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LULA E O PT
Sobre o atentado contra a caravana de Lula: como combater a extrema-direita?
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi
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Para isso é necessário em primeiro lugar entender o que está acontecendo: o Brasil está se aproximando do fascismo? Em nossa opinião ainda que existam vários elementos à direita na situação política do país não se trata de fascismo, em seu sentido histórico. É o que tentaremos explicar neste artigo.

Setores de extrema direita tentam intervir na política e no judiciário com seus métodos. Revoltados com a perspectiva de uma reviravolta contra a Lava Jato e que Lula seja liberado pelo STF e que assim tenha maiores condições de se candidatar, decidiram armar um atentado contra a caravana. Os ataques, primeiro com chicotes, depois com ovos e pedras e culminando nesse atentado foram observados pelas polícias estaduais. Os governadores Beto Richa (PSDB-PR), Ivo Sartori (PMDB-RS) e Eduardo Moreira (PMDB-SC) são diretamente responsáveis seja por vontade ou omissão pelo ocorrido.

Estes setores de extrema direita foram incentivados a se expressar livremente dia a dia pela maior associação patronal brasileira, a FIESP, que dava marmita de filé mignon para os manifestantes que ficassem debaixo de seu pato, entre eles aqueles que defendiam “intervenção militar”. Também são incentivados por toda a família golpista que protagonizou o golpe institucional de 2016, bem como Bolsonaro e companhia. Mesmo depois do atentado, a primeira reação de políticos tradicionais da direita como Alckmin e Temer foi de incentivo. A mídia incentivava até pouco tempo atrás as mobilizações e multiplicava as opiniões de Kataguiris e Revoltados Online. Por isso, nós do MRT rechaçamos completamente o atentado e consideramos necessária a mais ampla unidade de ação dos trabalhadores pra enfrentar todos os ataques.

Ao mesmo tempo, dizemos: entender o grave ocorrido para combatê-lo, não pode nos fazer ver uma “ofensiva fascista”, ainda mais uma “ofensiva” dirigida particularmente contra Lula. Esta leitura é funcional a não entender que a audácia destes setores de extrema-direita é inseparável do espaço aberto à direita pelos anos de suas alianças com o PT, da gritante negativa das centrais sindicais em continuar o caminho da mobilização dos trabalhadores contra a continuidade do golpe e as reformas. É também inseparável da falta de uma greve geral que freasse o golpe institucional e as reformas, e até mesmo uma mobilização para garantir o direito das pessoas votarem em quem elas quiserem (incluindo no Lula). Entender como se chegou numa situação de crescente medidas autoritárias (bonapartistas) do judiciário e da audácia desta ação de extrema direita é crucial para combate-la.

Por isso, não será com declarações que se combaterá essas medidas do judiciário e as ações de extrema-direita. Não podemos fechar os olhos para a ofuscante passividade da CUT que mantem os sindicatos do país completamente paralisados frente a tão graves acontecimentos. Rechaçamos cada medida autoritária da Lava Jato, inclusive quando estas se voltam contra o PT, mas mostramos claramente como não será com atos de cunho eleitoral, nem será com nenhuma conciliação com Renan, Eunício e outros golpistas aliados do PT e Lula, que poderemos nos enfrentar com os capitalistas e os golpistas para poder se enfrentar com estes setores de extrema direita.

Polarização social

A primeira reação da Globo foi de tentar ocultar o atentado dando corda a uma suposta ameaça sofrida pelo ministro Fachin do STF, mas no dia seguinte teve que mudar toda sua cobertura. O mesmo aconteceu com políticos burgueses tradicionais que começaram buscando dar maior incentivo ao uso da violência pra dialogar com um eleitorado que eles ajudaram a se fortalecer. Essas primeiras declarações, depois alteradas e refutadas, são expressão dos cálculos políticos na polarização social no país, uma polarização que tem como ponto de maior instabilidade a discussão sobre a liberdade de Lula, o direito da população votar em quem ela quiser, mas toca muito mais fundo: é uma polarização sobre os rumos do país, que também se manifesta na luta de classes, como mostraram os professores municipais e servidores de SP derrotando Dória e sua reforma da previdência.

