www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
LUTA PELOS DIREITOS DEMOCRÁTICOS
Respondamos Crivella mobilizando pelo direito ao aborto e a separação da Igreja do Estado
Fernando Pardal
Simone Ishibashi
Rio de Janeiro

O novo escândalo de Crivella é sua promessa de facilitar cirurgias pelo município para fiéis, enquanto a população amarga em intermináveis filas, além de outros benefícios. A Globo segue no seu cinismo anti-Crivella pela sua competição com a Record e a Igreja Universal. Crivella responde reafirmando conservadorismo contra o direito ao aborto e em defesa da família. O PSOL Carioca novamente responde com um impeachment para os políticos corruptos analisarem, medida igual a dos partidos burgueses, para fazer campanha eleitoral. Nossa resposta à Crivella deve ser com uma enorme mobilização nas ruas pelo direito ao aborto, seguindo o exemplo das argentinas, e pelo Estado Laico.

Ver online

Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

Repercute ainda em toda parte o escandaloso encontro de Crivella com mais de 250 líderes religiosos, durante o qual o prefeito do PRB, que também é bispo na Igreja de seu tio, a Universal de Edir Macedo, prometeu facilitar cirurgias para fiéis, utilizando a prefeitura para beneficiar aqueles que são ligados à sua instituição. Por trás da fachada religiosa, a Universal é um verdadeiro império empresarial, sendo proprietária de nada menos do que a segunda maior emissora de televisão do país, a Rede Record, além de um patrimônio bilionário com templos mundo afora. Uma verdadeira “multinacional da fé”, que além de lucrar milhões com a crença de seus fiéis utiliza seu poder para pregar a opressão a LGBTs e mulheres. Não é a primeira vez que a prefeitura do Rio é utilizada a serviço da Universal.

O Ministério Público agora diz que abrirá investigação contra Crivella por contrariar o princípio do Estado laico, mas a ideia de um Estado laico no Brasil é pura ficção, e basta ver que todas as igrejas – muitas delas empresas multimilionárias como a Universal de Crivella e Macedo – desfrutam de isenções de impostos, deixando de arrecadar milhões que deveriam ir para os direitos sociais. É um absurdo que em pleno século XXI voltemos à batalha pelo mínimo que é um Estado Laico, onde a religião e uma Igreja não determine a política do Estado e seja beneficiada por ela.

Durante os anos dos governos petistas esse cenário se agravou por diversas medidas, como o acordo Brasil-Vaticano feito por Dilma que, entre outras medidas, colocava em xeque a educação sexual nas escolas; os acordos feitos com partidos como PRB ou PSC, como o que colocou Marco Feliciano e seu absurdo projeto de “Cura gay” na cabeça da comissão de direitos humanos da Câmara; a recusa em avançar um milímetro na legalização do aborto, entre tantos outros efeitos. Não muda em nada isso o fato do PT do RJ agora apresentar a feminista Márcia Tiburi como pré-candidata ao governo do RJ. O PT do RJ é uma ala das mais degeneradas do PT nacionalmente, sendo agente da luta contra o direito das mulheres, dos LGBTs e de acordos permanentes com a bancada evangélica.

Tentando justificar o injustificável, em entrevista ao SBT Crivella diz se tratar de uma perseguição da Globo porque essa seria “contra os evangélicos”, “contra a família”, “defendendo o aborto e o incesto”, etc. Um punhado de confusão e reacionarismo para tentar esconder que Crivella usa o Estado em benefício próprio. Crivella alimenta a ideia bizarra de que a Rede Globo seria uma defensora da legalização do aborto e “contra a família”, quando esta sempre foi promotora da direita reacionária no país e recentemente do golpe institucional, que alimentou o conservadorismo na sociedade. Trata-se de uma disputa entre dois impérios midiáticos patronais, que estão ambos contra nossos interesses. Crivella tenta transformar o debate do Estado Laico e do direito das mulheres numa disputa entre a Globo e a Record e a Igreja Evangélica. O fato é que nessa disputa não temos nenhum aliado das verdadeiras lutas que devemos levar adiante.

O PSOL carioca responde a crise com sua eterna receita de impeachment

O PSOL com seu peso superestrutural na política carioca não responde essa crise com um combate consequente pela separação da Igreja do Estado e pelo direito ao aborto, o que só pode se dar em base à mobilização. Se limita a entrar com um pedido de impeachment de Crivella, uma medida que canaliza o enfrentamento a este problema crucial para o covil de ladrões da câmara municipal, e não coloca em primeiro plano o chamado às mulheres e ao povo carioca a dar uma resposta a esse absurdo nas ruas. Trata-se de uma resposta para fazer campanha eleitoral, que alimenta a ilusão neste regime democrático burguês carcomido, liderado por machistas e conservadores, ao invés de colocar no centro a luta pelos direitos democráticos com a força da mobilização.

