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FRENTE A CRISE NO PAÍS
As patronais querem governabilidade, os defensores do PT também: precisamos de uma terceira força
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi
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Apresentamos a seguir 5 idéias sobre a conjuntura política do país, quais interesses estão em jogo de parte das grandes patronais, da direção burocrática dos sindicatos e movimentos sociais que apóiam o PT, e qual política realmente interessa aos trabalhadores em meio a convocatória de dois atos na próxima semana, um ligado a oposição burguesa de direita e outro em apoio ao governo.

1. Grandes patronais declaram: unidade pelos ajustes nem que seja salvando Dilma

Na véspera do programa de TV do PT , o vice-presidente Temer fez uma declaração pública defendendo a governabilidade e chamando a responsabilidade dos atores políticos e econômicos. Sua declaração foi prontamente apoiada pelas duas maiores federações patronais do país, a FIESP e sua irmã-menor carioca, a FIRJAN. Estas federações emitiriam comunicado conjunto e matéria paga em todos grandes jornais do país, declarando-se a favor da posição de Temer, e que os tempos exigiam atenção para não perder o “grau de investimento” e união para que governantes e representantes governassem em prol do país (o seus lucros no caso).

No dia seguinte O Globo, o mesmo jornal que vocifera diariamente contra o governo Dilma, argumentou em um editorial que todos “políticos responsáveis de todos os partidos” deveriam “ dar condições de governabilidade ao Planalto”, e no mesmo editorial atacou duramente Cunha e parte da oposição burguesa por votações “populistas” que atacam os ajustes.

No dia seguinte, o presidente do Bradesco, Trabuco, declarava em longa entrevista ao mesmo jornal que havia crise econômica e crise política, que a primeira era mais fácil de lidar e que a segunda era um “gasto de energia” por ideologia. Ecoando, ao seu modo, um aspecto central do programa de TV do PT.
Estas declarações e editoriais buscaram centralizar os agentes políticos da burguesia . Uma centralização pró-ajustes, contra os salários, empregos e direitos. O mesmo Globo uma semana antes havia feito um editorial defendendomexer na constituição para diminuir os direitos sociais e seus gastos “excessivos” Com este objetivo em mente, o Globo e estas patronais querem, antes de mais nada, mais ajuste. Depois disso que começam outros objetivos, como impeachment ou seguir o “sangramento” do PT, de Dilma e Lula até as eleições de 2016 e 2018.

A entrevista de Aécio a Veja mostra uma moderação no discurso até mesmo deste tucano que era o maior interessado no impeachment (diferente dele Serra e Alckmin preferiam o “sangramento” para se preparar melhor para serem candidatos em 2018).

2. O centralizável e o incentralizável na política nacional

Estas declarações de diversos setores patronais não significa que estão desinteressados em atacar o PT e enfraquecê-lo. Ou até mesmo em outro momento partir para o impeachment. Somente que não querem fazer isto às custas do ajuste ou de desestabilizar o país.

As declarações posteriores a estes editoriais parecem indicar uma centralização dos diversos agentes. Porém, há mais coisa na política nacional do que os posicionamento da burguesia pela estabilidade. Há atores “incentralizáveis” com objetivos próprios que afetam a governabilidade e os diversos políticos partidos. Janot, Procurador-Geral da República que deve apresentar brevemente a lista de políticos envolvidos na Lava-Jato, possivelmente envolvendo Cunha, e também o juiz Mouro, não seguem uma agenda de governabilidade mas interesses próprios, sua promoções pessoais e interesses não declarados. Suas agendas, as delações premiadas, e julgamentos de políticos podem colocar novos fatores de instabilidade na política nacional, e acrescentam maior imprevisibilidade.

3. Os tempos das ruas: 16 e 20 de agosto

Além dos tempos “judiciários”, que se descolam dos interesses burgueses concentrados tais como expressos pela FIESP, o Globo e Bradesco, há tempo outro imponderável na política nacional: que tamanho e que política prevalecerão nos atos convocados para os dias 16 e 20 deste mês.

