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PROGRAMA E ESTRATÉGIA
Por que as massas não saíram às ruas contra a prisão de Lula?
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

A explicação está nos 13 anos em que o PT administrou o sistema capitalista brasileiro.

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Lula se entregou por volta do meio dia de sábado, na vigília em frente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, dizendo em sua fala que “cumpriria o mandado de Moro”. Sua prisão arbitrária, que rechaçamos, é continuidade do golpe institucional de 2016. Nesta semana o STF mostrou que foi uma peça fundamental deste golpe que teve na Operação Lava-Jato seu principal expoente com a ajuda, claro, de setores do imperialismo norte-americano.

Em sua fala no caminhão de som, enfatizando em primeiro lugar a lista dos candidatos eleitorais do PT, PCdoB e PSOL ao invés do combate ao autoritarismo estatal, Lula deu detalhes sobre seu papel traidor durante o ascenso operário de 1979-1980. Em todos os momentos políticos decisivos das décadas de 1980 a 1990, o PT rememorou sua estratégia de conciliação e subordinação da luta de classes dos trabalhadores. Sendo um pilar do regime da “Nova República” instalado em 1988 e uma das principais válvulas de contenção da luta de classes para que os capitalistas lucrassem “como nunca” na década de 2000, o PT deixa claro novamente que sua defesa é a de governabilidade burguesa, não a batalha contra os ataques golpistas nessa democracia degradada.

Agora, frente a sua prisão e sua entrega à Polícia Federal, depois de um ato “vermelho” que reuniu alguns poucos milhares e que tinha como objetivo mascarar uma estratégia impotente fica uma pergunta: por que as massas não se levantaram contra a prisão de Lula? A explicação está nos 13 anos em que o PT administrou o sistema capitalista brasileiro.

O PT construiu a desmoralização das massas nos 13 anos de governo em que assumiram como próprios os métodos de corrupção inerentes a todo governo capitalista.

Construíram a desmoralização porque aplicaram eles próprios o começo de um plano de ajustes contra os trabalhadores, após o momento de crescimento econômico que lhes permitiu dar algumas concessões às massas enquanto garantiam lucros inéditos a setores capitalistas nacionais e estrangeiros. Construíram a desmoralização das massas porque quando alas da burguesia começaram a colocar de pé a articulação de um golpe institucional o PT pela via de suas centrais sindicais impediu o desenvolvimento da luta independente dos trabalhadores pra barrar o golpe.

Em junho de 2013 houve um levantamento de massas onde o PT também era alvo da revolta popular que o identificava como parte integrante do sistema político capitalista que precarizava cada vez mais suas condições de vida. Naquele momento não somente as centrais sindicais dirigidas pelo PT e pelo PCdoB fizeram de tudo para separar a luta da juventude da luta organizada do movimento operário, como a intelectualidade petista atacou este levantamento de massas chamando-o de “embrião do golpe”, justamente com medo do questionamento ao seu papel de conciliação de classes e subordinação ao imperialismo.

O choque entre as demandas mais sentidas das massas e o programa reformista de salvação capitalista do PT leva a crises como a das jornadas de junho. A subordinação ao imperialismo através do pagamento da dívida pública que é 40% do orçamento público federal e a subordinação aos lucros capitalistas leva a que as próprias concessões do PT tenham sido em base ao trabalho precário e ao crédito “fácil”, mas ligada a manter as condições de saúde, educação, transporte e moradia, ou seja, os serviços básicos da população em níveis cada vez mais precários.

Ou seja, o PT governou com um programa que destinava 40% do orçamento público federal ao capital financeiro internacional, ao mesmo tempo em que buscava manter os lucros capitalistas e a promoção dos grandes monopólios.

Para mascarar este choque, sua intelectualidade dizia que as jornadas de junho ou a qualquer questionamento pela esquerda ao governo do PT que se tratavam das “forças de direita” e enquanto isso retomavam sua prática história colocando para dentro do próprio governo as figuras mais emblemáticas da direita brasileira como Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e tantos outros. Tentavam convencer as massas de que pra manter as melhorias de vida era preciso “entrar no jogo capitalista” e por isso garantir a governabilidade.

Com este discurso abriram alas pra todos os agentes do golpe institucional, o que foi acompanhando de uma crise econômica internacional que mostrou que as concessões do governo petista não era fruto de bondade, mas sim de condições econômicas que permitiram fazer estas concessões mantendo intactos os lucros capitalistas. Quando estes lucros são colocados em risco pela crise econômica, já não era mais possível esta fórmula e os reformistas foram os primeiros a começar a aplicar os planos de ajustes que a burguesia queria pra descarregar a crise sob as costas dos trabalhadores. Não o fizeram de forma integral e nem com o ritmo que os capitalistas gostariam, por isso foi necessário um golpe institucional. Aqui o “alerta” da intelectualidade petista contra a direita se mostrou palavras ao vento: quando a direita de verdade organizou o golpe, foram impotentes para resistir.

