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ELEIÇÕES VENEZUELANAS
Enfrentar o imperialismo na Venezuela não pode significar apoiar o bonapartismo de Maduro
Lara Zaramella
Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

As eleições presidenciais venezuelanas aconteceram neste domingo, 20, conforme proposto pela fraudulenta Assembleia Nacional Constituinte. A direita pede a anulação, por seus interesses imperialistas selvagens no país do petróleo. Apoiar então a reeleição de Maduro pode significar uma luta contra o imperialismo?

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Neste domingo, 20, ocorreram as eleições presidenciais antecipadas na Venezuela, em que saiu eleito o já presidente Maduro, do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela). Além da campanha eleitoral feita às pressas, por manobras do governo, a participação eleitoral foi a mais baixa nas últimas décadas, reiterando a forte crise política que o país atravessa já há algum tempo. Além disso, as eleições foram marcadas por diversas denúncias de irregularidades por parte do governo, como dito nesta matéria: Venezuela: baixa participação eleitoral e denúncias de irregularidades.

Por pressão da débil oposição de direita, e mais ainda, de potências imperialistas e governos de direita do restante da América Latina – como o próprio Brasil, como dito aqui: Governo golpista brasileiro não reconhece resultado das eleições venezuelanas – se levantou uma política para que se adiassem as eleições, e após o resultado da mesma, as anulassem.

Inclusive, já nesta segunda-feira, 21, o governo de Trump declarou sanções à Venezuela, impedindo que cidadãos dos Estados Unidos se envolvam em negociações de títulos da dívida da Venezuela e de outros ativos, atacando em especial os ativos petroleiros. Esse conjunto de medidas anunciadas, de caráter econômico e/ou diplomático – já que houve a retirada de embaixadores por não reconhecer as eleições – é parte de uma política imperialista, apoiada pela submissão dos governos direitistas na América Latina. Na verdade, pouco lhes importam os direitos e liberdades dos trabalhadores venezuelanos, que são os que de fato sofrem a crise e a situação crítica na Venezuela.

Pois o fato é que o país atravessa uma crise política, social e econômica muito profunda, em que um salário mínimo não dura nem mesmo uma semana, o nível emigratório nunca esteve tão alto, as políticas de repressão se aprofundam e a população trabalhadora vive em péssimas condições, não se sentindo sujeito de transformação alguma. Em meio a essa situação, não é de se espantar que o índice de abstenção tenha sido considerável, com uma participação eleitoral de 46,02% e com uma população de mais de 20,5 milhões de pessoas aptas para votar, em que não se via uma participação tão baixa na Venezuela desde 1959.

Claramente é notável o grau profundo de crise que vive a Venezuela. As políticas da oposição de direita, MUD (Mesa da Unidade Democrática), não apresentam mudanças e alternativas reais. Sua intenção é bem clara, entregar o país direta e ofensivamente ao imperialismo, abrindo as portas para a intervenção dos países potência.

Mas se colocar contra essas políticas da MUD, financiadas e apoiadas por governos de direita, inclusive ilegítimos, como o de Temer aqui no Brasil, e pelas grandes potências imperialistas, não significa ter que apoiar o governo de Maduro, que representa um aprofundamento da crise no país, que demonstra como suas políticas não estão ao lado da maioria trabalhadora, já que não rompe com as irregularidades e segue sendo, como assim o foi Chávez, o pilar de um envelhecido nacionalismo burguês que reserva à Venezuela o papel de fornecedora primária de petróleo para o mundo, de acordo com a divisão internacional do trabalho, ditada e estabelecida pelo imperialismo.

Ainda que não diretamente como é com a oposição de direita, o governo de Maduro não expressa – e nunca expressou – um impedimento às políticas imperialistas. Inclusive, no governo anterior, de Chávez, ainda que houvesse mais apoio popular, menos crise econômica e maior estabilidade, haviam acordos entre Venezuela e Estados Unidos, abrindo o país venezuelano para empresas e ativos, em especial do PDVSA, do petróleo. A crise que ocorre é a crise de um capitalismo dependente, em que nenhum dos governos, nem de Chávez, muito menos o de Maduro, romperam na economia nacional com as imposições imperialistas, agravando a dependência da renda e da garantia do pagamento da dívida pública, permitindo a fuga de capitais pelo negócio petroleiro.

Hoje, não só com a crise venezuelana aguda, mas também pelas políticas de Trump, que demonstram uma maior ofensiva imperialista – como inclusive podemos sentir na pele aqui no Brasil, com o golpe institucional e o papel do Judiciário guiado por agentes, como o Sérgio Moro, formados nos EUA –, é notável como o interesse pela Venezuela e seu petróleo são mais gritantes para a grande potência mundial, os Estados Unidos.

Como se colocar contra o imperialismo sem defender o governo atual, que perpetua a situação de crise, que se mostra cada vez mais reacionário, repressor, se apoiando nas Forças Armadas para manter um mínimo de ordem e legitimidade?

A questão é justamente essa, um governo que se mantém por apoio das Forças Armadas e não de sua maioria, a população trabalhadora, que atravessa uma crise econômica que não apresenta saídas a curto prazo, muito menos sem afetar os interesses de uma burocracia nacional, tudo isso desenha um panorama complexo de resolver os problemas e as intervenções imperialistas através de eleições e da manutenção do governo de Maduro.

Em meio a essa crise catastrófica, sob uma bandeira de um falso “socialismo do século XX”, contando com empresários e transnacionais associados, não podemos esperar mudanças e enxergar como entrave ao imperialismo um governo que atua sobre a base do velho capitalismo dependente e rentista do petróleo. Devemos claramente rechaçar toda a política imperialista, que é seguida pelos governos de direita dos países latino-americanos submissos aos Estados Unidos. Mas mais que isso, precisamos de uma real alternativa dos trabalhadores, que seja independente, que não pague pela dívida pública externa, como fez os governos de Chávez e Maduro que perpetuaram a submissão ao imperialismo, e sim que coloque em primeiro lugar as necessidades e demandas da maioria da população.

Assim, é necessário que os trabalhadores se organizem de forma independente, porque somente assim se terá uma força social que possa vislumbrar saídas reais aos problemas da Venezuela. É o que a organização-irmã do MRT do Brasil, a LTS (Liga de Trabalhadores pelo Socialismo, traduzido do espanhol) faz na Venezuela, impulsionando que os trabalhadores se unam em defesa de seus direitos, que hoje estão comprometidos pela crise, e, com independência total do governo e dos partidos das patronais, constituam essa forte organização independente. É necessário fortalecer essa perspectiva de mobilização dos trabalhadores, das mulheres, da juventude, com um programa que leve de fato a uma saída independente à catastrófica situação atual, livre de todo tipo de intervenção imperialista.

 
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