Poema escrito por Tayla Fernandes, poetisa do grupo Ashanti e organizadora do "Slam do Corre" e do MAP - Movimento Aliança da Praça, em São Miguel Paulista, sobre a morte de negros no Brasil e nos EUA na ocasião da morte de um negro morador de rua pela policia de Los Angeles.

Publicado no site Palavra Operária em Março de 2015

Qualquer semelhança entre Brasil e Estados Unidos é mera coincidência!
Qualquer semelhança entre São Paulo e Los Angeles é mera coincidência!
Qualquer semelhança entre SkidRow e a Cracolândia é mera coincidência?!
África
Cláudia Silva Ferreira
Mike Brown
Amarildo Dias de Souza
Eric Garner...
E a pergunta que não cala:
Por que o senhor atirou em mim?!
...
Seis policiais, seis armas de fogo, seis cassetetes, um aparelho repressor e uma vítima
Desarmada, desabrigada, condenada pelos senhores da lei e sua farda
À mercê do estado, morto por desacato
Mas será que foi desacato, se defender de maus tratos?!
Negro, morador de rua, de África lhe chamavam
E por isso lhe mataram
Mas quem se importa, não é mesmo?!
Era apenas mais um peso
Um pobre, negro, imundo, que ao país não dava nenhum lucro
Então não faz diferença se “limpar” a cidade ou o mundo
E assim fizeram, e assim fazem, todos os dias a mesma repressão
Militar ou não a polícia mata sem perdão
África foi mais um invisível que desobedeceu
Ao se tornar visível, correu
E esse foi seu crime, suficiente para ser atacado
Depois de já estar dominado
No chão, sem chance de defesa
Cinco tiros dados com frieza
E lá se foi mais um ser humano
Vitima do sistema desumanizado
Pelo estado e seus monstros fardados.