolsonaro está numericamente na frente, com 18,9% das intenções de voto. O tucano registra 15,0%. O candidato do PT, Fernando Haddad, pontua 8,3%, empatado com Marina Silva, da Rede, (8,4%) e Ciro Gomes, do PDT, (6,0%). No cenário em que é testado, Lula lidera: fica com 21,8% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro marca 18,4%. Nesse cenário, Alckmin aparece logo atrás, com 14%.

Um dos resultados mais chamativos foi o crescimento de Haddad no crucial colégio eleitoral de SP (fruto de sua política de "socialdemocracia de resultado" na prefeitura paulistana, segundo Luís Nassif), seguido pela recuperação, em proporção menor, de Alckmin no Estado.

As últimas pesquisas realizadas pela MDA foram nacionais. Em março, a corrida presidencial sem Lula indicava que Marina, Ciro e Alckmin disputavam uma vaga no 2º turno contra Bolsonaro. Já na pesquisa divulgada em maio, Bolsonaro liderava quase todos os cenários de 2º turno. Só empatava, à época, com a candidata da Rede, Marina Silva, obteve exatamente a mesma pontuação do militar no confronto direto: ambos registram 27,2%.

Mudanças pós Copa: possibilidade de polarização PT e PSDB?

Houve mudanças importantes desde julho que vão para além do mapa eleitoral paulistano. Após a derrota do Brasil na Copa o PT atuou para modificar o ritmo das movimentações eleitorais, sem com isso ameaçar a institucionalidade jurídica, cuja defesa é parte integral de seu DNA desde a década de 1980 como um dos principais pilares do Regime de 1988. A sorte de Lula começou a movimentar o cenário eleitoral a partir da manobra jurídica com o expediente de Rogério Favreto no TRF4, que expediu liminar de soltura de Lula. O PT conseguiu articular o isolamento de Ciro Gomes, em primeiro lugar com a influência de Lula sobre Valdemar Costa Neto, presidente do PP, que enviou o Centrão para o colo de Alckmin; em segundo lugar, fechando um acordo de "neutralidade" com o PSB, que negociava apoio da siga a Ciro. Isolado este, o PT desativou a candidatura de Marília Arraes em Pernambuco, a favor do acordo com o PSB local, fortalecendo suas posições no Nordeste com acordos com o PMDB (Eunício Oliveira no Ceará, e Renan Calheiros em Alagoas).

Desistindo do pedido de liberdade para Lula ao STF, o PT inscreveu Lula como candidato a presidência, deixando a postos o "Plano B", com a chapa Fernando Haddad e Manuela D’Ávila (PCdoB) como vice, em caso de Lula ser vetado pelo TSE e pelo STF.

Pelo lado do PSDB, a união do Centrão com Alckmin lhe deu um fôlego, e prejudicou a posição de Álvaro Dias, dando ao PSDB o controle de mais de 40% do tempo de TV e rádio.

Alckmin e Ana Amélia

Ainda há que ver os resultados nacionais depois das convenções partidárias a nível nacional, e como se expressarão nas pesquisas. O que já se pode ver pelo panorama da pesquisa de São Paulo é que 1) Alckmin se recupera no bastião do PSDB, fruto das movimentações no mês de julho que sacramentaram o apoio do arquireacionário Centrão (DEM, PP, PR, PRB, SD) além do PPS, PTB e PSD, à sua candidatura; a postulação de Ana Amélia, senadora do PP ligada ao latifúndio mais obscurantista, como sua vice, também agradou o agronegócio paulista, que por ora só enxergava Bolsonaro como candidato preferido (que tem apoio da Sociedade Rural); 2) Fruto disso, diminui a brecha que separava Alckmin de Bolsonaro em São Paulo, mas ainda tem de se provar nas pesquisas, já que aparece como candidato de Temer, da mídia e dos mercados; 3) Fernando Haddad, que nas pesquisas Ibope em junho registrava apenas 3% em São Paulo, agora registra 8,3% na hipótese de ser o candidato do PT com beneplácito de Lula, impedido pelo autoritaritarismo judiciário de disputar; já em junho, segundo a mesma pesquisa Ibope encomendada pela Band, Haddad era o candidato com menor índice de rejeição em São Paulo (apenas 21%, enquanto Alckmin possuía 28%).