É uma política tão adaptada ao regime democrático burguês, que não somente serve à política “anti-Crivella” da Globo, como é a mesma dos partidos burgueses, que frente ao desgaste de Crivella, também estão em campanha eleitoral, como se mostra no pedido de impeachment de um vereador do MDB. E, na reunião entre nove vereadores para antecipar a volta do recesso, o que agora ocorrerá, e votar a abertura do impeachment, o PSOL contou com aliados como Teresa Berger (PSDB) e Leandro Lyra (NOVO).

Por que o PSOL não está se apoiando na enorme maré verde das mulheres argentinas pra convocar junto aos movimentos de mulheres e movimentos sociais uma mobilização unificada pela legalização do aborto? Porque não quer se enfrentar com a base evangélica que pode colocar em risco seus interesses eleitorais, e porque, apesar de em palavras falar que defende a legalização do aborto, está rebaixando a luta das mulheres a uma luta para descriminalizar o aborto sem garantir que seja um direito. Por isso, ao invés de defender que sigamos o exemplo dar argentinas e com a força das ruas possamos varrer Crivellas e as igrejas, conquistando o direito ao aborto legal, seguro e gratuito pelo SUS, colocam o centro em reivindicar que seja o STF a votar uma “descriminalização”, que deixaria de prender mulheres que fazem aborto, mas não garantiria condições para que as mulheres trabalhadoras, pobres e negras – a maioria das mortas por abortos clandestinos – tivessem condições de abortar caso decidissem.

A mobilização nas ruas, dos trabalhadores e da juventude, com as mulheres e LGBTs na linha de frente e que lute por todos os direitos democráticos que esses setores evangélicos procuram vetar é a única forma consequente de enfrentar Crivella e seus aliados. As manifestações que derrubaram mais de uma vez a “Cura gay”, que se colocaram contra Eduardo Cunha, que marcaram a “primavera feminista” são algumas demonstrações disso.

Talvez alguém se pergunte: “mas o que isso tem a ver com as cirurgias de cataratas e outros privilégios que Crivella oferece às igrejas?”. Tudo. Pois esses mesmos que utilizam o Estado para se isentar de impostos, ter privilégios materiais e garantir seu “plano de poder” são os que utilizam o Estado para promover ainda maior opressão contra os LGBT, incentivam a violência contra mulheres, LGBT e praticantes de religiões de matriz africana, lutam contra direitos elementares como o casamento igualitário, a legalização do aborto e das drogas. É escandaloso que numa entrevista à televisão Crivella utilize como argumento de sua defesa a acusação de “defensores do aborto” aos que o denunciam, um verdadeiro escárnio contra milhares de mulheres mortas todos os anos por abortos clandestinos.

O PSOL canaliza a luta pelo Estado Laico e os direitos democráticos para fins eleitorais e por meios parlamentares e jurídicos do mesmo Estado que garante a continuidade dessas opressões, tão funcionais ao capitalismo, e ignora que a força avassaladora que pode garantir a efetiva separação entre Igrejas e Estado e os direitos democráticos é a da classe trabalhadora, essa que é composta majoritariamente por mulheres, que conta com batalhões de LGBTs nos piores postos de trabalho; pelos negros que tem suas religiões desrespeitadas, seus terreiros destruídos. E que são os mesmos que passam meses em filas para cirurgias e não tem transporte decente enquanto os “amigos de Crivella” conseguem privilégios em nome de defender seus valores e sua instituição religiosa. O PSOL insiste em tratar a questão das mulheres, negros e LGBT com um fim que seja de ocupar cargos dentro do regime democrático burguês, de via parlamento ou do STF conseguir melhorias mínimas, e não de qualquer tipo de enfrentamento com o Estado em base à luta de classes.

É necessário uma enorme mobilização nas ruas pelo direito ao aborto e a separação da Igreja do Estado

A luta pelo direito ao aborto na Argentina está mais forte que nunca, com uma votação definitiva no Senado no dia 8/8, que é um marco para avançarmos nessa luta em toda a América do Sul. Precisamos fazer ecoar no Brasil a força dessa luta para avançar nos nossos direitos, na luta contra o conservadorismo e com as mulheres na linha de frente da luta contra os ataques dos golpistas, de maneira independente do PT.

É necessário que o PSOL coloque seu peso superestrutural a serviço da mobilização nas ruas pelo direito ao aborto e a separação da Igreja do Estado, convocando todas as organizações feministas, e mobilizando em primeiro lugar os sindicatos e entidades nos quais está presente.

A luta por esses direitos democráticos, pela efetiva separação entre Igreja e Estado, pela liberdade religiosa e a fé como assunto privado e não do Estado, tendo como motor as mulheres e LGBTs que compõem a classe trabalhadora é a única forma de responder aos absurdos de Crivella, e sem favorecer grupos capitalistas como a Globo que, por interesses privados próprios querem derrubar a Universal e também seguir lucrando com a nossa exploração e opressão cotidiana.

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui