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TODO APOIO AOS PETROLEIROS
Por que lutamos pela administração dos Petroleiros de uma Petrobras 100% estatal?
Virgínia Guitzel
Travesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Muitos trabalhadores e jovens assistiram ao movimento dos caminhoneiros com desconfiança, e ao longo dos dias foi se tornando mais claro seu curso reacionário. Mas a indignação dos rumos que tem levado o país dirigido por um presidente golpista, pra muitos fez parecer que esta luta poderia fortalecer essa revolta ou poderia nos dar um atalho já que "tudo já estava parado". Nada mais inocente do que acreditar que se pode pegar carona nos caminhões dirigidos pelas grandes transportadoras apoiadas pelo agronegócio, Bolsonaro e setores da direita. Assim se avançou os lucros patronais contra os direitos sociais que teremos de pagar a partir das negociações entre governo e empresários. 

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O primeiro combate, e decisivo para se ter uma posição correta com base a independência politica da classe trabalhadora e seus interesses, era se separar frontalmente deste movimento e esclarecer os trabalhadores que se impactaram com a força da paralisação dos caminhoneiros, de como essa força se contrastava com suas reivindicações que chegaram a incluir o pedido a intervenção militar. Mas essa luta, como explicamos aqui, não se dá por fora do cenário eleitoral de 2018 e seus desdobramentos não são puramente econômicos, mas também político. A direita se fortaleceu, com Bolsonaro crescendo nas pesquisas eleitorais, por responsabilidade da CUT e do PT que impediram que a classe trabalhadora entrasse em cena contra a política patronal.

Hoje se inicia a greve de Petroleiros de 72 horas aprovada desde o dia 11 de Maio, e postergada pela pela FUP-CUT. A greve já é considerada ilegal e o Tribunal Superior do Trabalho impôs uma multa de R$ 500 mil para cada dia de paralisação. Isso porque o potencial desta greve está já nas suas reivindicações que colocam interesses gerais da classe trabalhadora como a redução dos preços do gás de cozinha e da gasolina, contra a privatização e a manutenção dos postos de trabalho. Nos solidarizamos e desde o Esquerda Diário colocamos nossa pequena força a serviço da vitória desta luta

Mas na nossa opinião, a única forma de conquistar estes objetivos é se enfrentando com a herança deixada pelo PT de submissão ao imperialismo, com a entrega de nossos recursos naturais e o pagamento religioso da Bolsa banqueiros e dos donos da dívida pública. Por isso, achamos que os Petroleiros podem mostrar o caminho, colocando um movimento completamente oposto ao dos caminhoneiros, que represente os interesses gerais da classe trabalhadora contra os capitalistas. O que para nós significa a luta pela estatização total da Petrobrás com administração dos próprios petroleiros e com controle popular. Porque está é a única saída?

Quando falamos de estatização, muitos trabalhadores olham para as escolas públicas, para a saúde pública e para os demais orgãos públicos e pensam em corrupção, desvios e pouco investimento. A primeira impressão é que estatizar, colocando na mãos dos governos que estão questionados até a medula, seria precarizar ainda mais qualquer ramo que se pensar. Todavia, como apontamos aqui, o papel do PT em reduzir os investimentos aumentando a precarização dos serviços públicos, em troca de pagar initerruptamente os banqueiros com a dívida pública, criou-se essa ideia de que as coisas estatais são piores do que as de iniciativa privada. Deste ponto de vista, tirar da mão dos empresários e passar para mão dos governadores ou prefeituras realmente não muda o problema: os serviços públicos não estão organizados para atender a necessidade da maioria da população.

Por isso é muito importante entender porque lutamos pela administração dos petroleiros e controle popular. Primeiramente, porque quando dizemos "controle operário" queremos dizer que tudo que é produzido e economicamente atende as necessidades da população não pode seguir atendendo a ganância dos lucros, e sim deve ser colocado, pensado e organizado a serviço dos interesses da maioria da população. Agora neste momento, se os trabalhadores assumissem a administração da Petrobrás poderia se reduzir o preço do gás de cozinha, da gasolina e de outros combustíveis que são necessários a classe trabalhadora. Essa primeira medida poderia gerar um avanço enorme na consciência das massas, de que se é possível organizar não apenas este ramo, mas todos os ramos de produção e da economia sem patrões ou gestores técnicos que estão a serviço da exploração.

Mas vai muito além disso. Toda a ofensiva do golpe institucional que teve inicio em 2016 através da Lava Jato e de uma unidade burguesa para implementar o golpe na busca de acelerar os ataques que o PT já vinha fazendo, teve um novo episodio com a prisão arbitrária de Lula, mas além dos seus efeitos políticos, resultou num histórico ataque da Reforma Trabalhista e em passos mais firmes na privatização da Petrobrás, que significa a entrega de nossos recursos naturais e na maior descoberta de Pré-Sal dos últimos 20 anos ao imperialismo norte-americano. Para contrapor esta espoliação imperialista de nosso país, é preciso defender a Petrobrás e se enfrentar com o pagamento da divida pública que foi religiosamente paga como Bolsa aos banqueiros por todo os governos desde o fim da ditadura militar.

A greve de Petroleiros já aprovada em diversos locais, tardou devida postura da Federação Única dos Petroleiros, dirigida pelo PT, que não quis apresentar uma alternativa para que a direita não capitalizasse a indignação popular e propôs junto as demais centrais sindicais ao papel de ridículo de "moderar" as negociações entre dois interesses burgueses. É uma grande oportunidade, frente a crise dos combustíveis, de fazer os trabalhadores entrarem em cena com um programa independente dos interesses patronais que controlam a luta dos caminhoneiros, deixando-os refens de uma política que só beneficia os patrões. Lutar pela estatização da Petrobras sob administração dos petroleiros e controle popular, significa reorganizar a Petrobras para atender aos interesses da classe trabalhadora, e assim poderia garantir a completa transparência de todos os contratos, dos planos de produção e desenvolvimento e utilizar as vastas riquezas do petróleo para os interesses de todo o povo e não para enriquecer parasitas estrangeiros ou corruptos nacionais.

Algum trabalhador pode se perguntar: "mas dessa forma, não poderia então surgir novos burocratas que colocassem seus interesses acima da maioria da população"?

Eis que se precisa compreender o que queremos dizer com "administração dos petroleiros e controle popular". A organização da Petrobrás não estaria a cargo somente destes trabalhadores que teriam poder absoluto e seriam inquestionávéis como são os patrões ou os governantes, mas suas decisões estariam submetidas a conselhos de trabalhadores e populares, onde cada representante eleito para estar neste conselho seria revogável a medida que descumprisse com os interesses do povo. Seria proibida a presença de patrões, empresários e partidos da ordem. Isto é, seria estabelecer uma forma totalmente diferente de gestão que partiria da auto-organização da classe trabalhadora. 

Mas isso poderia acontecer sem uma ofensiva da direita em atacar os trabalhadores organizados? Por certo, não. Mas uma vez conquistada a estatização da Petrobras e seu controle operário pela luta de classes, a situação da classe trabalhadora e sua consciência também permitira alterar a correlação de forças, e este primeiro passo num enfrentamento ao imperialismo sob o Brasil, poderia dar impulso ao questionamento da sociedade de classes e dos interesses antagônicos que ela gera. A luta pela estatização da Petrobrás permite que os trabalhadores hoje conscientes de sua condição de escravos assalariados de se revoltar com um programa que contraponha os interesses patronais que hegemonizam hoje a luta dos caminhoneiros, e desta forma de maneira pedagógica abrir debates nos locais de trabalho e de estudo sobre as tarefas que a classe trabalhadora tem hoje para enfrentar o projeto de país golpista que se avizinha nas eleições deste ano.

Lutar em defesa da Petrobrás é o primeiro passo para abrir espaço para uma alternativa de independência de classe no país, onde os trabalhadores possam se colocar como sujeitos ativos para determinar os rumos do país.

Para enfrentar a direita, é preciso que os Petroleiros mostrem o caminho com um programa de independência de classe

Neste momento, mais do que nunca fica claro que são eles, ou nós. Não existe maior contradição do que o que pede o mercado financeiro e o que pedem as massas trabalhadoras. É um choque entre as aspirações e anseios da maioria da população com o capitalismo degradado que vê em cada avanço significativo, como a possibilidade de envelhecer e aumentar a expectativa de vida, um custo das vidas em detrimento dos lucros patronais. 

Por isso, acreditamos que a classe trabalhadora é o sujeito histórico capaz de por um fim nesta situação e abrir espaço para o livre desenvolvimento humano. Para isso, precisamos construir em cada local de trabalho uma organização capaz de desenvolver frações anticapitalistas que se coloquem em choque com os interesses patronais e apresente um programa de independência de classe.

Infelizmente, a maioria dos grupos de esquerda se colocam cegamente em apoio a "greve" dos caminhoneiros, alguns mais envergonhados como o PSOL e outros mais entusiastas como o PSTU. Que terrível redução de tarefas, de possibilidades e perspectivas! Os mais "radicais" diziam que se devia disputar o movimento, que as pautas patronais que o dirigem e o apoio de Bolsonaro e MBL se tratam apenas de "contradições" de um movimento "real" que não é "imaginado". Quanta baboseira e generalidades que não contribuem a lugar algum. Há também os que acham que se pode pegar um atalho na luta dos caminhoneiros e com um panfleto escrito em letras pequenas "estatização da Petrobras" tudo estaria resolvido. Todavia nenhum destes setores, enxergam a profunda crise orgânica que vive o país e a ação imperialista por trás do golpe institucional e seus desdobramentos, que hoje anunciam claramente a privatização da Petrobrás. O apoio a uma luta patronal extingue a possibilidade da classe trabalhadora erguer suas forças em base a um programa de independência de classe, que se enfrente com os capitalistas e imponha que estes paguem pela crise que ele mesmo geraram. 

Esta mesma busca por atalhos, outrora, marcou definitivamente a esquerda que apoiou o golpe e se inclinou até a participar das marchas de verde e amarelo para "disputar sem sectarismo" a pauta da corrupção. Concluem estes que toda luta e toda radicalização "é de esquerda". Não há situação mais trágica do que ver pequenos grupos de esquerda buscando submeter setores de vanguarda da classe trabalhadora a uma política burguesa. Chegaram no seu extremo da adaptação, deixando as centrais sindicais sem sua responsabilidade de se colocar no terreno da luta de classes para impedir que a indignação popular seja canalizada pela direita. Mas parecem que seguirão sem colocar suas energias para que a greve dos Petroleiros apontem o caminho e se construa no país uma alternativa de independência da classe trabalhadora.

Chamamos a todos os trabalhadores e jovens que concordam com esta perspectiva a construir conosco em cada universidade, escola e local de trabalho esta campanha de solidariedade aos Petroleiros em greve e pela Estatização da Petrobrás sob administração dos petroleiros e controle popular.

 
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