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MARIELLE FRANCO
A ferida do golpe se escancarou
Iuri Tonelo
Recife

Não é de hoje que o Brasil vem manifestando sintomas de sua doença. Mas o capital financeiro e seus agentes políticos armaram um grande teatro para escondê-la. O golpe institucional era um sintoma gritante da enfermidade e a intervenção federal no Rio de Janeiro foi seu último episódio. Dizendo que combatiam a doença, envenenaram mais o país. A febre alta que ao que olha de longe nem sempre era fácil de identificar não pode ser mais contida: abriu-se uma ferida repugnante da doença do capitalismo brasileiro, uma ferida que nem mesmo a grande mídia do país pode esconder: assassinaram da maneira mais bárbara uma militante de esquerda no país, tentaram enterrar com quatro balas na cabeça as ideias que ela defendia.

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Não é de hoje que o Brasil vem manifestando sintomas de sua doença. Mas o capital financeiro e seus agentes políticos armaram um grande teatro para escondê-la. O golpe institucional era um sintoma gritante da enfermidade e a intervenção federal no Rio de Janeiro foi seu último episódio. Dizendo que combatiam a doença, envenenaram mais o país. A febre alta que ao que olha de longe nem sempre era fácil de identificar não pode ser mais contida: abriu-se uma ferida repugnante da doença do capitalismo brasileiro, uma ferida que nem mesmo a grande mídia do país pode esconder: assassinaram da maneira mais bárbara uma militante de esquerda no país, tentaram enterrar com quatro balas na cabeça as ideias que ela defendia.

Marielle, mulher, negra, nascida na Maré e militante de esquerda está em todos os jornais do país, com ampla visibilidade. Por quê?

Certamente não é pelos sentimentos e as lágrimas de crocodilo da Globo, dos políticos golpistas, dos capitalistas do país. O que preocupa a todos é que a ferida aberta escancara de modo incontornável, de modo gráfico, sem adornos, o sentido do golpe institucional que ocorreu no Brasil: que democracia pode ser reivindicada num Estado que está disposto a executar de modo impiedoso uma parlamentar que questionava a violência estatal e lutava pelos direitos humanos?

A ferida aberta escancara mais: um país com uma crise econômica devastadora e uma resposta política miserável do grande capital: estraçalhando os empregos, sufocando os serviços públicos, rasgando leis trabalhistas, roubando salários de servidores que ficam “atrasados”, oferecendo mais fome, miséria, moradores de rua, em suma, o eterno retorno neoliberal, agora em sua faceta mais bárbara de um capitalismo internacional no seu décimo ano de crise. Os países semicoloniais pagam de modo mais duro a conta da doença capitalista internacional.

O que restou do Estado? A tomar o exemplo do Rio de Janeiro como grande “laboratório nacional”, conseguiram no capitalismo brasileiro tirar todo o significado demagógico de “vontade geral” e restou apenas a sua faceta mais anti-operária: a repressão policial generalizada, a alocação do exército para aumentar as tropas contra a massa trabalhadora e a juventude, a burocracia estatal, sindical, a casta política – cada vez mais odiada pela massa. Até mesmo o direito ao voto vem sendo questionado, primeiro com o impeachment e agora com a arbitrariedade da Lava Jato querendo decidir as eleições a partir de medidas estatais.

Os únicos que podem reivindicar algum direito são os setores da burocracia estatal, um quadro gráfico da desigualdade: enquanto de um lado atrasam salários de servidores e querem fazer engolir goela abaixo a reforma da previdência, juízes paladinos do golpe reclamam que cortaram seu auxílio moradia de mais de 4 mil reais e se comparam ao trabalho escravo (!).

Mas a ferida aberta também expõe as contradições do capitalismo e o sistema político brasileiro, e nesse sentido começam a lançar no tabuleiro nacional o proletariado e a juventude, como atores fundamentais para dar uma resposta a essa situação. A luta de classes ameaça também se escancarar, como resposta à crise. Centenas de milhares foram as ruas na Cinelândia e na Paulista. Jovens Millennials, negros da periferia, gente sem tradição política, encarnou a dor da morte de Marielle como sua, lembravam o nome de Amarildo, também assassinado pela violência policial...aos que tiveram nos atos, uma atmosfera de junho não deixava de ser percebida. Aos que viam os jornais da grande mídia, um certo gosto amargo na boca dos jornalistas não deixava de ser percebido.

Professores em manifestação massivíssima, parando quase 100% das escolas em SP, se enfrentado de modo combativo a reforma da previdência de Dória, depois de um dia inteiro de sol, tiveram força para marchar até as oito da noite e somar seus cantos aos gritos de guerra da Paulista contra o assassinato de Marielle. Um símbolo emblemático daquilo que pode fazer o sistema tremer.

“Negro Drama, cabelo crespo, a pele escura, a ferida, a chaga, a procura da cura”... dizia o RAP nacional no começo dos 2000. O negro drama das periferias, saiu da Maré, invadiu a política, chocou-se contra a doença golpista brasileira. Nessa quinta-feira virou o canto na boca de centenas de milhares de jovens e trabalhadores em diversos lugares do país.

As consequências na situação nacional podem ter grande alcance. A direção do vento momentaneamente mudou radicalmente contra a vela do golpe....e a luta de classes é a tempestade que pode derrubar esse navio desgovernado comandado pelos reacionários e capitalistas desse país. Com a raiva, com nossos corpos, organizando as vozes nossas que não calarão em cada local de trabalho e estudo que podemos ajudar a que esse potencial vendaval se realize.

A casta política então terá de lidar no próximo período com duas palavras que os relembrarão que não conseguiram governar o país como queriam, duas palavras que expressaram essa ferida aberta na sociedade brasileira: Marielle, presente!

 
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