Se em São Paulo esse avanço de Haddad é significativo, a situação do petista é ainda mais chamativa no Nordeste. Segundo levantamento realizado entre os dias 11 e 12 de julho e divulgado pelo Diário de Pernambuco, quando Haddad aparece como pré-candidato apoiado por Lula, ele lidera a intenção de voto do eleitorado pernambucano com 16%. Marina Silva (Rede) aparece em segundo com 12%, seguida por Jair Bolsonaro (PSL) (11%), Ciro Gomes (PDT) (6%) e Geraldo Alckmin (PSDB) (2%). Leve-se em consideração que registra 65% de preferência em Pernambuco.

Lula e Haddad

Tanto Luís Nassif como o analista Fernando Rodrigues enfatizam esse aspecto importante da disputa: o peso que Lula preservou no Nordeste é proporcional ao esgotamento da tática midiático-judiciária de sacar "denúncias do mercado de delações premiadas", nas palavras de Nassif. Lula tem até 56% de intenção de voto no Nordeste (entre quem tem certeza de que vota, e aqueles que poderiam votar), e 43% no Norte do país; além disso, o judiciário teria de atirar em dois candidatos do PT, em Lula e em Haddad, e não apenas numa figura certa.

O que Nassif não diz, entretanto, é que a verve institucionalista de Lula e do PT - sempre colocando a governabilidade burguesa em primeiro lugar - é a razão real da subserviência do partido ao autoritarismo judiciário, desmoralizando a classe trabalhadora através de suas burocracias sindicais (CUT e CTB) para que não emerja como sujeito político independente nessa crise (irônico ver Breno Altman, em entrevista ao Brasil247, dizer que a "tática de desobediência civil" só não foi utilizada pelo PT porque "não há massas nas ruas", uma análise um pouco lamentável quando se constata que o próprio PT fez de tudo para passivizar e desmoralizar a população que se indigna com o golpe).

Assim, mesmo registrando 3% a menos do que na pesquisa Ibope em julho, Lula segue demonstrando ter capacidade de transferência de voto, auxiliado pelo fato de que Haddad foi ex-prefeito da capital paulista. É preciso ver até onde estes dados avançam. Alckmin também registra melhor porcentagem que em julho, embora numa proporção menor.

Ciro Gomes aparece com apenas 6% em São Paulo, um enfraquecimento que se deve a ter ficado isolado diante da dia do Centrão ao PSDB, e da decisão do Diretório Nacional do PSB pela neutralidade. Marina Silva registra 8% em SP, e 6% nacionalmente.

Ciro Gomes e Kátia Abreu

Bolsonaro, na ausência de Lula, mantém a liderança tanto nas pesquisas de intenção de voto nacionais (20%) e nos resultados em São Paulo (18,9%). Tem base firme de eleitores, é apoiado pela Sociedade Rural e não depende tanto do tempo de rádio e TV, mas terá mais dificuldade de se manter intacto sob os ataques da Rede Globo, que o colocou na mira depois da entrevista com Myriam Leitão, em que mostrou como a Globo apoiou o golpe militar de 1964. Alckmin busca desconstruí-lo para captar parte dos votos de sua base, e a figura do reacionário Hamilton Mourão como vice torna Bolsonaro um candidato ainda mais instável para os mercados financeiros.

Bolsonaro e Mourão

Governo débil e ajustador emergirá das urnas

Em maior ou menor grau qualquer governo que sair das urnas será um governo débil, que estará cruzado pelo não fechamento da crise orgânica - segundo o marxista italiano Antonio Gramsci, uma "crise de autoridade estatal", que é politica, econômica e social - por problemas de representatividade no marco da continuidade de uma situação econômica ruim, ou seja de estagnação ou de pífio crescimento sem gerar emprego e com complicações advindas do cenário internacional, que dificultam ainda mais o fechamento da crise orgânica.

