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INTERVENÇÃO RIO DE JANEIRO
General Villas Boas quer liberdade para matar no RJ e teme uma nova Comissão da Verdade
Letícia Parks

A horrenda declaração do comandante do exército, general Eduardo Villas Boas, durante uma reunião sobre a atual intervenção no Rio de Janeiro, trouxe de volta o tema da ditadura, em sua exigência a que os militares e policiais recebam garantias de que não serão perseguidos por uma nova Comissão da Verdade. Mas qual foi o papel da Comissão da Verdade e o que a declaração dele dizem da pretensa "ditabranda" de nosso país?

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A horrenda declaração do comandante do exército, general Eduardo Villas Boas, durante uma reunião sobre a atual intervenção no Rio de Janeiro, trouxe de volta o tema da comissão da Verdade, que funcionou no Brasil apenas entre os anos de 2012 e 2014, e que tinha como tarefa recuperar a verdade sobre os crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura militar.

Villas Bôas afirmou que os policiais precisam de “garantias” para que não enfrentem “uma nova Comissão da Verdade”. O que tanto Villas Bôas como todos os golpistas querem é acesso livre à repressão, para massacrar qualquer tipo de resistência política, cultural ou mesmo sindical que possa surgir em uma massa que têm visto todos os seus direitos serem arrancados.

Villas Bôas está longe temer uma nova Comissão da Verdade. A experiência anterior provou que não há interesse de qualquer setor do poder de factualmente punir os criminosos da ditadura e proporcionar justiça a todos os que perderam seus pais, mães, irmãos e irmãs, filhos e filhas. A busca pela verdade, sob o regime de Dilma Roussef, prometeu que não colocaria ninguém na prisão, não tiraria os bens de ninguém ou sequer exporia nomes que hoje seguem em sigilo porque, inclusive, não permitiria a abertura e publicização de todos os documentos escondidos pelo regime militar.

É isso mesmo. Algumas pessoas talvez vejam seus torturadores cotidianamente andando pelas ruas, atendendo em suas clínicas, vivendo suas vidas normalmente, sem jamais poder denunciá-los ou sem ter qualquer prova da dor e humilhação a que foram submetidos. Exatamente como mães e pais, esposas e filhos de jovens assassinados pela polícia são obrigados a conviver em seus bairros com os autores desses crimes, os policiais que livremente, matam quem quiserem.
Um dos maiores méritos da Comissão da Verdade, entretanto, foi justamente o de começar desfazer o mito da “ditabranda”, mas um dos primeiros grandes momentos da verdade vem antes da própria comissão. Foi a descoberta da vala de Perus.

A vala de Perus e a decadência do mito da “ditabranda”

A vala foi encontrada em 1990, no local onde está o Cemitério Dom Bosco, em Perus e de lá foram retirados e exumados mais de 1000 ossadas em sacos plásticos. A suspeita é de que seja de mortos do início dos anos 70, fase mais violenta da repressão.

O tema voltou em debate em primeiro lugar pela identificação de Dimas Antônio Casemiro como um dos mortos enterrados clandestinamente ali. A identificação ocorreu a partir de análises em um laboratório na Bósnia e se conclui em fevereiro deste ano. O assassinato de Dimas foi oficialmente declarado por tiroteio, mas já se sabe que na verdade, morreu por resultado de dois dias de tortura.

A história de Dimas é provavelmente muito parecida com a de muitas das pessoas que hoje são ossos não identificados da vala de Perus, além de outras verdades ocultadas ao longo de tantos anos de proteção e defesa dos ditadores. Uma delas é a já comprovada práticas dos “vôos da morte”, viagens de avião que eram feitas saindo da Base da Aeronáutica, situada ao lado do aeroporto do Galeão, sob o comando do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier. Esses vôos carregavam aviões militares de dezenas a centenas de presos políticos, sob efeito de drogas e tranquilizantes, e os lançava ao mar, onde morriam sem qualquer rastro de sua localização. Essa era uma das mais cruéis ações da chama Operação Condor, a multinacional do terror que distribuía cartilhas de tortura e métodos de extermínio como esses por toda a América Latina.

Entretanto, boa parte das informações dadas pelos livros de história, se baseia nos dados oficiais que o próprio estado de exceção forneceu. Pouco mais de 400 mortos e desaparecidos, é o que eles diziam e insistem em afirmar, utilizando para isso os laudos pós mortem e os papéis das famílias que deram queixa do desaparecimento e que sobreviveram para dar nome aos seus filhos, pais, mães ou irmãos.

Contradizer esse argumento poderia ser simples se os próprios agentes desse estado de exceção – de autores e mandantes de assassinatos e torturas até políticos, banqueiros e empresários beneficiados pela ditadura – não tivessem permanecido no poder. A transição democrática, que se arrastou durante 1986 – 1992, foi uma operação política que entregou de bandeja a manutenção de cargos e direitos políticos a toda essa corja.

Assim como o mito da “ditabranda” sobreviveu, sobrevivem também os métodos empregados pela ditadura no uso da força repressiva contra as massas pobres e negras em nosso país, como podemos ver nas cenas horripilantes da ocupação militar dos morros do RJ, na recente intervenção comandada pelo golpista Michel Temer. Tanto ontem como hoje, esses métodos são parte das ferramentas utilizadas para criar silêncio onde cresce a revolta, depois de tantos direitos arrancados e fruto de um cotidiano onde a população a cada dia se vê mais miserável e com a vida mais e mais precarizada.

É por isso que a luta pela verdade, mas também pela justiça, junto à luta pela anulação de todas as reformas antipopulares de Temer, são parte das ações que devem ser levadas adiante por cada sindicato ou partido de esquerda verdadeiramente interessado no fim da opressão, da repressão e das fórmulas vivas da ditadura contra os trabalhadores.

 
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