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8M - UNICAMP
8M: as futuras professoras podem defender a educação e sua emancipação com a força das mulheres
Úrsula Noronha
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Foto: MAMANA

Na sociedade capitalista na qual vivemos dizem que nós, mulheres, temos que ser "belas, recatadas e do lar", temos que nos contentar com o mínimo dos nossos direitos, temos que engolir os assédios e feminicídios com os quais o Estado é conivente. Resistimos todos os dias a cantadas, estupros, mortes, piadas. Andamos com medo dos nossos próprios passos nas ruas, muitas vezes evitamos andar em becos vazios, em horários não movimentados, com roupas que cubram todo o corpo, mas, no fundo, sabemos que nada disso pode nos dar garantia de não sermos assediadas. O medo faz parte de nossas vidas.

No Brasil, ocupamos cerca de 44% das vagas do mercado formal de trabalho, segundo o IBGE. Ainda assim, ganhamos menos do que os homens (mulheres negras, então, chegam a ter uma diferença de 60%). Na educação, a cada 10 estudantes de pedagogia, 9 são mulheres, futuras professoras, um batalhão que serve à educação de milhares de pessoas. Somos parte essencial para a manutenção da sociedade, mas não somos nem respeitadas ou reconhecidas, pelo contrário: sofremos inúmeros ataques do governo nas nossas vidas pessoais e no trabalho.

Desde o governo do PT já estávamos enfrentando diversos ataques. A terceirização, por exemplo, que tem majoritariamente trabalhadoras mulheres, triplicou durante os governos Dilma e Lula. Depois do golpe, porém, esses ataques foram absurdamente aprofundados. Foi aprovada a Reforma Trabalhista, que permite até que grávidas trabalhem em ambientes insalubres, colocando a vida da mãe e do bebê em risco. A arte foi censurada, como aconteceu com o Queermuseu em 2017, afetando nosso direito à cultura. Atualmente, Temer aprovou uma intervenção federal no Rio de Janeiro com caráter totalmente repressor, generalizando ataques a direitos civis, exigindo "fixações obrigatórias" e "mandatos de busca coletivos" que afeta de forma direta e profunda a vida das mulheres que ali vivem, principalmente as mulheres negras.

Na educação, os gastos foram congelados, o que impede termos condições melhores de ensino, não dá espaço para aprimoramento da estrutura escolar, para fornecimento de material, merenda digna, entre outras coisas. Tivemos a reforma do ensino médio, o escola sem partido que tentaram aprovar na câmara de Campinas que impede qualquer discussão de gênero e de sexualidade nas escolas e a reforma curricular, diversos ataques que vêm para precarizar ainda mais a educação e silenciar os debates nas instituições de ensino.

Enquanto futura professora e estudante de pedagogia, um curso majoritariamente feminino, entendo o potencial que a sala de aula pode ter para a transformação da sociedade. Para isso, no entanto, sei que temos que ser livres para poder discutir os temas mais críticos, para desenvolver a educação assim como ela é: em todos os campos da vida, e não puramente nos livros, de forma tecnicista e separada. Precisamos ter liberdade para discutir o direito ao aborto legal, seguro e gratuito nas aulas, para discutir a necessidade de um Plano de emergência contra a violência à mulher e para discutir como devemos exigir que as tropas saiam já do Rio de Janeiro. Precisamos ter o direito de debater com os nossos alunos como os ataques do governo são arbitrários, como não afetam os ricos, os grandes empresários. Precisamos poder levar discussões que nos façam pensar como podemos abolir todas as opressões, e não apenas nos contentar com não morrer.

Precisamos revolucionar a educação, para que ela não nos dê restrições para pensar como queremos transformar totalmente nossa sociedade, mas essa luta não se dá somente na sala de aula. Ela se encontra, principalmente, nas ruas, nas fábricas, ao lado de todas e todos que sustentam essa sociedade que nos explora. Nesse 8 de março, devemos lutar para defender a educação com a força das mulheres, nos juntar e dar todo nosso apoio à greve dos professores de São Paulo.

Nos apoiando nos exemplos de lutas que já tivemos, devemos nos lembrar que foram as bolcheviques que semearam a Revolução Russa, maior exemplo da emancipação feminina que a história já teve, e que desencadeou uma campanha de alfabetização que nenhum país capitalista realizou até hoje. Devemos nos lembrar do 8 de março de 2017, no qual dezenas de milhares de mulheres paralisaram seus trabalhos em todo o mundo, tremeram a terra e mostraram a força que têm.

Não podemos nos esquecer, também, de todas aquelas que são espancadas por causa de uma curtida no Facebook. Maria de Fátima, que saiu para caminhar em Campinas, foi estuprada e morta a facadas. Isamara. Alexandra de Oliveira, que morreu por uma emboscada armada pelo marido. Larissa, mulher trans de 25 anos, que morreu a pauladas. Daiane Reis Mota, 25 anos, assassinada pelo marido dois dias antes do parto. Remís Carla, que era estudante de pedagogia da UFPE e foi assassinada pelo ex-namorado.

Por todas elas e por nós, não podemos nos silenciar, precisamos exigir que esses debates possam ser presentes nas escolas, entendendo que essa luta é política e se dá, também, na luta contra o Golpe e sua continuação, pois eles aprofundaram seus ataques a nós, mulheres, e à educação. Precisamos, mais do que nunca, ir contra esse governo que diz que não somos capazes, esse governo que é contra o aborto e "a favor da vida", mas que aprova uma reforma trabalhista que permite mulheres trabalharem em locais insalubres, e ainda impede as discussões nas salas de aula.

Convidamos todos, principalmente as mulheres, a comparecer no debate impulsionado pelo Pão e Rosas que vai acontecer nesta quinta-feira, no dia 8 de março, no gramado da Faculdade de Educação da Unicamp, as 12h30, para discutir como podemos nos posicionar nesse dia de luta, pela verdadeira emancipação das mulheres.

 
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