Também podemos dizer que qualquer governo que sair das urnas será um governo ajustador. Isso fica claro nas promessas de realizar a reforma da previdência feitas não só por Alckmin e Bolsonaro mas também por Ciro e Haddad, e da “responsabilidade fiscal” que consta em todas diretrizes programáticas, do PT e de Ciro e até mesmo no "Manifesto Unidade para Reconstruir o Brasil", que o PSOL assina vergonhosamente com PT e PCdoB, mas também com partidos burgueses como PSB e PDT. “Responsabilidade fiscal”, em qualquer situação e ainda mais em tempos de crise, significa cortes na saúde, cortes na educação, ataque a aposentadoria – como estamos vendo agressivamente agora na CAPES – para pagar o roubo sistemático da ilegal, ilegitima e fraudulenta dívida pública, principal mecanismo de submissão ao capital estrangeiro.

A fraude eleitoral exige uma política de independência de classe e anti-imperialista

A prisão arbitrária de Lula e o impedimento de sua candidatura fazem com que essa não seja uma eleição normal, mas sim com um claro veto antidemocrático. Trata-se de uma nova etapa dentro do golpe institucional dado em 2016 contra Dilma Rousseff. Aqui estão uma vez mais todos juntos: os partidos, empresários, meios de comunicação, e multinacionais imperialistas que se beneficiaram com a Lava Jato, com o governo golpista de Temer e agora com o impedimento da candidatura de Lula. O impedimento da candidatura do político mais bem posicionado nas pesquisas de opinião está a serviço de escolher a dedo um presidente que continue o golpismo.

A Lava Jato e o resto do poder judiciário está atuando pra escolher a dedo um presidente que continue o golpismo e seja capaz de descarregar de forma redobrada a crise nas costas dos trabalhadores e do povo com mais desemprego, mais trabalho precário e mais cortes dos direitos sociais.

Para tal buscam legitimar de forma cada vez mais indiscriminada medidas autoritárias que violam os princípios democráticos mais elementares como o direito de defesa e o direito ao voto.

Por isso, apesar de que nós não apoiamos o voto nos candidatos do PT, somos incondicionalmente contra a prisão arbitrária de Lula e somos intransigentes na defesa do direito do povo votar em quem quiser.

Esta denúncia é um princípio básico para qualquer organização que se diga de esquerda; e, no entanto, é relegada a segundo plano por partidos como o PSOL, e ignoradas completamente por partidos como o PSTU (neste caso, quinta roda do golpe institucional e da Lava Jato).

A defesa do direito do povo votar em quem quiser permite desenvolver uma política alternativa à tragédia da conciliação de classes do PT. Num país em que 4 mulheres morrem a cada dia por abortos clandestinos, a luta pela legalização do aborto no Brasil - que trouxe a maré verde da Argentina a distintas cidades do Brasil neste 8 de agosto - revela que milhares de mulheres morreram durante os 13 anos de governos do PT em função de abortos clandestinos. Essas mortes, que seguem no regime golpista, ocorreram nos governos do PT em troca dos acordos com o Vaticano e com os políticos da direita mais conservadora, como Marco Feliciano. Trata-se de uma grande batalha no Brasil para que o aborto seja legal, seguro e gratuito.

O não pagamento da dívida pública é também um tema programático fundamental. Desde o PT, ao PSB, passando pelo PCdoB e o PDT e as centrais sindicais que esses partidos dirigem (CUT, CTB), defendem o pagamento da dívida pública em suas promessas de governo. Até mesmo o PSOL em seus acordos parlamentares assinou manifestos que assumem esse compromisso. Mas na medida em que o próximo governo siga ajustando os trabalhadores e privatizando o país para pagar essa dívida sem fim, cada vez mais os trabalhadores e a juventude estarão abertos a levantar essa que é a única bandeira que pode fazer com que sejam os capitalistas que paguem pela crise, e atacar o principal elo de submissão do país ao imperialismo.

Trata-se de algumas das principais batalhas políticas de um perfil de independência de classe e anti-imperialista, que defenderemos na candidaturas do MRT nestas eleições (como discorremos neste artigo sobre as candidaturas de SP). Faça parte junto do MRT e do Esquerda Diário nessa campanha!

 
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