No domingo, 16, há grande expectativa para as manifestações convocadas, inclusive com propaganda paga pelo PSDB, para que multidões tomem as ruas contra o governo Dilma. Terão estas manifestações o tamanho de manifestações de março e abril? Serão elas um fator para que o TCU rejeite as contas de Dilma e abra espaço a um possível julgamento de impeachment?

Quatro dias depois são esperadas manifestações “em defesa da democracia”, ou seja em defesa do governo Dilma. As manifestações deste dia são convocadas pelo MST, MTST, CUT, CTB e pelas direção nacional do PSOL. A convocatória unitária desta manifestação mistura críticas ao ajustes e ao governo com esta “defesa da democracia”, porém, os setores governistas da mesma deixam claríssimo em suas declarações próprias do que se trata: defender Dilma primeiro, depois a crítica aos ajustes. Se quisermos no dia 20 fazem o avesso do Globo, FIESP, Bradesco, “primeiro defendemos Dilma depois fazemos a crítica aos ajustes”, enquanto a burguesia diz “primeiros ajustes, depois ajustamos contas com Dilma e o PT”.

4. Tentativas petistas de conter sua crise

Desde que se acelerou a crise do PT e do governo tem abundado tentativas do petismo em tentar conter as rupturas e críticas ao governo e partido. Primeiro Lula tentou criar uma frente “Grupo Brasil”, que conseguiu conter rupturas, porém não foi suficiente para atrair apoios declarados de alas do PSOL ou até mesmo do MTST.

Agora, às vésperas dos dias 16 e 20, o PT tem conseguido que tanto o MTST quanto o MST sejam articuladores da manifestação “contra o golpe”. Para facilitar a vida de seus aliados de longa data como o MST ou aliados “intermitentes” como é o caso do MTST, o governo Dilma liberou verbas a reforma agrária e ao “minha casa, minha vida 3”, que coloca sob administração dos movimentos sociais parte das verbas de construção de moradias.

Além de intermináveis vozes na “blogosfera” para apoiar Dilma contra a direita um novo discurso se somou nos últimos dias. O importante petista histórico Frei Betto, destacou em artigo seu “temor” a que Dilma renuncie. Ou seja, busca articular um “força Dilma”, ou, ao menos um “maneiremos nas críticas porque pode ser que caia”.

Com diversos discursos, de Lula a Frei Betto, passando por MST e até MTST formou-se uma grande frente, que faz maiores ou menores críticas aos ajustes, mas que brada em uníssono a defesa do governo, contra a direita, mesmo quando o Bradesco e a FIESP já se demarcaram a favor da “unidade nacional”.

5. Os trabalhadores precisam formar uma terceira força na política nacional

Em meio aos ataques de Dilma aos direitos dos trabalhadores, a crescente insastifação com o desemprego, inflação e corrupção, os trabalhadores não tem nada a ganhar defendendo este governo. Muito menos quando este governo é “defendido” pelo Globo, FIESP e Bradesco justamente para aprofundar os ajustes e até mesmo avançar contra a Constituição para atacar mais profundamente os direitos dos trabalhadores e da população. Por isto os atos do 20, com maiores ou menores críticas ao governo de acordo com as cidades e alas do mesmo, confluíram em um objetivo que não pode ser o dos trabalhadores, defender Dilma e não, antes de mais nada, nossos empregos e direitos.

Muito menos temos algo a ganhar na manipulação que a direita faz do descontentamento. Com demagogia, Aécio, Cunha e vários novos e velhos direitistas chamam a população às ruas no dia 16. Com sua manifestação só teremos mais ataques aos trabalhadores e o povo.

Por isto faz falta uma terceira força na política nacional. Esta posição foi aprovada pela CSP-Conlutas mas nada se fez até o momento para sua implementação. O PSOL também se diz favorável a mesmo política, porém, contraditoriamente, a este posicionamento apóia pela via de duas de suas maiores correntes a US e MES, as manifestações do dia 20. O Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP) aprovou um chamado a constituir um terceiro ato nem com a direita nem com o governo. Este caminho é urgente para que nesta polarização e politização não deixemos os trabalhadores serem ludibriados a defender a direita ou um governo ajustador.

 
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