Depois mudou, Temer, Alckmin e a Globo, falam em “defesa da democracia” que todos eles foram agentes em degradar, dando o ar purulento para que esses grupos ajam. Temem que a polarização social em uma situação que a classe trabalhadora não está derrotada possa criar situações fora do controle e dificultar ainda mais a gestão burguesa da crise política, social e econômica, por isso hoje a ordem de todos editorias é frear a extrema direita para garantir uma melhor gestão dos ataques.

É preciso caracterizar os inimigos pra organizar uma luta efetiva

O fascismo é na definição do marxismo revolucionário a mobilização contra-revolucionária de amplos setores da pequena burguesia, arruinada e desmoralizada por um crise prolongada, que considera que a razão de sua condição material degradante é a luta de classes protagonizadas pelos trabalhadores. Mobilização essa que serve aos interesses do capital imperialista para esmagar e liquidar a vanguarda operária e as organizações de massa do proletariado, mantendo-a num estado de atomização forçada. Por mais repudiável que seja, o atentado contra a caravana de Lula ainda não se trata disso.

Para dar passos neste sentido, os setores de extrema-direita teriam que se organizar para fazer atentados contra as massivas manifestações da greve dos professores de São Paulo, entretanto estes grupos ainda são minoritários pra enfrentar dezenas de milhares de trabalhadores em luta.

Além disso, não há um recurso do grande capital ao fascismo porque não é verdade que para a burguesia esgotaram-se os mecanismos normais para garantir seus interesses. Para isso ela ainda conta com diversos mecanismos judiciários, midiáticos, parlamentares, e até mesmo com a absoluta disposição de Lula, do PT e das grandes centrais sindicais em bloquear qualquer alternativa de independência política dos trabalhadores e o desenvolvimento de suas mobilizações contra os ataques de Temer e dos capitalistas, contra a continuidade do golpe, pelo direito da população votar em quem ela quiser, pelo fim da intervenção federal, para coordenar as greves em curso o que impossibilitaria ações da extrema direita.

A linha do PT, eleitoralista e de conciliação com o judiciário e a direita, é incapaz de enfrentar estes brotos da extrema-direita. Pelo contrário, o PT é responsável pela repressão escandalosa de lutas dos trabalhadores, como fez o governador Fernando Pimentel contra os professores estaduais ora em greve em Minas Gerais.

O que ocorre até o momento é que o desgaste das direções políticas e sindicais é usado pela extrema-direita em um sentido “anti-político” mas ainda não diretamente anti-operário. Não se pode excluir uma evolução neste sentido, e o atentado de ontem é um primeiro alerta. Um alerta que tem que servir para organizar a luta para esmagar a extrema direita, combatendo os capitalistas.

Unidade de ação dos trabalhadores pra enfrentar todos os ataques

A única forma de enfrentar este tipo de atentado, expressão de radicalização da política do golpe institucional em nosso país, é organizando e unificando toda a classe trabalhadora. Para conseguir isso precisamos exigir que as grandes centrais sindicais rompam sua trégua com o governo golpista. Vários setores da esquerda, em especial o PSOL, chamam a conformação de uma frente-única antifascista, entretanto o que vemos são atos com os referentes de cada partido e não uma organização efetiva dos trabalhadores em cada local de trabalho. Ainda que compartilhamos fortemente o rechaço ao atentado, é preciso entender que não será com palavras nem com uma política meramente eleitoral que vamos derrotar o mais repugnante da extrema-direita no Brasil.

Precisamos de um plano de luta efetivo, com assembleias, manifestações, piquetes e greves que se apoiando na força dos trabalhadores, como mostraram os professores de SP, possa colocar de pé uma enorme unidade de ação pra derrotar não somente estes atentados mas toda a política de ajustes do governo golpista, a repressão estatal que sofremos com o assassinato de Marielle e rechaçar o autoritarismo judiciário, defendendo o direito do povo decidir em quem votar. Por isso, enquanto a CUT e a CTB não deixarem a passividade de lado, não adianta que os dirigentes e referentes de seus respectivos partidos “sentem a mesa” pra supostamente “enfrentar o fascismo” ao mesmo tempo que seguem conciliando com os golpistas.

Somente a força da classe operária pode esmagar os ataques da extrema-direita. Neste caminho, no caminho da unidade de ação dos trabalhadores, não podemos misturar nossas bandeiras e nosso programa, por isso batalharemos pela independência política dos trabalhadores lutando por uma alternativa que supere o PT pela esquerda.

 
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