Em seu discurso Lula inclusive deixou bastante clara sua confiança no judiciário brasileiro e na Lava Jato, mantendo sua subordinação ao imperialismo. O programa de administração do capitalismo aplicado pelo PT ao longo destes 13 anos e sua estratégia de contenção dos trabalhadores pela via dos sindicatos que dirige é o que construiu a desmoralização nas massas. Quando se aprova a reforma trabalhista do governo golpista de Temer, subproduto da traição das grandes centrais como a CUT e a CTB, esta desmoralização se potencializa. Quando a direita começa a ganhar espaço em setores de massas em torno de figuras como Jair Bolsonaro, esta desmoralização se potencializa e o PT busca canalizá-la na saída eleitoral, para poder mais uma vez conter a luta de classes e reeditar em forma de tragédia estes 13 anos de governo petista. E quando a luta contra a prisão de Lula e pelo direito do povo decidir em quem votar é substituída por mera campanha eleitoral por Lula em 2018, também se aprofunda a desmoralização.

A entrega de Lula à Polícia Federal de Moro é apenas um símbolo deste programa e desta estratégia. As massas não estavam lá. As massas não saíram às ruas pra lutar contra a prisão de Lula e contra todas as reformas. Porque a passividade da CUT é uma estratégia funcional a este programa petista que se subordina à dominação imperialista e negocia nossos direitos para manter os lucros capitalistas.

Se de um ponto de vista é necessária a mais ampla unidade de ação como apontamos aqui pra enfrentar todos os ataques, é ao mesmo tempo lamentável que o PSOL esteja se rendendo justamente a este programa, seja compartilhando palanques eleitorais com Lula como foi este último seja assinando um programa com PT, PCdoB, e até mesmo PDT e PSB para “Reconstruir o Brasil” com os capitalistas.

O correto combate ao golpe institucional, a luta contra a prisão arbitrária de Lula e a ataques da extrema-direita deixa de ter validade se for utilizado para abandonar as fronteiras de classe, o que se expressa em primeiro lugar no programa. As lições do governo do PT, do golpe institucional e da subordinação ao imperialismo deveriam conduzir não a uma unidade a qualquer custo para que a esquerda seja fagocitada pelo PT, mas à necessidade da mais ampla intransigência na defesa de um programa que lute por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo baseado nas organizações de democracia direta das massas.

A prisão arbitrária de Lula, como continuidade e avanço do golpe institucional, serve para criar condições para atacar ainda mais duramente os direitos e condições de vida dos trabalhadores e das massas, e garantir um controle ainda mais direto do imperialismo norte-americano sobre o país. Isso precisa ser respondido não com uma unidade a qualquer custo em discursos e palanques, em que a esquerda seja fagocitada pelo PT, e sim com uma frente única operária (ações de massas por objetivos de combate), com a unidade da classe na ação contra esses avanços do golpismo, a partir da organização de base nos locais de trabalho. Essa é a unidade que cabe à esquerda exigir das centrais como CUT e CTB, dirigidas por PT e PCdoB.

Do contrário terminaremos reféns de um reformismo petista pra salvar o capitalismo que não é nem mesmo “nacionalista-burguês”, mas sim altamente subordinado ao capital financeiro sendo, portanto, incapaz de enfrentar as contradições estruturais do país e resolver as demandas mais sentidas das massas levando a querer impor impotência e desmoralização nas massas frente aos ataques da direita golpista e do capital. O nome que eles vão dar a isso é “mal menor”.

É na perspectiva de combater estas variantes que o MRT, e as agrupações que impulsionamos ao lado de independentes como o Movimento Nossa Classe, o grupo de mulheres Pão e Rosas, a Juventude Faísca e o Quilombo Vermelho, atuamos em cada local de trabalho e estudo para ampliar a influência dos revolucionários no movimento operário e na juventude que possa armados com um programa anti-capitalista, revolucionário e dos trabalhadores batalhar contra todos os ataques do capital buscando unidade de ação das fileiras operárias, enfrentar as burocracias sindicais que impedem a nossa luta, combater as versões “de esquerda” do golpismo mas pra construir uma alternativa que possa superar o PT pela esquerda. O PSTU abandonou esta perspectiva quando apoiou o golpe institucional em 2016, e o PSOL vem cada vez mais se subordinando a um programa que aponta a busca de administrar o capitalismo com uma cara mais “de esquerda”. Chamamos todos os trabalhadores e jovens que concordam com estas ideias a dar esta batalha conosco.

 
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